Intervenção de Baptista Alves, presidente da direcção da ACR | almoço comemorativo do 25 de Abril promovido pelas associações e clubes militares

O 49º Aniversário do 25 de Abril de 1974

Almoço de militares

Intervenção de Baptista Alves, presidente da direcção

 

 

No próximo dia 25 de Abril, completamos 49 anos da data gloriosa do 25 de Abril de 1974, que nos libertou do jugo fascista, e deu origem ao pujante processo revolucionário que haveria de transformar radicalmente a sociedade portuguesa numa sociedade livre e democrática e, nos exactos termos da CRP de 1976, “de abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país livre, mais justo e mais fraterno”.

 

Sim, camaradas, o tempo passou, mas na nossa memória  permanecem vivas as razões que nos fizeram acordar:

   

-Que à data do 25 de Abril de 1974, o povo português era um povo empobrecido e oprimido por um regime ditatorial fascista, suportado num forte aparelho policial repressivo;

 

-Que o nosso país era um dos mais atrasados da Europa e se encontrava exaurido por 14 anos de guerra colonial em três frentes: Guiné, Angola e Moçambique;

 

-Que o Portugal de então, isolado pela comunidade internacional, em particular nas Nações Unidas, onde se afirmavam os princípios da autodeterminação e libertação de todos os povos do Mundo - se encaminhava teimosamente para um desastre de proporções catastróficas.

 

Sim, camaradas, não esquecemos e não deixámos que se procure fazer esquecer:

 

-Que à feroz ditadura houve sempre quem não desse tréguas, mantendo viva a esperança na liberdade e na justiça social;

 

-Que nesse glorioso dia 25 de Abril de 1974, jovens militares das nossas Forças Armadas, jovens os comandados e jovens os comandantes - irmanados por um ideal comum- levaram a cabo um dos feitos militares mais relevantes da história de Portugal;

 

- Que o MFA, logo a 26 de Abril de 1974, apresentou o seu Programa ao povo português, o PROGRAMA DO MOVIMENTO DAS FORÇAS ARMADAS, no qual se preconizavam um conjunto de medidas- imediatas, de curto e de médio prazo- que se propunham liquidar o regime opressor, vencido, e lançar as bases para um futuro democrático de progresso e justiça social: os conhecidos três Dês do MFA (Democratização, Descolonização, Desenvolvimento);

 

- Que Portugal viveu nesse período revolucionário iniciado em 25 de Abril de 1974, a mais fantástica aventura colectiva de que há memória;

 

-Que a Constituição da República Portuguesa de 1976, apesar das 7 revisões constitucionais a que foi sujeita, ainda é uma das mais progressistas do Mundo e nela se encontram garantidos direitos fundamentais que urge CUMPRIR E FAZER CUMPRIR.

 

Somos todos militares de Abril, com muito orgulho pela Pátria que servimos e pela condição militar que nos é própria. Vivemos o nosso tempo ancorados nos ensinamentos dos nossos ancestrais, mas com os olhos postos no Futuro, o Futuro que Abril nos trouxe.

 

O Futuro a que não somos alheios nem deixámos que nos deixem de fora dele. Unidos nas nossas Associações e Clubes militares, saberemos, como sempre soubemos, honrar a farda que envergamos.

 

No próximo dia 25 de Abril, iniciámos também a contagem decrescente para o 50º Aniversário. É tempo para uma grande reflexão sobre todo este tempo, meio século, de espera para que Abril se cumpra.

Quão longe nos encontramos das promessas de Abril?

Educação para todos

Habitação para todos

Saúde para todos

Direito ao trabalho com direitos

Direito à Informação

Direito à Cultura e Desporto

 

Quanto dos avanços civilizacionais que Abril nos trouxe já ficaram pelo caminho: eliminados uns, outros condicionados, muitos sistematicamente esquecidos ou ignorados?

 

Um desfiar de retrocessos, ofendendo a Lei Fundamental do país, a Constituição da República Portuguesa, hoje mesmo sobre

a ameaça da 8ª tentativa de desvirtuamento … ou mesmo de liquidação, da ordem constitucional nascida da Revolução de Abril.

 

Não nos iludamos: Os derrotados em Abril, e seus sucedâneos, estão aí, agora às claras, com despudor, ameaçando valores e princípios fundamentais em que assenta a nossa Democracia.

 

Ganharam terreno, tanto mais quanto as promessas de Abril, foram ficando mais longe, a exploração de quem trabalha se acentua e a qualidade de vida regride:

-A erradicação da pobreza voltou a ser uma miragem;

-A saúde cada dia que passa é mais um negócio chorudo;

-A habitação um maná da especulação fundiária e imobiliária, e dos senhorios sem escrúpulos;

-O acesso à educação, à cultura, ao desporto, cada vez mais difícil para quem menos tem.

 

Estes e muitos outros retrocessos que podíamos alencar, alimentam o desânimo das novas gerações e propiciam o aliciamento pelos charlatães de todos os matizes, para aventuras de cariz racista, xenófoba e fascista.

 

Tudo sob a batuta dos grandes predadores apátridas a quem tem sido permitido sugar a riqueza nacional e acumular fortunas de dimensão obscena, empurrando grande parte da população portuguesa para a emigração ou para uma vida no limiar da pobreza.

 

Comemorar o 25 de Abril é afirmar a vontade do povo português em defender os valores de Abril.

 

Os tempos são difíceis, a nível nacional e internacional. Convivemos hoje com mais uma guerra na Europa, uma guerra sangrenta e de resultados imprevisíveis, para nós, para os europeus, para o Mundo e até para a existência da própria vida na Terra.

 

Por último, dizer-vos apenas:

 

Para compreender tudo isto, o 25 de Abril, a Revolução de Abril, são ensinamentos importantes e, em particular a Constituição da República Portuguesa de 1976, merece ser revisitada e pensada, também como mensagem de Paz, de convivência com todos os povos do Mundo, do primado da solução pacifica dos conflitos de interesse entre os Estados, do desarmamento geral, simultâneo e controlado, da dissolução dos blocos político-militares, em suma:

    

Um Mundo que é nosso de direito, na CRP e na Carta das Nações Unidas

 

          Viva o 25 de Abril

          Viva Portugal