Não
seria previsível que tão poucos anos após o 25 de Abril,
estivéssemos hoje a comemorar esta data que foi de grande exaltação
e alegria, sombreada pela raiva, indignação e amargura.
Nesta
tempestade em que vivemos por falta de informação nas Escolas e na
Comunicação Social, a juventude é impedida de conhecer o
verdadeiro alcance da Revolução, por não ter sofrido as sequelas
de uma ditadura em que todos eramos prisioneiros políticos. A muitos
recordará os dias límpidos e de grande esperança, a que nunca
deixaremos de associar a figura do General Vasco Gonçalves, que
tanto contrastou com a pesada asa negra que durante quarenta e oito
anos ocultou a luz a Portugal.
Estamos
a viver o tempo da vingança dos que nunca se identificaram com o
espírito renovador de Abril. É bom recordar que um dos integrantes
da actual maioria no Governo, o CDS, nunca assinou a Constituição
da República.
É
verdade que quando a crise se agudiza e o sentimento de injustiça se
torna um garrote sobre a nossa consciência colectiva, aumenta uma
insatisfação corrosiva, misto de impotência e de Revolta. O povo
vai-se tornando triste sob uma canga que embora insuportável não
parece definitiva, mas que pode conduzir ao conformismo. Entramos num
cenário em que percebemos que nos querem roubar o futuro. Quando se
anseia pelo futuro cria-se mais passado, nada mais havendo do que
passado. Mas, não nos encontramos perante uma queda irreversível do
homem dominado por um poder castrador. Estamos a falar da luta
incessante do povo português para alcançar o futuro sob o peso do
passado e do seu destino. Dizia Sófocles
na Antígona
que “o
homem soube descobrir recurso para tudo; só contra a morte, embora
inventasse defesas para lutar contra a doença traiçoeira é que ele
em vão chamara por auxílio”
Estamos
então envolvidos numa luta pela conquista da alegria e felicidade de
Abril, que de facto se instalou em Portugal, ocupando um espaço
inesquecível na nossa cidadania. Dizer Abril é dizer abertura à
esperança renovada. Trata-se de uma data simbólica consolidada na
vontade de um povo e não de um conjunto de actos isolados.
Se
for preciso recuar deverá ser apenas para tomar balanço para nos
libertarmos de um governo incompetente, obstinado e sem humanidade.
É
certo que estão integrados numa Europa dividida e belicista que
entende que o caminho é promover a pobreza e a desigualdade,
conduzida por uma Alemanha que parece retomar uma variante do
anti-semitismo, ao pretender executar o holocausto da economia dos
países do Sul.
Mas
o governo, julga-se contudo no desígnio do quando Deus quer,
acontece. Mas move-se efectivamene, determinado pelo acaso num
processo de progressivo apagamento, apenas sobrevivendo,
temporariamente, os mais corruptos.
E
o que é que a Europa nos destinou para levar a cabo os seus
desígnios? Um governo estéril, caminhando ao arrepio de Abril, com
o qual o povo não se identifica. Enredado numa teia de contradições,
embustes e compadrio, nenhuma mensagem mobilizadora é transmitida.
Nada se vislumbra que galvanize os portugueses para combater a crise
que não criaram, uma vez que apenas se tomam medidas contra o povo.
Por outro lado, não há confiança na informação veiculada, por se
verificar estar grande parte da comunicação social condicionada
pelo poder político e económico.
O
Governo, para tentar ocultar a sua completa submissão aos nossos
credores, representados pela chamada “troika”,e a sua falta de
combatividade para defender a soberania, a identidade e a
independência nacionais, torna-se pouco transparente e
irresponsável. Não explica como se aplicam os nossos impostos,
parecendo apenas preocupado com a banca e as PPP, para as quais
continua a desviar fundos.
Para
o que constitui uma verdadeira vergonha nacional, até permite que a
“troika” interfira com as nossas Forças Armadas.
Enfim,
nada é dito aos cidadãos sobre o destino dos dinheiros públicos.
Nem para onde vão, nem qual é o caminho.
