CRIMES SEM CASTIGO

 

CRIMES SEM CASTIGO

Manuel Begonha
Presidente da Assembleia Geral

 

No passado dia 24 de Junho, um grupo de imigrantes africanos que tentava ultrapassar a vala fronteiriça entre Marrocos e Melilla, cidade autónoma espanhola, foi brutalmente reprimida por forças militares conjuntas espanholas e marroquinas, de que resultou a morte de dezenas de pessoas.
Apesar da ONU ter anunciado um inquérito a este massacre, Pedro Sanchez, chefe do governo espanhol, afirmou que "o caso foi bem resolvido." 
Entretanto, cinco dias após este acontecimento, na cimeira da NATO em Madrid," foi considerado que a Imigração, constitui uma ameaça à soberania dos respectivos estados ". (1)

Em 15 de Junho do corrente ano, apareceram na região do Vale de Javari na Amazónia, os corpos do brasileiro Bruno Araújo Pereira, sertanejo e indigenista e do britânico Dom Philips, jornalista.
Foram assassinados a tiro e posteriormente queimados e esquartejados.
Em áreas protegidas como esta, tem sido estimulada a acção de bandidos armados.
A Amazónia com a complacência do Presidente Bolsonaro, tem sido objecto de um enorme e irreparável desastre ecológico de devastação ambiental, levada a cabo por agentes ilegais ligados à pecuária, ao garimpo, à extracção de madeira, pescadores e caçadores, alguns dos quais relacionados com o narcotráfico.
Bolsonaro, considerou a ida destes homens para a região "uma aventura ", quando eram amplamente conhecidos por defenderem a preservação da floresta amazónica e dos povos que nela vivem.
A 7 de Julho deste ano, o Parlamento Europeu, aprovou uma resolução que condena as acções de Bolsonaro na área ambiental e de perseguição aos indígenas e aponta para a investigação das mortes na Amazónia. (2)
No entanto, no funeral de Bruno Pereira, ninguém do Governo Federal se fez representar.
Felizmente em todo o mundo há pessoas assim que seguem resistindo, apesar da perseguição, do risco de vida, do ostracismo e da criminalização.
Aqui chegado, depois destes iníquos assassinatos, ocorre-me recordar o que escreveu Mia Couto "Infelizes os que matam a mando de outros e mais infelizes ainda os que matam sem ser a mando de ninguém. Desgraçados, enfim, os que depois de matar se olham no espelho e ainda acreditam serem pessoas".

(1) Opinião João Melo - Diário de Notícias, 5-7-2022
(2) Marcelo Freixo - Carta Capital n 1213 /22, Junho 2022