Intervenção
de Manuel Begonha Presidente da ACR
1.-Manuel
Begonha fez uma referência à exposição que acabava de ser
inaugurada salientando ter sido esta montada por elementos da
Direcção da ACR.
Apresentou
um tempo biográfico do homenageado RAMIRO CORREIA, salientando as
unidades em que prestaram serviço em simultâneo, com especial
relevo para a 5ªDivisão do EMGFA em 1974/75.
Falou
na sua elevada qualidade de médico, na sua grande cultura e
capacidade de comunicação, no seu papel de intelectual, humanista e
internacionalista e na sua inteligência fulgurante. Classificou-o
como um poeta na Revolução e um semeador, cuja obra de referência
terá sido, para além de livros que escreveu, a concepção das
Campanhas de Dinamização Cultural do MFA.
2.-Manuel
Begonha em seguida fez a apresentação do projecto das Campanhas de
Dinamização Cultural e a sua ligação a organizações civis já
existentes, com um longo trabalho no âmbito cultural, antes do 25 de
Abril, coordenadas pela Direcção Geral da Cultura Popular e
Espectáculos. Esclareceu as razões do lançamento das campanhas,
sem esquecer a ocorrência do 28 de Setembro de 1974 e de alguns
avanços das forças contra-revolucionárias. As campanhas foram
iniciadas em Outubro de 1974 após a queda do General Spínola. Como
razões estratégicas foram apresentadas as seguintes:
-Divulgar
o programa do MFA;
-Esclarecimento
quanto ao acto cívico de votar;
-Movimentar
as Forças Armadas em zonas Fronteiriças e internas para:
-dar dimensão nacional
ao 25 de Abril,
-prevenir tentações
de intervenção espanholas devido ao Pacto Ibérico.
-Impedir
o descredibilizar da disciplina e coesão das FA’s, incorporando
nas Campanhas Forças Especiais (Fuzileiros, Comandos e
Paraquedistas).bem equipadas, preparadas e enquadradas.
Salientou
que nestas campanhas se tornou visível que o MFA era constituído
por oficiais, sargentos e praças (de carreira e milicianos) e que
muito contribuíram para consolidar as conquistas da revolução.
Foram
descritas as várias fases das Campanhas:
1ªFASE-Campanhas
itinerantes que envolviam militares e meios de animação desde
Companhias de Teatro, Projecção de Filmes, Bandas Musicais,
Cantores e Artistas da Dança ao Circo.
2ªFASE-Fixação
de militares no terreno com meios de animação, engenharia e outros
meios técnicos, medicina, veterinários, artistas plásticos, etc..
Esta fase permitiu a criação de centros culturais, grupos de
teatro, abertura de estradas, eletrificação rural, apoio médico e
sanitário, campanhas contra a brucelose, etc..
3ªFASE-Desenvolvimento
da acção cívica e criação de Gabinetes de Dinamização
Desenvolveram-se
acções com as populações, com a produção de relatórios
permanentes da sua situação económico, cultural e social, tratados
pelos gabinetes de dinamização e enviados para os vários
ministérios.
As
campanhas foram apoiadas por directivas e formação dos militares no
Centro de Sociologia Militar/5ªDivisão do EMGFA.Foram consideradas
apartidárias mas não apolíticas.
Estenderam-se
aos Açores, Madeira e zonas de emigração portuguesa.
Foram
realizadas mais de 2.000 acções de dinamização.
3.Para
terminar Manuel Begonha esclareceu que não houve benefícios
pessoais, ajudas de custo, promoções, nem custos com direitos de
autor. Não ocorreram despesas com alojamentos. Apenas foram pagos
alguns materiais.
Afirmou
que estas campanhas de dinamização foram efectivamente uma
experiência de galvanização, de enriquecimento humano e de
esperança irrepetíveis.
Manuel
Begonha/Capitão de Mar e Guerra Ref.
Síntese da Intervenção de Rodrigo
de Freitas
Começou
por falar nos movimentos associativos de antes do 25 de Abril, como
os cine-clubes, os artistas plásticos, o teatro e até de galerias
de arte onde se efectuavam reuniões.
