50 anos depois, o
povo continua a sair à rua para mostrar que Abril é atual e necessário. Pois
enquanto houver injustiças é em Abril que encontraremos as respostas para
enfrentá-las.
Isto vai meus amigos,
isto vai! Olhem à vossa volta: os muitos sotaques e línguas diferentes que ouvimos
aqui hoje nesta manifestação deixa muito claro os quantos que procuram Abril no
seu futuro. Abril interessa a todo o povo, aos portugueses, aos imigrantes, a
todos que estudam, trabalham e vivem em Portugal. Assim como interessou aos povos
Angolano, Moçambicano, Guineense,
Cabo-verdiano, São-tomense, que foram também construtores de Abril quando se
levantaram contra um regime colonialista, caduco e opressor, quando se
levantaram contra o fascismo.
Abril une a todos
nós. As forças da extrema-direita dizem que não. E dizem que não pois lhes interessa.
Aquele braço
direito com tiques do passado, é o mesmo que ao final do dia aperta a mão dos
senhores do dinheiro, a quem interessa que estejamos divididos. Que o português, o
brasileiro, o angolano, o indiano, não percebam que aquele autocarro que
apanham juntos para encher o bolso do patrão os une, mais do que os divide.
Daqui dizemos, somos todos Portugal, pelo Portugal de Abril!
O fim das propinas
interessa a todos nós, aos portugueses que continuam a não ter a educação gratuita
prevista na Constituição e têm de pagar propinas, taxas e emolumentos, mas
também a nós imigrantes que pagamos propinas que por vezes chegam a ultrapassar
os 7 mil euros por ano.
Interessa a todos nós
uma escola pública de qualidade, com mais professores, mais
funcionários e mais
condições, tanto àqueles que vão desde pequenos a uma escola
com amianto, com o
teto a cair, com infiltrações, quanto àqueles pais e mães
imigrantes que
chegaram agora e vão de escola em escola tentando matricular seus
filhos, mas não
conseguem por não haver vagas.
Interessa a todos nós
que se cumpra o direito à habitação. Aos que se veem cada vez
mais afastados dos
lugares onde nasceram, empurrados para fora das suas cidades
pelos hotéis, pelo
alojamento local, pelas habitações de luxo, pela especulação
imobiliária, quanto
àqueles que chegam agora e se deparam com rendas
incomportáveis,
incompatíveis com os salários, e são empurrados para casas
sobrelotadas,
forçados pela sua situação socioeconômica a partilhar a casa, ou a
partilhar o quarto,
ou mesmo a ir morar na rua. E quando o valor da renda não é um
impeditivo, o tom da
pele ou o sotaque estrangeiro é. “Não arrendamos a brasileiros”,
escutaram muitos dos
que vieram para cá.
Interessa a todos nós
o aumento dos salários e o fim da precariedade. E há quem diga
que a entrada de
imigrantes faz os salários baixarem e as condições de trabalho
piorarem. Mas não
foram os trabalhadores imigrantes que criaram a precariedade, afinal ela já existia antes
de virmos para cá. Quem a cria é quem com ela lucra. Diante dessa realidade só há uma
resposta possível: é preciso que todos os trabalhadores, portugueses ou
imigrantes, tenham um vínculo de trabalho efetivo, tenham o direito ao trabalho com
direitos. É só com uma legislação laboral justa, com mais meios e recursos, e, acima de
tudo, com trabalhadores organizados e com força que se travará o projeto daqueles
que lucram com a vulnerabilidade e a miséria dos outros.
Compreende-se que
esses não estejam com Abril. Abril une todos os que estão com
a liberdade, mas não
é de todos! Abril não é dos exploradores, Abril não é dos que
dão a mão ao mercado
privado e destroem os serviços públicos. Esses vêem em Abril
um grande obstáculo.
Abril não é dos
racistas e xenófobos.
Abril não é dos que
querem humilhar as mulheres. Abril não é dos que discriminam as pessoas LGBTQIA+!
Abril não é dos que
defendem a Guerra!
