Intervenção inicial de Jorge Sarabando
Vogal da Direcção e
Coordenador do Núcleo do Porto da Associação Conquistas da Revolução
Esta sessão integra-se numa série, do nosso plano de actividades, que designámos como “Encontros com...”, para os quais convidamos personalidades que se tenham distinguido na defesa dos valores de
Abril.
Escritor Augusto Baptista; Cor Eng Baptista Alves; Maj Gen Pezarat; Cor. Castro Carneiro e Jorge Sarabando |
Esta série foi iniciada pelo Encontro com Frei Bento Domingues, em que participaram o Bispo Emérito D. Januário Torgal Ferreira e o Prof. Sérgio Branco, sindicalista, leigo dominicano, e que teve um momento musical a cargo do Prof. Guilhermino Monteiro.
No Encontro de hoje, tivemos um momento musical, com Pedro Marques e João Sousa, a quem felicito pela grande qualidade das suas interpretações, a que se seguirão as intervenções do fotojornalista e escritor Augusto Baptista, do Coronel Castro Carneiro, um dos militares responsáveis pelas operações
militares do 25 de Abril na região Norte, e do Coronel Engº Baptista Alves, Presidente da nossa Associação, bem como do General Pezarat Correia, que finalizará. A todos quero agradecer a sua pronta disponibilidade para participarem neste acto, que significa também uma singelíssima homenagem a um dos membros mais destacados do MFA, Movimento das Forças Armadas, que tornou possível a Revolução de Abril, Pedro de Pezarat Correia.
Antes de lhes dar a palavra, quero aqui lembrar a nossa actividade que, em 2021, foi marcada pelas comemorações do Centenário do General Vasco Gonçalves. Recordo o concerto realizado em Vila Nova de Gaia, o colóquio “A obra e o homem”, em Matosinhos, a Exposição dedicada a Vasco Gonçalves, no Porto, e ainda a apresentação do livro “Cem Cravos” que lhe é dedicado.
E aproveito para aqui anunciar as nossas próximas iniciativas:
- em 2 de Abril, sessão comemorativa da Constituição da República, em conjunto com outras associações culturais do Porto;
- em 24 de Abril, jantar comemorativo da Revolução;
- em 25, sessão em Chaves, em parceria com a União de Sindicatos; durante o debate, não deixaremos de evocar um ilustre flaviense, o Marechal Francisco da Costa Gomes, Presidente da República no período mais decisivo da Revolução, a quem a Pátria e a Democracia tanto devem.
- no mesmo mês, abertura da Exposição itinerante “Revolução dos Cravos – vivências a norte”.
Seguir-se-ão os ciclos intitulados “Três meses – três livros” e “Cadernos de Abril”.
Iniciaremos este ano uma série de debates com temáticas relativas ao processo revolucionário, incentivando a apresentação de trabalhos pelas gerações mais jovens, que integramos no programa comemorativo dos 50 anos do 25 de Abril.
Umas breves palavras, apenas, sobre o General Pezarat Correia, certo que estou de que os nossos convidados melhor dirão sobre o seu percurso militar e académico, o seu carácter, a sua personalidade, o seu perfil cívico e humano.
Pedro de Pezarat Correia nasceu na cidade do Porto, filho e neto de militares. Seu pai, o então Tenente António Joaquim Correia, foi um participante activo da revolta militar de 7 de Fevereiro de 1927, a
primeira e a maior contra a Ditadura, em que no Porto e em Lisboa, recorde-se, perderam a vida mais de duas centenas de pessoas, militares e civis. Viria a ser deportado para Angola.
Pezarat Correia fez o curso liceal no Colégio Militar, e a licenciatura em Ciências Militares na Escola do Exército, pertencendo à Arma de Infantaria.
Cumpriu seis comissões nas antigas colónias, na Índia, em Moçambique, Guiné e Angola, onde se encontrava no 25 de Abril. De imediato aderiu ao movimento libertador, gesto coerente de quem havia conspirado, com outros camaradas de armas, contra a ditadura fascista, designadamente no Movimento Militar Independente. Integrou a Comissão Coordenadora do MFA de Angola, que teve um papel decisivo no longo e violento processo de descolonização.
Regressado a Portugal, foi nomeado Comandante da Região Militar Sul, e pertenceu ao Conselho da Revolução desde o início, em Março de 1975, até à sua extinção, em Outubro de 1982, decorrente da 1a Revisão Constitucional.
Foi um dos subscritores, em Agosto de 1975, do Documento dos Nove.
Não tendo sido promovido, em 1986, quando lhe competia, por razões estranhas ao seu percurso profissional, ou seja, razões políticas, pediu passagem à reserva, no posto de Major-general do Exército.
Foi um dos fundadores da Associação 25 de Abril, e director da revista Referencial durante 24 anos.
Foi, desde 1996, Professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, onde fundou e leccionou a cadeira de Geopolítica e Geoestratégia.
Em 2017, doutorou-se pela Universidade de Coimbra, com apresentação e defesa da tese “Da descolonização”, aprovada com distinção e por unanimidade.
Será difícil referir, na sua vasta obra literária, títulos mais em evidência. Mas permitam-me escolher dois, entre vários possíveis.
O primeiro é, justamente, a sua tese de doutoramento. Nela, o autor rompe com o discurso dominante, ao descrever, de modo bem informado e documentado, o longo processo histórico da descolonização, e ao considerar, e demonstrar, que o verdadeiro sujeito da descolonização é sempre o colonizado.
O segundo é “Do lado certo da História”, livro/entrevista de Manuela Cruzeiro, que junta a outros de sua iniciativa e do Projecto História Oral do Centro de Documentação 25 de Abril, como os dedicados a Melo Antunes, Vasco Lourenço, Vasco Gonçalves ou Costa Gomes. Nele podemos seguir, com as suas próprias palavras, o percurso singular de um militar de formação bem castrense, o seu inconformismo com a ditadura, a luta anti-colonial, a construção da democracia, a defesa da Reforma Agrária e doutras conquistas de Abril, a actuação da direita das ideias e dos interesses para recuperar poderes e privilégios. Dessa direita, e “das suas máscaras, alibis e pretextos”, tão bem descrita nos versos de Sophia de Mello Breyner.
Reiteramos o nosso agradecimento pela sua presença, que muito nos honra, neste encontro de democratas, unidos em defesa da liberdade, da igualdade, da paz, do valor do trabalho, da dignidade humana.