Salientou
a importância da acção das juntas de freguesia, do Clube Atlético
de Campolide, onde se instalou o Teatro de Campolide e que também
trabalhou em inquéritos à população sobre os respectivos
interesses culturais. Lembrou também a acção do teatro de
Marionetas Branca Flor, em acções em infantários e escolas e a
Exposição de Poesia ilustrada efectuada no Pavilhão de Turismo de
Coimbra. Menciona ainda a criação do Movimento dos Artistas
Plásticos.
Referiu,
já em 1974,as homenagens ao escritor e pintor José Dias Coelho e a
reunião de artistas plásticos no Palácio Foz em Dez.74,donde saiu
o compromisso de cooperação com a CODICE (Comissão Dinamizador
Central),coordenadora das Campanhas .
Posteriormente
na Sociedade Nacional de Belas Artes e na sequência da reunião
anterior, foram designados três elementos para a coordenação da
actividade deste sector: João Moniz Pereira(TV), Marcelino Vespeira
(CODICE/edições) e Rodrigo de Freitas (CODICE/coordenação de
materiais).
Quanto
à actividade desenvolvida na CODICE, coordenou a acção dos
artistas plásticos na produção de cartazes, exposições, pinturas
murais, em resumo o tratamento gráfico dos materiais apresentados.
Referiu
a importância da Imprensa Nacional Casa da Moeda na execução de
materiais gráficos, especialmente na edição de um selo
reproduzindo o 1º cartaz (MFA-POVO) de João Abel Manta.
Terminou
a sua intervenção com uma referência à figura ímpar de Ramiro
Correia e à forte e antiga amizade que os unia.
Rodrigo
de Freitas/Artista Plástico e suplente da Mesa da AG da ACR
Intervenção de Modesto Navarro
AS
CAMPANHAS DE DINAMIZAÇÃO CULTURAL
E
ACÇÃO CÍVICA DO MFA
Quero
aqui saudar a acção militar e cívica de Ramiro Correia, lembrar
todos os que trabalharam na 5ª Divisão e na CODICE e, em especial,
Carlos Paredes.
A
história do movimento associativo popular em Portugal, desde o
aparecimento das bandas ou agrupamentos musicais na passagem do
século dezoito para o século dezanove, traz-nos essa realidade
concreta de as camadas populares e os trabalhadores necessitarem de
assumir eles próprios, pelas suas mãos, o caminho do acesso à
cultura e ao saber, contra o que eram a monarquia e a burguesia
ascendente, na ditadura da nobreza e das classes exploradoras.
O
desenvolvimento da organização dos trabalhadores e classes mais
desfavorecidas levou à criação de mútuas, cooperativas e outras
formas associativas que se ampliaram às questões da sobrevivência
e da solidariedade nas áreas da economia, da educação e da
cultura. Eles lutavam pela liberdade e pelos direitos à vida, ao
bem-estar e à afirmação de um poder operário e transformador que
emergiu claramente no século dezanove, com a criação da
Internacional Comunista, a difusão do Manifesto Comunista e a
organização da Fraternidade Operária, estrutura representativa das
associações profissionais e futuros sindicatos em Portugal.
Na
primeira República e depois, as diversas formas de organização
popular, os sindicatos e, em 1921, a criação do Partido Comunista
Português, marcaram territórios de luta e de afirmação proletária
e trabalhadora.
Na
resistência ao fascismo, as cooperativas económicas, as
colectividades de cultura e recreio, os clubes e outras associações
foram o contributo necessário à resistência clandestina e
semi-clandestina. Esta última expressou-se no Movimento de Unidade
Democrática – MUD, no MUNAF, nas campanhas de Norton de Matos, Ruy
Luís Gomes e Humberto Delgado, na CDE criada em 1969.
O
movimento dos trabalhadores e populações desfavorecidas na
organização de estruturas associativas, na conquista dos direitos a
saber ler e escrever, à educação, à cultura, à prática
desportiva e à resolução de problemas económicos e financeiros,
de que é exemplo claro a questão de assegurar o próprio funeral
com um mínimo de dignidade, como a história da Voz do Operário
atesta, aí esteve, antes, durante e depois do fascismo, na
resistência e na afirmação de valores que se impuseram à
repressão e ao domínio das grandes famílias da alta burguesia
ligadas ao fascismo e espoliadoras da criação de riqueza através
da força de trabalho da grande maioria.