A
propalada redução do deficit externo, apenas se vai tentando
concretizar à custa do poder de compra dos portugueses, do
desemprego para garantia da redução dos salários, da destruição
da economia, da emigração dos jovens, do desprezo pela cultura e
pela escola pública, da redução da prestação dos serviços de
saúde, em claro prejuízo dos mais velhos, que por serem frágeis
financeiramente, não têm alternativa.
O
Primeiro-ministro é um homem com uma visão estratégica, embaciada
pelo ultraliberalismo, sem inteligência nem cultura política, com
falta de experiência, para além da intriga aparelhística. A sua
submissão e incapacidade negocial perante a “troika” e o seu
representante, o Ministro das Finanças, revela que não tem vontade
própria.
É
ainda um dirigente inadequado para os tempos actuais, pois para além
de desconhecer a realidade social do país, a sua inabilidade
reflecte-se na incapacidade de antecipar qualquer alteração nos
processos económicos, o que o leva a falhar constantemente as
previsões orçamentais e a actuar apenas sob o imediato, tomando
assim medidas avulsas, inconsequentes e mal estudadas, com as
conhecidas consequências dramáticas para o país, que nos vão
arrastando de austeridade em austeridade.
Encontra-se
cercado no seu labirinto de mentiras e improvisações, uma vez que
proclamou -“eu
sou a troika”-
.Não tendo um plano a médio e longo prazo, ensaia uma fuga para a
frente cega e desesperada, sem qualquer hipótese de trazer melhores
dias para Portugal.
Contudo
se tivéssemos um Governo livre do tráfico de influências e
promiscuidade, não atolado no “sistema” em que a banca controla
o poder político, poderiam ser tomadas algumas medidas que parecem
óbvias, para libertar o país destas grilhetas que nos imobilizam,
tais como:
-renegociar
a dívida;
-captar
investimento estrangeiro que desenvolva a economia e combata o
desemprego;
-promover
a economia interna, pondo a banca ao serviço das pequenas e médias
empresas e do interesse nacional;
-dispor
de uma justiça eficaz, rápida e independente;
-tornar
operante a fiscalidade sobre a fraude, corrupção e evasão fiscal;
-garantir
o ensino público de qualidade;
-reduzir
a burocracia;~
-aumentar
o salário mínimo nacional;
-renegociar
os contratos com as PPP;
-reduzir
as rendas pagas aos produtores de energia e telecomunições;
-taxar
e controlar o capital financeiro
É
claro que tais medidas não estão no horizonte deste
Primeiro-ministro que estando estribado numa legalidade
Constitucional, e no Presidente da República que não assume as suas
responsabilidades, a não ser derrubado nos conduzirá a uma
calamidade social. Contudo um Governo não é legítimo apenas porque
decorre do voto popular. Em democracia terá de governar de acordo
com a Constituição da República, não abdicando de defender a
soberania nacional, transformar a defesa dos interesses do povo no
principal argumento para o bem comum e proceder de acordo com a ética
e o espírito de justiça que o prestigie aos olhos dos cidadãos.
Quando
repetida e deliberadamente incorre em práticas anticonstitucionais
capciosas e fraudulentas, acusando depois o Tribunal Constitucional
por este repor a legalidade, torna-se ilegítimo.
Não
resta ao povo português outra alternativa senão enterrar as
práticas do exercício deste tipo de democracia já demasiado
musculada, que continua a tentar dividir-nos para aplanar caminho
para impor os seus ditames
Urge
mudar. Somos convocados a fazer soar os tambores da Revolta, contra
este Governo, esta política e o imperialismo que nos sufoca.
O
combate será na rua, nas empresas, na Assembleia da República, onde
se torne imperioso fazer renascer Abril.
O
difícil é continuar a lutar quando o desistir é fácil.
Não
desistiremos, continuaremos a lutar pelos desempregados, pelos
jovens, pelos reformados, pelos humilhados, pelos oprimidos, pelas
mulheres e homens de Portugal. Enfim lutaremos por uma Pátria
honrada e de Abril.
Viva
o 25 de Abril.
Viva
Portugal.
Manuel
Begonha / Presidente
da ACR 20.Abril.2013