Por isso carregamos
connosco a bandeira de Abril. É em Abril que encontramos as respostas para nos
livrarmos das amarras que nos impedem de sermos livres. O 25 de Abril não foi
só uma madrugada, mas sim o fruto de um processo, de anos de duras lutas nas
quais a juventude teve um papel fundamental, estando na linha de frente tanto no
combate ao fascismo, como pelo que viria depois, pela construção de um mundo
novo, pela transformação revolucionária da sociedade, apontando o caminho a se
seguir. E ao apontarem o caminho, Abril se projetou no futuro.
Abril não foi só essa
madrugada pela qual, lutando, esperávamos, assim como Abril não é só uma ideia
abstrata. Abril é concreto. Abril é democracia nas escolas, é formar associações
de estudantes, abril é se manifestar, é fazer greve.
A cada trabalhador
que se sindicaliza Abril ganha força. A cada trabalhador ou estudante que sai à
rua Abril ganha força, tal como fizeram as dezenas de milhares de jovens que saíram às
ruas em Março para assinalar o Dia Nacional do Estudante e o Dia Nacional da
Juventude: os estudantes do Ensino Superior, que se manifestaram em Lisboa pelo
fim das
propinas, por mais ação social, pelo alojamento estudantil, os estudantes do
ensino secundário,
que se manifestaram em dezenas de escolas por todo o país, os jovens
trabalhadores, que se manifestaram no dia 27 pelo aumento dos salários, pelo
fim da precariedade e pela redução do horário de trabalho, mas também os muitos
jovens de diversos sectores nas suas lutas específicas, desde os centros de
contacto aos jornalistas que fizeram uma greve geral histórica, e também as mulheres que se
manifestaram pela sua emancipação, pela efectivação de seus direitos, pela igualdade salarial,
pela igualdade no trabalho e na vida e pelo fim às violências.
Ações que invocam
Abril tanto pela forma quanto pelo conteúdo. Porque Abril é o direito à greve e à
manifestação, mas também é serviço público de qualidade, com profissionais e com
investimento necessário, é educação, saúde, transportes, segurança social, é
democracia, é o acesso à informação, é o direito a informar e ser informado. Abril é
enfrentar a gula do lucro, é o poder político acima do poder económico.
E 50 anos depois, os
filhos, os netos, os bisnetos da Revolução continuam aqui a lutar para fazer florescer
a semente que ficou num canto de jardim que nos cantava Chico Buarque, a lutar e a
combater a política de direita que afronta os valores de abril. Combater a política
de baixos salários, de degradação
dos serviços públicos, de divisão, de instigação da guerra, de reforço do militarismo, a
política de roubo aos trabalhadores e ao povo para o benefício dos monopólios.
Luta que se faz tendo Abril como bússola. Luta cujas fileiras hoje, nós imigrantes, também
engrossamos.
50 anos depois, Abril
continua a ser um exemplo nos caminhos para a Paz. O ideal de
Abril, que se
evidenciou no fim da guerra colonial, ideal que ficou plasmado na Constituição da
República Portuguesa, nomeadamente no seu artigo 7º, é muito claro: Abril é a
abolição do imperialismo
e do colonialismo, é o direito à autodeterminação dos povos, é o fim dos blocos
político-militares. Quando nos vemos diante dos horrores da Guerra, seja na Ucrânia, seja na
Palestina, fica claro que Portugal e o seu Governo têm de honrar Abril, defendendo a
Paz.
Abril exige que nos
mantenhamos vigilantes, para que não haja retrocessos, e que nos
mantenhamos
confiantes, pois há muito por conquistar, e é na rua que se conquista.
Foi na rua que se fez
a Revolução, e é na rua que os filhos da Revolução estarão de
novo amanhã.
Resistindo. Sempre.
E como disse há
pouco, e citando o poeta Ary,
Isto vai meus amigos
isto vai
o que é preciso é ter
sempre presente
que o presente é um
tempo que se vai
e o futuro é o tempo resistente
Abril é passado,
presente e acima de tudo futuro.
Viva a luta da
juventude!
Viva Abril!
25 de Abril sempre,
fascismo nunca mais!