As
perseguições ao movimento associativo; o encerramento de
colectividades; a imposição de direcções afectas ao regime
fascista; o decreto 520/71 de Gonçalves Rapazote, então ministro do
Interior do Salazar, tentando obrigar as cooperativas culturais, a
Devir, a Vis, a Proelium, a Livrelco, a Unicefe e tantas outras a
entregarem os estatutos, na repressão de que só escapou a
Cooperativa de Estudos e Documentação, de Arons de Carvalho e
outros futuros dirigentes do PS, em 1972, porque entregaram os
estatutos para a censura fascista alterar, foram realidades violentas
que atravessámos nas décadas anteriores ao 25 de Abril.
Em
1969, depois das eleições fascistas, a palavra de ordem da CDE, de
ir para as colectividades e sindicatos, foi correcta e criou
condições para uma maior intervenção no seio das populações e
com os trabalhadores. Ligada à orientação do PCP, de ir à guerra
colonial e combatê-la no interior das forças armadas, nos quartéis
e nas frentes da guerra em África, estas palavras de ordem e o
trabalho realizado na amplitude das diversas frentes de resistência
e luta criaram condições para o aparecimento das movimentações
dos militares do quadro e depois de milicianos, na preparação do
golpe militar de 25 de Abril de 1974 que foi transformado em
revolução na acção conjugada dos civis e militares
revolucionários, na intervenção politica da classe operária
organizada, do movimento democrático, da CGTP e dos sindicatos, da
imparável força popular que emergiu em Lisboa e em todo o país,
contra o fascismo.
A
eleição de comissões administrativas para as Câmaras Municipais e
as Juntas de Freguesia, a destruição do aparelho de Estado
fascista, as campanhas de alfabetização logo em Junho, Julho e
Agosto de 1974, foram passos importantes, entre outros, para a
criação de condições de lançamento, pelo MFA, das campanhas de
dinamização e acção cívica. Essa decisão essencial de actuar
sobretudo nas regiões mais desfavorecidas e atrasadas, mas também
de estabelecer ligações com os trabalhadores nas grandes empresas e
nos sindicatos, essa presença e actividade de militares e civis nas
aldeias, vilas e cidades trouxeram uma nova e impetuosa forma de
intervir de que Ramiro Correia, João Varela Gomes, Manuel Begonha,
Pessoa Guerreiro, Faria Paulino e Duran Clemente foram expoentes,
numa realidade que se instalou pelo país e teve acções
transformadoras e decisivas.
Eram
diferentes as equipas de intervenção. No Hospital de Sernancelhe,
nesse concelho e em Penedono, médicos, enfermeiros, civis e
militares desdobravam-se em actividades de apoio às populações, na
saúde, no associativismo, na criação de creches,
jardins-de-infância e comissões de aldeia.
No
concelho de S. Pedro do Sul, as máquinas ajudavam a rasgar estradas
e caminhos, com um médico inolvidável na sabedoria de estar com as
populações, o Dr. Robalo, que tratava os doentes, orientava as
populações na medicina preventiva, resistindo a ameaças e ganhando
nas aldeias e no povo o apoio necessário para que os reaccionários
não levassem a cabo o que pretendiam, o obscurantismo e a
resistência ao que era novo e libertador. Eles incendiavam pinhais a
atribuíam esses actos a comunistas e ao presidente da Comissão
Administrativa da Câmara, Jaime Gralheiro, que até pagaria ou
receberia 250.00 por cada incêndio nos pinhais, sendo alguns até
pertença dele e da própria família… Mas lá estavam as
experiências positivas, o estradão até Covas do Monte, aldeia
finalmente ligada à sede do concelho e a Viseu.
Em
Castro Daire e Cinfães, o então capitão Cruz Fernandes e as
equipas de militares, veterinários e outros técnicos ajudavam a
rasgar a serra de Montemuro, numa estrada que retirou do isolamento a
Gralheira, como criavam condições para a electrificação local e
organização de estruturas associativas nas aldeias, comissões de
moradores, de saúde e baldios e formas de intervenção popular na
resolução de problemas na agricultura e na criação de gado.
