O ALVORECER DE UM NOVO MUNDO

O ALVORECER DE UM NOVO MUNDO

 

Manuel Begonha
Presidente da Assembleia Geral da ACR

 

Nos passados dias 15 e 16 de Novembro do corrente ano, decorreu em Bali, na Indonésia a 17 reunião da cúpula do G20.

Putin não esteve presente, tendo sido substituído por Sergei Lavrov, nem pela 1 vez Bolsonaro, ainda combalido pelas eleições no Brasil.

 O G20 é uma organização que integra as maiores economias mundiais.

Ficou clara nesta reunião, o despertar de uma divisão entre o Norte e o Sul Global, que culminou na ausência de consenso, na condenação expressa da Rússia na invasão da Ucrânia, na respectiva declaração final.

Esta fractura foi notória entre os países constituintes do G7, os EUA, Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido.

Dos restantes, a China emerge como um dos novos países em ascensão, dispostos a contrariar a hegemonia dos EUA.

Foi intensa a actividade da diplomacia chinesa nesta ocasião.

A 14 de Novembro, o seu dirigente Xi Jinping esteve reunido com Joe Biden, onde foram discutidos temas como a situação climática, a guerra na Ucrânia e especialmente vincadas as linhas vermelhas que foram traçadas, no que respeita a qualquer ingerência externa em Taiwan.

Foi ainda acordado manter abertas as linhas de comunicação.

Xi Jinping manteve ainda conversações com Trudeau, Macron, Alberto Fernandez, Presidente da Argentina, António Guterres e especialmente com o líder alemão Scholz que se fez acompanhar por uma importante comitiva de 12 empresários. Foi aprovado com a gigante BASF, um enorme investimento numa fábrica de plásticos em Guangdong.

Rishi Sunak, primeiro ministro do Reino Unido, viu a sua reunião cancelada devido a declarações desastrosas acerca de Taiwan, contrariando as declarações de Joe Biden.

Novos factores estão na origem de uma mudança da ordem mundial que estão a dar uma nova centralidade ao Sudeste Asiático.

 


 

➮ 1. BLOCOS COMERCIAIS REGIONAIS E INTERNACIONAIS

- ASEAN Associação de Nações do Sudoeste Asiático (Organização que inclui dez países):

Tailândia, Filipinas, Malásia, Singapura, Indonésia, Brunei, Vietname, Myanmar, Laos e Camboja,

sendo a principal parceira da: 

- OCX Organização de Cooperação de Xangai

Integra a China, Rússia, Índia, Paquistão e Irão e mais três países da Ásia Central.

Tem como parceiros de diálogo a Turquia, Arábia Saudita, Egipto e Qatar.

Representa mais de 70% do território euro-asiático, quase metade da população e cerca de 30% do PIB mundial.

- UEE União Económica Euro-Asiática

A ser construída pelo russo Sergei Glasiev e que compreenderia a Rússia, Bielorrússia, Casaquistão, Quirguistão e Tajiquistão.

Para além de Cuba, Moldávia e Uzbequistão como observadores, pretende ainda englobar vários Estados que fizeram parte da URSS.

Juntamente com a China, seriam países, onde seria testada uma nova moeda e constituiria um impressionante conjunto de países produtores de petróleo.

- NOVA ROTA DA SEDA

Em afirmação, como uma estratégia de desenvolvimento do governo chinês, integrando as vertentes económica e tecnológica mas não a militar.

Desenvolve infraestruturas e investimentos em países da Europa, Ásia e África, incluindo rotas marítimas e terrestres, numa perspectiva de cooperação e de ligação da China ao resto do mundo.

Acima descreveram-se as Organizações Regionais nas quais a China tem um papel determinante.

- APEC Organização Económica Asia - Pacífico

Inclui 21 países, localizados no círculo do Pacífico tão variados como a China, EUA, Rússia, Austrália, Canadá, Indonésia, Japão, Nova-Zelândia, Tailândia, México e Chile.

Na América Latina existem:

- CELAC Comunidade de Estados Latino-Americanos

Bloco intergovernamental composto por 33 países que promove também acordos com a China.

- MERCOSUL Mercado Comum do Sul

É basicamente uma tentativa de união aduaneira com Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela ( suspensa), tendo como associados a Bolívia, Chile, Colômbia, Peru, Guiana e Suriname.

