Intervenção do Major-General Jorge Aires em 3 de Maio por ocasião das comemorações do 102º aniversário do nascimento do Gen. Vasco Gonçalves

 Intervenção do Major-General Jorge Aires


Passam hoje 102 anos do nascimento desse Homem que, na sua circunstância, quis dedicar-se integralmente e integramente ao Povo de onde emergira.


Ao Gen Vasco Gonçalves muito se fica a dever da ação de destruição do estado fascista. Muitos para isso contribuíram e a isso ele soube e foi capaz de dar alento, impulsionamento e direção.

As vicissitudes da Revolução, a incapacidade de entendimento entre aliados naturais, a arte das forças contra revolucionárias, a falta de discernimento de muitos democratas que cederam e ali encontraram aliados de circunstância e a pro ativa cedência às teses da soberania partilhada como soberania reforçada, conduziram à encruzilhada com que o Portugal de hoje está confrontado.

Decorridos quase 50 anos depois do anúncio do Programa do MFA e os seus 3 D, comemorado a 2 de abril mais um aniversário da Constituição da República, respaldo essencial à nossa vida como País independente, há que reconhecer termos vivido desde novembro de 75, um processo de adulteração e destruição do que o MFA possibilitou e a Constituição consagrou e, apesar de amputada, consagra.

Como o Gen Vasco Gonçalves assinalou, ele foi um homem do MFA e como tal merece e deve ser recordado.
Pugnador da aliança Povo-MFA como motor da revolução, confluímos no processo da institucionalização do regime democrático vendo aprovada uma Constituição da República que no seu Artigo 275º prescreve que as "Forças
Armadas obedecem aos órgãos de soberania competentes, nos termos da Constituição e da Lei."; para logo de seguida acrescentar que "As Forças Armadas estão ao serviço do povo" (...).
A explicitação constante da Constituição sobre a quem servem as nossas Forças Armadas é suficientemente clara para se poder afirmar estarmos perante uma dimensão do Estado que não está ao serviço deste ou daquele modelo de organização sócio económica, mas está ao serviço do nosso Povo. Também aqui e sob este prisma se pode reconhecer em certa medida a consagração na Constituição do que visava a Aliança Povo-MFA.

Nesta data de aniversário do nascimento do Gen Vasco Gonçalves temos entre mãos um Projeto que abraçamos com denodo - inaugurar, em Lisboa, na Alameda que tem o nome do fundador da nossa nacionalidade, o monumento ao maior obreiro dessa Aliança o General Vasco dos Santos
Gonçalves, o Companheiro Vasco.
Trata-se de um Projeto que, como já foi dito, Lisboa merece e  Portugal engrandece.
Com os pés ancorados em terra firme importa termos uma visão e um referencial de ação para a concretização do Projeto que se apoiem numa análise avisada do caminho a desbravar, dos obstáculos que se colocarão (cujo universo não se esgota nos que já estão identificados) e dos
ensinamentos a colher de outras situações ocorridas.
Comecemos por estas últimas.
Recordam-se do número de anos e peripécias com que a Associação 25 de Abril foi confrontada depois de expulsa do Forte do Bom Sucesso até conseguir a sua sede em Lisboa?
Entre a saída do Forte do Bom Sucesso e a inauguração da sede atual terá passado mais de uma década. Por contraste, refira-se a atribuição da Casa dos Bicos à Fundação José Saramago. Neste último caso havia que capitalizar politicamente no sucesso que foi a atribuição ao Autor do Prémio Nobel e isso pode explicar como as coisas se passaram.
Se o processo associado à sede da Associação 25 de Abril nos pode ensinar que 10 anos foi muito tempo, acresce que, atentas as diferenças entre as motivações políticas que ambas as decisões de concessão podem refletir (o da sede da Associação e o do Monumento ao Gen Vasco Gonçalves), justifica-se que só possamos esperar dificuldades acrescidas.
Temos assim o emergir de uma visão e referencial de ação ancorado nas seguintes ideias mestras:

  • Uma intervenção cívica por tempo de duração indeterminada mas longo;
  • Um caminho a percorrer que se fará caminhando, e uma equação de recursos a resolver.

Quando falo em recursos impõe-se aprofundar.

Perante um Projeto, as boas práticas aconselham uma análise à exequibilidade de objetivos. No caso em apreço a dimensão do Homem e o reconhecimento do que foi o seu contributo para a História contemporânea de Portugal, por mais escassos que os recursos se apresentem, impõe-se
apelar à Vontade e Querer de todos nós para superar a, sempre presente, escassez de recursos. E a nossa Vontade é de não desistir. Contudo, importa ter presente a imprescindibilidade de construir uma Torrente Social de
apoios e iniciativas que progressivamente confrontem a Autarquia de Lisboa com a insensatez e desconsideração da História que a sua postura neste Projeto consubstancia.

A prioridade para a congregação de recursos vai para a construção dessa Torrente Social que há-de ser o desaguar de múltiplas iniciativas concorrentes para a finalidade pretendida, inaugurar o Monumento em Lisboa na Alameda, local para onde foi projetada pelo ilustre Arquiteto Siza
Vieira.
E é esta a temática que na nossa discussão merece prioridade e que a ela dediquemos a nossa imaginação, para construirmos uma fita de tempo de iniciativas que materializem a Torrente referenciada.
Justifica-se relembrar o que aqui já foi referido em conversas anteriores, projetar iniciativas nas mais importantes cidades do País em torno do Projeto. Essas iniciativas e os seus resultados ajudarão a contrastar o apoio que o Projeto recebe, com a falta de apoio que a autarquia de Lisboa tem evidenciado.

Parabéns à ACR e à Comissão de Honra que até aqui nos trouxe.
Saibamos, todos, dar-lhe continuidade e concretização.
Disse.