Em
Trás-os-Montes, no distrito da Guarda, em Castelo Branco, em
concelhos e regiões, os militares e civis trabalhavam na conquista
de melhores condições de vida, de esclarecimento politico, de
acesso à cultura, com grupos de teatro e intelectuais que se
aproximavam das realidades concretas e ajudavam a mudar mentalidades
e a vida de todos os dias.
Num
tempo em que Freitas do Amaral e Sá Carneiro, líderes do CDS e do
PSD, davam a palavra de ordem de “com os militares não se
trabalha”, por exemplo na Gralheira, em que o presidente da Junta
de Freguesia, eleito em plenário, era do CDS, isso não se cumpria.
O presidente da Junta de Freguesia de Almofala, que era do PSD, ria
dessa palavra de ordem e trabalhava entusiasticamente na defesa dos
interesses da freguesia, com os militares revolucionários.
No
início de Agosto de 1975, o “documento dos nove” foi o argumento
para uma manifestação de apoio aos seus subscritores, em Viseu, que
teve a presença e a intervenção do segundo comandante do regimento
ali aquartelado. Depois dessa manifestação, aquela turba enfurecida
e nada democrática cercou o centro de trabalho do PCP, na cidade, e,
durante a noite, sucederam-se os ataques da guarda-avançada do ELP,
que viera de Braga e de outros sítios, no lançamento de cocktails
Molotov e todas as ofensivas, com a cumplicidade do comando da PSP,
que levaram ao incêndio do centro e à morte de um militante
comunista.
Nesse
fim de dia, nas janelas e varandas da sede do PS, em Viseu, podiam
ver-se caras felizes com o que estava a acontecer. Está aí, nos
livros e documentos até dos serviços da CIA e outros, dos Estados
Unidos da América, o que foi a conspiração paga pela Alemanha
Federal, apoiada por Carlucci e os americanos, suportada pela Espanha
de Franco, no apoio ao ELP e ao MDLP, no bombismo e terrorismo a que
a igreja mais feudal deu apoio e guarida.
No
1º Congresso dos Escritores Portugueses, Vasco Gonçalves pediu aos
intelectuais presentes que aderissem ao trabalho de esclarecimento e
mobilização popular a favor da democracia e da revolução. O
primeiro a subir ao palco, para se inscrever nas listas de apoio às
campanhas de dinamização cultural, foi Francisco Sousa Tavares,
numa premonitória indicação de como foram levadas a cabo as
infiltrações e o trabalho de reacção de que ele foi porta-voz,
como director do jornal A Capital.
Mas
escritores, artistas plásticos, músicos, grupos de teatro,
dramaturgos como Bernardo Santareno, intelectuais como Fernando Lopes
Graça e José Gomes Ferreira, gente esclarecida e generosa, das
áreas da engenharia, da medicina, da agricultura, da electrificação
e do saneamento básico, entre outras, deram o seu contributo para
que ainda hoje perdurem organizações locais e populares criadas com
as campanhas de dinamização do MFA, para que haja experiências e
memórias notáveis, nos estão vivos e resistem, nos livros, filmes
e outros documentos que são testemunhas de que houve generosidade,
entrega a ideais e uma vontade imensa de impulsionar a revolução e
transformar a vida.
Entretanto,
não esqueço um médico brasileiro da equipa de Sernancelhe,
esquerdista hábil a provocar divisões, a instalar a confusão nos
militares e civis. Como não esquecerei um dito engenheiro químico,
que, em pleno verão quente de 1975, se ofereceu para fabricar bombas
para travar a contra-revolução… Eram exemplos de como as
infiltrações e os provocadores vieram trabalhar para atrasar e
atacar dinâmicas que eram decisivas.
O
imperialismo e os seus seguidores e comparsas em Portugal ajudaram a
destruir o que muito de positivo a Revolução do 25 de Abril nos
trouxe. Poder Local democrático, nacionalização dos bancos,
grandes empresas e sectores fundamentais da nossa economia, reforma
agrária vital nos campos do Alentejo e Ribatejo, entre as conquistas
das liberdades fundamentais e dos direitos à organização política,
a eleições livres e à intervenção dos trabalhadores nas
empresas.
