Comemorações do 212 aniversário da independência da Venezuela
A associação esteve presente nas comemorações do 212º aniversário da independência da Venezuela representada pela vogal da direcção Beatriz Nunes
UMA VIAGEM AO BRASIL Manuel Begonha | Presidente da Assembleia Geral
UMA VIAGEM AO BRASIL
Manuel Begonha | Presidente da Assembleia Geral
Esta viagem oferecida a um irmão meu, revestia-se de características especiais, o que nos permitiu visitar locais não percorridos pelos circuitos turísticos e também por ter sido mais demorada que o normal.
No período em que decorreu, estava em vigor o chamado " plano cruzado", constituído por um conjunto de medidas económicas, lançado pelo Presidente José Sarnay, que congelou os preços, com o fim de reduzir a inflação mas com o passar do tempo não se mostrou sustentável porque as mercadorias escassearam. Esta situação provocou o esgotamento das reservas cambiais e a economia colapsou.
Mas enquanto durou os preços eram muito baixos, tornando-se muito vantajosos, para portadores de divisas como o dólar ou o escudo.
Nestas circunstâncias, tendo nós começado a viagem pelo Rio de Janeiro que é de facto uma cidade maravilhosa no que ao aspecto paisagístico diz respeito, uma vez que visitámos os locais mais emblemáticos e outros como algumas favelas de que no fim falarei.
Foi a única viagem que recordo, na qual me senti rico à custa do escudo.
Por um preço inimaginável fomos a vários espectáculos e restaurantes, dos quais recordo um no Scala, com a Simone brasileira, incluindo jantar.
O que tornava esta cidade menos atractiva era a insegurança em que se vivia.
Ao longo do Calçadão existiam torres de vigilância policial.
Curiosamente não se viam na rua pessoas do tipo classe média.
Reinava o que vulgarmente se designa por " Povão".
Verificámos posteriormente que a classe social mais endinheirada, vivia em condomínios fechados, gradeados, com guardas muitas vezes
armados, de onde saía de automóvel para ir aos seus destinos e assim voltavam.
Para evitar ser roubado, resolvi distribuir o dinheiro que levava, recordo que ainda não havia multibanco, por três partes. A mais significativa, no cofre da recepção do hotel e não no do quarto. Tinha comprado uma bolsa púbica, na qual guardava outra parte para as compras e despesas do dia. Esta, vista de certos ângulos devia dar-me um aspecto insólito pelo seu volume e também por vezes, me causou embaraços para arranjar uma posição decente para retirar as notas. Mas na verdade foi eficaz.
E finalmente uma carteira de bolso com pouco dinheiro que era para não ofender o ladrão em caso de assalto.
A Baía é uma cidade muito interessante, intensa e colorida, exibindo em muitas ruas, janelas, Praças e igrejas um exuberante passado colonial.
Visitámos entre outros locais, o Mercado Artesanal que pelos seus contrastes e evocações históricas é imperdível.
Deslacamo-nos de escuna à Ilha de Itaparica que possui uma excelente praia e um casario típico, já utilizado em cenários de algumas telenovelas.
Conhecemos o Ubirajara, um miúdo com os seus oito anos que nos conseguiu, junto a uma igreja, vender as características pulseiras, devido à sua invulgar empatia, esperteza, teimosia, revelando ser um impressionante exemplo de um lutador pela sobrevivência.
No entanto, a insegurança perdurava. Certa noite, quando pretendíamos sair do hotel para um passeio a pé, o porteiro olhou para nós como se fossemos de outro planeta e desaconselhou vivamente tal aventura.
Mais tarde verifiquei que quando se pretendia sair para jantar fora, o hotel chamava um táxi de sua confiança que nos iria também buscar para o regresso.
Perante tal desilusão, reentramos no hotel e por acaso espreitei para a sala de jantar.
Tinha um expositor piramidal com uma indiscritivel variedade dos maravilhosos doces baianos.
Para um guloso inveterado como eu, foi um convite irrecusável.
A família quindim e todos os seus parentes, foram devidamente apreciados e não sei se ainda hoje, ando a pagar tal excesso, quando por vezes os valores da glicémia aparecem altos.
Mas a Baía vingou-se.
Conseguiram roubar a carteira do meu irmão no Elevador Lacerda.
Olinda é uma jóia de um passado colonial muito bem conservada o que a todos engrandece.
O seu património construído é notável.
Recife era na época uma cidade em renovação.
Como seria de esperar, tem boas praias e algumas construções relevantes como a antiga prisão, transformada em museu.
O meu irmão tinha lá um amigo, negociante de várias coisas e também de arte, cuja enorme moradia, toda murada, era permanentemente vigiada por guardas armados.
Emprestou-nos o seu carro com motorista, também armado, no qual nos fomos á oficina de cerâmica de Francisco Brennan, em plena selva, émulo brasileiro de Henry Moore e Fernando Botero.
Teve a gentileza de me oferecer um azulejo.
Manaus pelos seus contrastes, é uma cidade que parece diferente de todas as outras.
Fomos aconselhados para não deixar de provar um peixe de rio chamado pirarucu.
Mal chegámos fomos de táxi a um restaurante longínquo à beira do rio Negro, famoso pela qualidade deste peixe.
O pior, é que daí em diante em todo o lado nos serviam esta especialidade, até no voo de regresso ao Rio de Janeiro.
Um dos locais mais exóticos da cidade é o antigo mercado.
Lá estão todas as espécies amazónicas, desde cabeças de macaco, répteis, mamíferos, aves, frutos e legumes variados, até às mais diversas espécies de roedores, insectos e peixes entre os quais o famoso pirarucu que é enorme, podendo ultrapassar os dois metros de comprimento.
Só vi algo semelhante no Oriente, especialmente na Índia.
Também é de realçar o Teatro Amazonas, inaugurado em 1896, de estilo renascentista, com uma cúpula única, símbolo maior da cidade que foi designada a " Paris dos Trópicos".
Representa o respectivo apogeu devido ao ciclo da borracha, tão bem descrito por Ferreira de Castro no seu livro " A Selva".
Nele se realiza a festival Amazonas de Ópera desde 1997.
Contudo, o ponto alto desta estadia terá sido a subida do rio Amazonas, designado desde a nascente por Solimões.
É famoso o encontro das águas entre o rio Negro e o Solimões, a partir do qual o rio recebe o nome de Amazonas até à foz, fenómeno a que assistimos.
Continuamos a subir o Solimões, ora de navio, ora de piroga, através da floresta onde vimos povos indígenas, com as suas exibições de giboias ao pescoço, macaco, aves belíssimas, a gigantesca flor Vitória - Régia, para além de termos comido alguns alimentos difíceis de descrever, porque felizmente não cheguei a saber o que eram.
A certa altura uma senhora que na piroga ia cheia de medo dos jacarés que nunca vimos, resolveu com o seu olhar assustado, chamar hipopótamos, certamente amazónicos, às capivaras que pacificamente se banhavam.
De regresso ao Rio de Janeiro, ainda visitámos uma das favelas que o rodeiam.
Imaginei então que se toda aquela gente que vive muitas vezes em condições sub-humanas, descesse e invadisse a cidade, não seria uma forma de combater a desigualdade.
Pus a questão aos meus acompanhantes locais.
Disseram "O povo não é revolucionário. Acomoda-se"
Na verdade, parte do povo elegeu Bolsonaro, mas também recentemente na sua maioria foi capaz de eleger Lula, um Presidente que tem pugnado pela igualdade, justiça, soberanía nacional e também pela Paz no Mundo.