Daqui se depreende, a enorme importância que a eleição de Lula teve para o reforço da unidade da América Latina e o ressurgimento da CELAC.

2. EXPANSÃO DOS BRICS NOS PRÓXIMOS 4 ANOS

·      A parceria estratégica BRICS PLUS, encontra-se com uma dinâmica multiplicadora que pretende ter na correspondente 4 fase mais 30 países até 2027.

·      Assim, já efectuaram o pedido oficial de adesão a Argentina, Irão, Argélia, Indonésia e Tailândia.

·      Mostraram-se já oficialmente interessados a Turquia, Arábia Saudita, Afeganistão, Egipto, Nicarágua, Nigéria, Casaquistão e Emiratos Árabes Unidos

·      A confirmar-se este projecto os BRICS PLUS, ficarão a controlar a maioria da produção de gás no planeta.

3. NOVAS APROXIMAÇÕES ENTRE ALGUNS PAÍSES E ORGANIZAÇÕES

·      Têm ocorrido aproximações entre países, algumas muito surpreendentes

·      Verificaram-se novos acordos entre a Arábia Saudita, a Índia e o Irão com a Rússia.

·      A Argentina e o Chile já manifestaram interesse na Nova Rota da Seda.

·      A China está a aproximar-se da CELAC.

·      É preciso ter especial atenção à aproximação à China de países chave do Sudeste Asiático, como a Turquia, Irão, Paquistão e notavelmente a Indonésia, grande produtor de petróleo e minérios.

4. CRIAÇÃO DE UM NOVO SISTEMA FINANCEIRO

A desconfiança causada pelos EUA ao confiscar os dólares da Venezuela, Afeganistão e Rússia, bem como a condução da Rússia e China para a concretização de um mundo multipolar, implicará a criação de um novo sistema financeiro a ser utilizado por muitos dos países que estão incluídos nas organizações atrás apresentadas.

Tal começará, com experiências regionais com a nova moeda e irá recorrer ao recurso ao ouro e a matérias primas (commodities).

5. ESTRATÉGIA DOS EUA

-     Os EUA continuam a investir em movimentos pro- ocidentais na Rússia, para conseguir obter a queda de Putin e suas políticas.

-     A emenda de Jim Inhofe e Jack Reed na lei de Alocação de Recursos para a Defesa Nacional FY2O23 (NDAA), a ser aprovada implicaria um enorme aumento no orçamento de Defesa, muito para além do previsível apoio à Ucrânia, especialmente na qualidade e sofisticação do armamento, destinado a preparar uma guerra convencional em terra contra a Rússia.

-     Por outro lado, o Congresso discute a proposta de colocar Taiwan como parceiro especial da NATO e trata-lo como uma Nação, o que vai contra as linhas vermelhas definidas por Xi Jinping nas recentes conversações com Biden.

-     Aumentar as sanções contra a China especificamente no que se refere a chips de alta tecnologia.

- Finalmente reforçar o QUAD-DIÁLOGO DE SEGURANÇA QUADRILATERAL - constituído pelos EUA, Índia, Japão e Austrália, organização militar destinada à contenção da China na região do Indo- Pacífico.

-     Desta união militar, decorre a AUKUS, mais sofisticada e confiável, apenas com os EUA, Austrália e Reino Unido.

Ver:

·      Pepe Escobar: G20 em baixa BRICS em alta - Brasil 247 em 17 Nov 22

·      Meden Benjamin é Nicholas J. S. Davies – Countercurrents

·      Notas e apontamentos dispersos de Michael Hudson, Douglas McGregor, Larry Johnson, Scott Rider e Thomas Palley

NOTA FINAL

A notável ascensão da China a caminho para um mundo novo, que acabamos de observar, pelos caprichos próprios da memória, fez-me recordar vivamente, a arrebatadora interpretação da grande actriz Fernanda Alves, do Grupo de Teatro da Cornucópia, na peça "A grande imprecação diante dos Muros da Cidade" de Tankred Dorst e encenada por Mário Barradas.

Ocorreu numa Campanha de Dinamização Cultural no distrito de Castelo Branco em Janeiro de 1975.

É uma fábula passada na antiga China sobre uma camponesa que vai até às muralhas da cidade implorar ao Imperador pelo marido, um soldado que está ao seu serviço.

Pode ser a metáfora, de uma sociedade que está num beco sem saída, tem as portas fechadas e os muros têm de ser transpostos.