UM NOVO ZERO NAVAL? | Manuel Begonha | Presidente da Assembleia Geral

 

UM NOVO ZERO NAVAL?
Manuel Begonha | Presidente da Assembleia Geral

 

A ocorrência verificada no Funchal com o "NRP Mondego" é muito delicada, mas teria sido facilmente evitada se tivessem sido cumpridos os programas de manutenção dos equipamentos.
É por isto relevante analisar alguns factos relativos ao comportamento da cadeia hierárquica a que o navio estava subordinado.

- Comandante do navio

Teria este falado com os chefes de serviço para avaliar a situação operacional do navio?
Teria este experiência suficiente para se aperceber de um eventual mal estar que grassaria a bordo? 
Teria este o traquejo suficiente para medir se a natureza da missão e condições de mar, justificavam sair com o navio face às avarias existentes? 
Teria este informado o seu Comando directo, com a veemência necessária, das limitações operacionais existentes no navio? 

- Comando da Zona Marítima da Madeira 

Terá este Comando dado conhecimento ao seu superior hierárquico, de uma forma esclarecedora e firme, do estado de degradação deste navio? 

- Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) 

Deverá este responsável aceitar um cargo, cujo orçamento é insuficiente para garantir a operacionalidade dos navios, cujo pessoal se encontra, de uma forma geral, desmotivado com as remunerações e condições de promoção existentes? 
Por outro lado, deverá pactuar com uma incapacidade de gestão que permite enviar para o mar navios com severas limitações nos equipamentos vitais? 
Será que está a defender a soberanía nacional, com apenas cerca de 40% dos navios existentes operacionais? 
E não é dispiciendo falar, do estado de degradação a que se deixou chegar o Arsenal do Alfeite, instalação fabril que durante longos anos assegurou uma elevada qualidade na manutenção e até na construção de navios da Armada. 
Não deveria  pôr-se em bicos de pés, ao tratar na praça pública de assuntos que só á Marinha dizem respeito, como o fez agora, ao dirigir a palavra à guarnição em formatura do" NRP. Mondego", num momento tão complexo, na presença da comunicação social, nomeadamente de uma estação de televisão. 
Não fica bem, mostrar-se um chefe militar fraco ou seja subserviente com o governo e forte, ao tratar com arrogância os seus subordinados. 
Mais lhe valia e seria mais digno assumir que não tem condições para chefiar a Armada, com as verbas disponíveis e pedir a sua demissão do cargo. 

- Ministra da Defesa Nacional 

Conhece a senhora Ministra e o seu Governo o que é o Apoio Logístico Integrado (ALI), para efectuar a gestão das necessidades de manutenção de qualquer equipamento militar, reportando - nos neste caso apenas a navios? 
Terá de possuir manuais técnicos, ferramenta especial, sobressalentes, programas de manutenção, prazos para as reparações e pessoal qualificado. 
Terá ideia a Senhora Ministra e o seu Governo dos custos associados ao ALI para manter uma Armada digna e operacional? 
A verba atribuída, demonstra claramente que não sabe ou então pactua com o Governo que se satisfaz com uma Armada com navios atamancados, para cumprir missões internacionais e de salvaguarda de vidas humanas no mar. 
E mesmo assim, faz cativações de verbas. 
Com o afã de mostrar serviço, o Governo está sempre pronto a dispor dos dinheiros públicos para actividades que lhe possam trazer relevância internacional. 
Infelizmente e para vergonha nacional, na questão do auxílio militar à Ucrânia, para o que tanta presteza mostrou, os meios militares ou equivalentes disponibilizados, foram carros de combate Leopard avariados e helicópteros Kamov inoperativos. 
Enfim, como nestes assuntos, a culpa morre sempre solteira, voltando à discussão que aqui nos trouxe, gostaria de saber quem assumiria as responsabilidades, caso a ida para o mar do "NRP Mondego" redundasse em tragédia.