É
bom não esquecer quem foram os revolucionários e quem foram os
comparsas e agentes da contra-revolução, de que Mário Soares será
expoente máximo, entre outros.
Devo
lembrar que muitos companheiros que trabalharam na CODICE levaram
essas experiências para a amplitude da acção da Secretaria de
Estado da Cultura, do FAOJ e outras estruturas que impulsionaram a
descentralização e a acção cultural em todo o país.
Um
povo digno e interventivo tem memória e tem projectos de futuro. Aí
está a realidade violenta que os cultores e praticantes do golpe
contra-revolucionário de 25 de Novembro iniciaram e lançaram. Aí
estão a miséria instalada, o sofrimento, a destruição de
conquistas e direitos fundamentais. Mas aí estão também a força e
a luta dos que nunca transigiram e de uma juventude que se torna
interveniente e activa, na mudança política, social, económica e
cultural que se impõe levar a cabo.
Aí
estão novamente as propostas divisionistas, o silenciamento, o ódio
e o ataque às forças mais consequentes e revolucionárias. No
fundo, a luta de classes sempre, a exigir novas campanhas de
dinamização e acção cívica, organização politica, sindical e
associativa para criarmos mais e mais unidade, mais força para
abrirmos as estradas e os estradões por onde o nosso povo sairá da
ignorância espalhada e assumirá os direitos ao trabalho, à
felicidade e à libertação destes jugos de exploração e
destruição da nossa economia e futuro.
Não
haverá lugar para hipocrisia oportunista e eleitoral, na disputa de
“pataca a mim pataca a ti”, nos jogos centristas de poder.
Convirá
que não haja, e que as contemplações e as ilusões não vicejem de
novo, em mentes cortesãs e sempre afectas a qualquer poder que aí
venha. Do que precisamos, agora, é de forças e vontades claras,
porque não há margem para o engodo e o engano envolvidos em
posturas falsamente democráticas e conciliadoras do que é
inconciliável.
Nesta
sessão de homenagem a Ramiro Correia e a todos os militares e civis
da Revolução do 25 de Abril, lembramos as conquistas da revolução
e afirmamos que elas estão aí, na Constituição da República
Portuguesa e nas nossas mãos, nas lutas e na manifestação que hoje
mesmo decorre, nesta cidade, e onde estamos de alma e coração com
os trabalhadores e o povo de Lisboa e da margem sul, porque é
necessário derrubar este governo destruidor de direitos essenciais e
da vida dos portugueses.
E
é necessário criar condições para que Portugal se veja livre de
falsas e ilusórias soluções de nada e de coisa nenhuma.
Não
há margem para enganos. Só se engana quem quer. Os que estão com a
democracia e o 25 de Abril exigem um governo de independência e
afirmação nacional, na libertação da exploração e do
capitalismo europeu e mundial que nos afoga em juros e ordens,
através de um governo servil e de gente que assina Pactos e depois
finge que assobia para o lado de onde poderá vir novamente o poder
que já usaram para destruir.
O
25 de Abril está aqui e está aí, nas ruas de Lisboa e do país,
nos homens, mulheres e jovens que lutam por uma vitória que é
urgente e é possível.
Assim
todos saibamos construir a unidade necessária para a liberdade e um
novo país que queremos e que merecemos.
Modesto
Navarro/Escritor e vogal da Direcção da ACR
Trinta e seis anos
de poder contra-revolucionário disfarçado de república democrática
partidária, nos separam daquele clarão fugaz que foi a Revolução
de Abril: a nossa Pátria recuperada, entrevista num relâmpago de
sonhado futuro.
“Como
chegámos a isto?”, é a pergunta sacramental com travo lamuriento,
milhentas vezes lançada ao vento, deixando a questão em suspenso.
Ora a verdade é que a esmagadora maioria dos que a formulam conhece
bem e tem a perfeita consciência da resposta. Que é só uma, de
lógica e manifesta evidência: Portugal e os portugueses foram
conduzidos para o actual abismo de agonia e desesperança por obra e
desgraça dos sucessivos governos/governantes contra-revolucionários
da II República, desde o I Governo constitucional, em Abril 1976, do
Partido Socialista presidido por Mário Soares.
