Intervenção de Baptista Alves, presidente da direcção da ACR, no dia 3 de Mar,
na iniciativa promovida pella AE e o CPPC,
na qualidade de Pres. da AG do CPPC.
Estamos a viver tempos muito difíceis. Ainda não totalmente livres
da ameaça pandémica que nos assola, eis-nos perante o espectro
negro de mais uma guerra na Europa.
Não vou tecer quaisquer considerações sobre os acontecimentos
que nos trouxeram até aqui, porque o farão com certeza outras
intervenções, com propriedade e o saber que importa a uma
audiência universitária.
Lembrar apenas que já no ano passado, quando se vivia um
aumento da tensão EUA/China em torno da questão de Taiwan, o
Prof. Frederico de Carvalho, em artigo publicado na revista da OTC,
nos deu uma perspectiva, fundamentada e sustentada, da extrema
delicadeza desta questão maior da Humanidade, a PAZ, cujos níveis
de risco, medidos no relógio simbólico denominado de “Relógio do
Destino Final”, ultrapassavam os registados em 1953, o ano que
havia registado o maior perigo para uma confrontação nuclear (2
min para a meia-noite registava o relógio), fixando-se então (2020,
2021) nos 100 s.
Quantos segundos marcará hoje o relógio?
Há alguma razoabilidade nesta loucura?
É preciso parar e reflectir.
Para esta Humanidade que somos hoje, no século XXI da nossa Era,
a resolução pacífica dos conflitos entre Estados é a única via
aceitável, como inaceitável é o reforço e expansão dos blocos
político-militares, ao invés da sua dissolução, para a construção de
um Mundo de Paz em que pretendemos viver.
Falhámos! Falhámos todos, e, se um mínimo de humildade
consciente não nos fizer parar, vamos matar-nos uns aos outros
sem sabermos bem o porquê … e, acreditem, muito provavelmente
não ficará ninguém para o contar!
E a solução é tão simples que até dói que a não tenhamos
entendido já:
Artigo 7º, nº2 da CRP de 1976, uma conquista da revolução de
Abril
“Portugal preconiza a abolição do imperialismo, do colonialismo e
de quaisquer outras formas de agressão, domínio e exploração nas
relações entre os povos, bem como o desarmamento geral,
simultâneo e controlado, a dissolução dos blocos político-militares e
o estabelecimento de um sistema de segurança colectiva, com vista
à criação de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a
justiça nas relações entre os povos.”
Este é o caminho. Não há outro.
A II edição da Guerra Fria, com este ou qualquer outro nome que
lhe queiram dar, está, a meu ver, condenada ao fracasso, porque
lhe falta a razão ideológica na qual se acobertava a I.
É verdade que cumpriria dois grandes objectivos da estratégia
imperialista:
- satisfazer a gula desmedida da poderosíssima indústria do
armamento;
- Travar a ascensão meteórica das potências económicas
emergentes, obrigando-as a gastos militares insuportáveis.
Mas também não é menos verdade que num Mundo multipolar
como o é já o Mundo de hoje os interesses de cada um dos
diferentes polos se sobreporão inexoravelmente nas disputas
inerentes.
Há portanto, a meu ver, nesta nova realidade, condições de grande
preocupação e perigosidade mas também condições mais
favoráveis á obtenção de consensos em questões vitais para a
Humanidade e principalmente na exigência do seu cumprimento.
É facto que a corrida aos armamentos e ao desenvolvimento de
novas e terríveis armas de destruição massiva, químicas, biológicas
e nucleares não tem parado de crescer, mas também é facto que as
razões ideológicas, religiosas ou mesmo de combate ao terrorismo,
deixaram de ser convincentes para um Mundo tão causticado pelos
efeitos nefastos das ingerências, ocupações militares e guerras de
agressão e pilhagem feitas em seu nome. Efeitos que são cada vez
mais difíceis de esconder nestes tempos da comunicação global.
Há portanto razões para alguma esperança no futuro.