O FIM DE UM IMPÉRIO? Manuel Begonha | Presidente da Assembleia Geral

 O FIM DE UM IMPÉRIO?
Manuel Begonha | Presidente da Assembleia Geral

 

 

Os impérios mais duradouros, foram geralmente construídos pela conquista através da força militar, a atemorização e a imposição do domínio económico, da cultura, da religião, do edifício jurídico e da língua.
Seguiu-se a exploração dos recursos humanos, naturais e geográficos.
Muitas vezes implicou a construção de património construído, militar, religioso e urbano.
Desde o Império Romano e mais recentemente através do Império Britânico, Espanhol e Português, a língua foi um dos principais veículos desta subjugação.
Os impérios coloniais na sua formulação clássica, acabaram com a descolonização portuguesa último país europeu a levá-la a cabo.
No entanto Portugal, terá sido dos únicos países que durante o período do seu império, para além das usuais práticas de violações e saques, se relacionou com os povos indígenas, naquilo que se veio a designar por miscenização.
Não deixa de ser portanto relevante que o inglês seja práticamente uma língua universal, e que países relativamente pequenos como Portugal e Espanha, tenham a respectiva língua falada em todos os continentes à excepção da Oceânia.

Actualmente, o paradigma imperial são os EUA que surgiu após o colapso do Império Britânico.
O domínio é exercido em princípios adaptados à era moderna.
Baseia-se na supremacia militar, económica, tecnológica e cultural.
No que se refere à supremacia militar o professor David Vine, docente de antropologia da American University, Washington DC, estima que conhecidas, os EUA possuam 740 bases militares fora do seu território.
Na Alemanha 118, no Japão 119 e na Itália 44.
Para além do fornecimento de material de guerra, formação do pessoal e serviços de informação, comando e controlo.
Recorrem ainda ao mais diverso tipo de organizações que asseguram o domínio económico, político e tecnológico, sendo exemplos bem conhecidos a ONU, o FMI, a NATO, a CIA para controlo dos governos, e a gestora de activos transnacionais Black Rock.
Caso necessário têm recorrido à ocupação militar, sanções ou bloqueios.
Através destes meios, os EUA canalizaram para si uma parcela desproporcional da riqueza mundial. Impuseram uma série de acordos sobre a maioria das outras nações que garantiram que a maior parte do comércio internacional utilizariam o dólar como moeda de troca.
Mas apesar de tudo isto, o mundo está em acentuada mudança.

Muitos países têm escapado à órbita da unipolaridade e o dólar vai perdendo influência.
A partição dos EUA no comércio mundial, de acordo com projecções do FMI caiu de 21.5% em 1990 para 15.4% em 2022.
Segundo John Michael Greer, a dívida federal dos EUA cresce 2 triliões de dólares anuais, já atingindo hoje um total de 31.7 triliões de dólares.
Desta forma, o limite da dívida externa norte americana está novamente à beira de ser excedido.
Decorrem negociações entre os democratas e os republicanos para mais uma vez aumentar este limite, prática já efectuada dezenas de vezes, o que terá de provocar a alteração do programa económico de Biden. 
Seria extraordinariamente grave para a economia global se os EUA entrassem em "default", isto é, a incapacidade de honrar os compromissos da dívida e a impossibilidade de imprimir mais dinheiro em moeda nacional. 
Os seus maiores credores são de longe a China, seguida da Inglaterra, Holanda e Suíça. 

Mas neste âmbito voltando ao título deste texto, é necessário um aviso àqueles que precipitadamente celebram a próxima queda do Império norte-americano. 
Este dispõe ainda de enormes recursos estratégicos em várias áreas quer industriais, intelectuais, minerais, militares e acima de tudo resiliência. 
Embora seja previsível que passem por uma enorme turbulência, poderão ser capazes de retardar uma eventual queda se reequiparem a economia para produzir riqueza na forma de bens reais e serviços não financeiros e assim combater a desindustrialização, a precarização do trabalho, o desemprego e a inflação. 
E não de somenos importância, têm a língua inglesa que impera nas tecnologias, na informação, nas relações entre os povos, nos meios de comunicação, no cinema e na cultura. 
E é este património que o próximo possível império emergente que é a China, está muito longe de ter.