Esta
resposta/conclusão, “necessariamente verdadeira” (apodíctica),
jamais pode ser aceite pela seita do “politicamente correcto” (a
chamada, classe política) que, desgraçadamente, governa o País
em proveito próprio, há quase 40 anos Entende-se a recusa. Seria
ipso facto,
reconhecer as sua culpa e responsabilidades na catastrófica situação
“a que isto chegou”. Em desespero de causa caluniam a revolução
libertadora de Abril, atribuindo-lhe a origem de todos os desastres e
malfeitorias acontecidas nos subsequentes 36 anos. É caso para
perguntar: Incluindo o actual milhão de desempregados? A
venda/privatização dos bens e das empresas públicas? A abdicação
da soberania nacional para uma tutela de capitalistas anónimos?
(Quanto a vilanias e abusos, contas mil haverá).
Anote-se
que esta gente concentra o seu ódio expiatório sobre o Processo
Revolucionário de 1974-75. Para eles, o fascismo nunca existiu. Ou
melhor ainda: está absolvido; dir-se-ia cooptado, a avaliar pela
veneração que o actual regime dedica aos sobrevivos (Adriano
Moreira/Veiga Simão, etc)) e aos defuntos próceres do “anterior
regime”. São todos farinha do mesmo saco. A atitude veneradora
confirma a identificação.
Para
esta gente e seus comandatários a Revolução de Abril é anátema,
um alvo permanente do ódio da classe reaccionária/ burguesa contra
a classe trabalhadora. Eles não esquecem que o 25 de Abril
representou –e ficou significando – a reconquista da dignidade
e dos seus direitos espezinhados pelo regime fascista. Injuriar a
revolução está dentro da lógica desforrista dos
contra-revolucionários. A desvalorização menos ofensiva que usam é
apelidá-la de loucura.
Pois
que seja. Vamos então reivindicar a loucura
da Revolução de Abril. Loucura
que foi epifania, que foi epopeia, que foi paixão e esperança,
rasgar de horizontes libertando mentes e medo; loucura
que foi – e ficou sendo – interregno luminoso na apagada e vil
tristeza da existência hodierna da Nação Portuguesa; que despertou
o entusiasmo solidário e afectivo de multidões de homens e mulheres
pelo mundo fora, saudando a coragem do desafio; loucura
que fez tremer de cagaço as merdosas elites lusitanas, em súplica
aterrorizada de uma salvadora intervenção estrangeira, na postura
agachada dos traidores e dos cobardes.
Ora,
em contraste flagrante com esses 500 dias de exaltação patriótica
e alegria popular .... Qual é o saldo dos 36 anos que se seguiram,
com a governação exclusiva – virtual ditadura – dos partidos
contra-revolucionários? A resposta “necessariamente verdadeira”
está à vista de todos, é sentida e sofrida pela vasta maioria da
população. A classe no poder, no decurso de vinte governos
consecutivos, conduziu o País à ruína económica e falência
financeira, ao empobrecimento geral, o desemprego em massa, à
ausência de perspectivas para a juventude e gerações vindouras;
para a desmoralização da sociedade e a corrupção das
consciências; para uma louca perseguição à classe trabalhadora,
toda ela: funcionários públicos, assalariados por conta de outrém,
pequenos empresários independentes, reformados e pensionistas, etc,
etc. É a subversão do Estado, a perversão da democracia. Eles
sim, eles são loucos, paranóicos, ensandecidos pelo poder. Por
fim, negoceiam a soberania nacional com um trio de controleiros do
capitalismo usurário. Eles são traidores; eles os vencedores de
Novembro são arguidos em crimes de lesa-Pátria!
A
República Contra-Revolucionária de maquilhagem democrática,
percorreu - em menos anos que o fascismo salazarento - uma idêntica
trajectória de repúdio popular, criando uma semelhante atmosfera de
antagonismo social que, em termos de desespero no presente e
desesperança pelo futuro, está ultrapassando os piores momentos
vividos pelo Povo Português enquanto do pesadelo do fascismo
salazarento.
Que
enorme é o contraste com o tempo feliz da Revolução de Abril, a
revolução da esperança atraiçoada!
Nas
circunstâncias actuais, em que o governo burguês em funções
prossegue uma política de perseguição e espoliação sobretudo
contra a classe trabalhadora, mas atingindo também muitas outras
faixas da população portuguesa, a “Associação Conquistas da
Revolução - ACR”, na estrita observância do seu propósito
estatutário, considera dever assinalar (comemorar) a passagem do 39º
aniversário do 25 de Abril, evocando a obra patriótica levada a
cabo durante o período revolucionário em prol das classes
trabalhadoras e os sectores mais desafortunados da sociedade.
Nessa
perspectiva a ACR convoca a memória, o exemplo e o legado de RAMIRO
CORREIA
Para
dar testemunho pelo Processo Revolucionário de 1974/5
Efectivamente convocar
o exemplo, a memória e o legado de Ramiro Correia configura uma
iniciativa que, a todos os títulos, se integra, nos objectivos
estatutários da ACR; ou seja, sumariando: preservar, divulgar e
promover os valores e ideais da Revolução de Abril e das conquistas
sociais e populares então alcançadas.
A
invocação/testemunho, em que hoje estamos aqui participando,
acontece numa fase da história da humanidade dominada por um
imperialismo capitalista agressor; o qual, em obediência a um
sinistro programa ideológico global visa impor ao mundo um modelo de
sociedade “contra-revolucionária”, onde a classe trabalhadora
esteja condenada ao empobrecimento e à servidão sem direitos
(adquiridos, ou por adquirir).
É, exactamente, esse
programa/doutrina (neo-liberal/neo-conservadora) que está sendo
implantado no nosso País (e noutros), executado submissamente pelos
sucessivos governos constitucionais, sob tutela pessoal dum trio
(troika) de agentes do grande capital especulativo estrangeiro.
A política de
austeridade imposta pela troika ( roubalheira, lhe chama o povo
trabalhador)), a privatização de sectores inteiros da economia e
dos serviços públicos, o assalto e destruição do aparelho do
Estado, etc, etc, estão suscitando um clamor de protestos e
indignação, de repúdio e condenação. Ouve-se e vê-se por todo
o lado, em todo o País.
Estamos portanto,
perante uma singular oportunidade para agitar a bandeira das
Conquistas da Revolução. Não só, como argumento contraditório da
acção política de todos os 19 governos partidários
contra-revolucionários (com destaque para o actual e o precedente);
mas também, para condenar a sinistra doutrina neo-liberal a que se
submeteram (e ao País) com intenções suspeitas, porventura
configurando crimes de lesa-Pátria.
A ACR, nomeadamente a
sua Direcção, mostrou estar atenta à oportunidade que o próximo
aniversário do “25 de Abril” oferece para pôr em destaque, a
“Alegria e Felicidade” dos 500 dias do Processo Revolucionário,
em contraste flagrante com o sentimento de “Agonia e Desesperança”,
que hoje domina Portugal e os portugueses. Após e em resultado, de
36 anos de governação contra-revolucionária onde imperou a
incompetência, a corrupção e o ódio às classes trabalhadoras.
As iniciativas
previstas, em Abril, segundo anunciado na Folha Informativa ACR de
Março, abrem com a sessão pública que estamos realizando, aqui e
agora, dia 13. O que também permite uma oportuna demarcação
relativamente às solenes e hipócritas celebrações oficiais
/oficiosas orquestradas, desde 1976, por uma classe política,
inimiga ferrenha da Revolução; em especial das suas Conquistas
.....que são, precisamente, o lema da nossa Associação.
Vivam as Conquistas
da Revolução Abaixo os inimigos do Povo Trabalhador
Ramiro Correia foi um
dos principais e mais conhecidos obreiros da grande construção
colectiva e patriótica das Conquistas da Revolução. No campo
militar, foi o criador de um dos projectos mais ambiciosos da
Revolução Portuguesa de 1974-75: a “Dinamização Cultural/Acção
Cívica”. No seu delineamento e execução empenhou-se
revolucionariamente; isto é, de corpo e alma, de total entrega e
dedicação. Foi um dos militares do MFA mais queridos e populares
entre a gente de trabalho e de cultura A sua intervenções públicas
em comícios, rádio, televisão eram aplaudidas como sinal de
confiança e de esperança. A derrota sofrida pela Revoluçãoem
25.Nov.75 encontra naturalmente Ramiro Correia do lado da coerência,
da dignidade, do socialismo. E desse lado se manteve, desde Maio de
1976, na República Popular de Moçambique, até à hora final em
Agosto de 1977. Aí me coube o doloroso dever de evocar, em homenagem
fúnebre, os passos fundamentais da sua vida ( não chegou a
completar os 40 anos), perante o seu caixão, o de s/mulher e o do
filho mais pequeno, vitimados por uma terrível tragédia em
que transformou um passeio da família numa frágil embarcação.
(Estava eu na RPM com estatuto de exilado político) .
Disse então:
“Subitamente, na clivagem do tempo”, (para utilizar o título de
um teu poema), terminou a tua vida Ramiro. Em cenário de tragédia
antiquíssima, solene, tão tremenda que jamais a emoção deixará o
entendimento esquecer.
O teu exemplo, esse
permanecerá herança do Povo Português, dos Povos do Mundo, legado
precioso e fecundo de um HERÓI DO NOSSO TEMPO.
“E nós
nomearemos o tempo”, como tu nos exortas ao fechar o teu livro
“MFA e LUTA de CLASSES” (Março 1976).
E assim será feito:
pela Democracia - pelo Socialismo - pela Revolução de Abril e
também pelo futuro que começaste
Porém, a louca
corrida para o abismo da II República burguesa
contra-revolucionária, afastou esse teu (nosso) sonho para data
incerta. Em 2002, em cerimónia assinalando o quarto de século do
acidente fatal onde perdeste a vida, houve oportunidade para
nomear/qualificar a situação portuguesa e mundial que então se
vivia, como “Tempo de Alerta e Angústia”.
Passados onze anos,
aqui estamos nós – Portugal e os portugueses- vivendo um tempo
ainda mais perigoso e sombrio.
O desânimo e a
descrença alastraram para vários e novos sectores da sociedade, da
chamada classe média. Por outro lado –e também por isso – a
indignação, o repúdio e a revolta contra a políticas de rapina e
austeridade, a espoliação dos mais desprotegidos , etc, atingiram
novos níveis, mobilizaram novas vontades. Creio poder afirmar-se
que uma situação pré-revolucionária está em gestação , aquele
momento singular em que tudo pode acontecer.
Na presente situação
político-social portuguesa, creio ser de compreensão geral que esta
sessão pública organizada pela ACR , ao convocar o testemunho de
Ramiro Correia, não pretendeu apenas enaltecer a sua personalidade
ímpar e o extraordinário contributo que deu e legou para glória
da Revolução de Abril. ´
Na realidade, estamos
pedindo-lhe um duplo testemunho, dialecticamente interligado:
Testemunha de
Defesa das Conquistas da Revolução. Tarefa cumprida,
pela qual responde o seu passado patriótico e revolucionário, a
consagração popular e pública, o registo histórico em centenas de
documentos, livros etc, destacando os de sua autoria.
Testemunha de
Acusação dos governos contra-revolucionários da II
República, da inalterável orientação política de ódio à
classe trabalhadora; em especial, uma política de “terra queimada”
em relação a todas as Conquistas da Revolução. Uma política
desforrista, mesquinha, malévola; um projecto deliberado de
empobrecimento e de submissão ao império do capitalismo
internacional. Como alguém sintetizou de forma (ainda mais)
expressiva :-“Esta canalha está fazendo do amanhã uma ponte
para ontem”- .
Caros Amigos e Camaradas,
Decerto contaríamos
com a pronta aceitação de Ramiro Correia deste encargo
(fictício/póstumo) para testemunhar em defesa das CONQUISTAS DA
REVOLUÇÃO; agora, utilizando-as como arma acusatória do sinistro
projecto político/ideológico em curso.
Para terminar, vamos
invocar Ramiro Correia - a cuja memória esta sessão é dedicada -
como um dos admiráveis obreiros das “Pontes para o Futuro”; que
assim também podem ser chamadas as CONQUISTAS da REVOLUÇÃO.
J.Varela Gomes
//Coronel ref.