Proposta de Sócio de Mérito [José
Saramago]
A
Direcção da ACR, na sua reunião de 19 de Março, nos termos do Artigo 7º dos seus
Estatutos, aprovou por unanimidade submeter, à Assembleia-Geral de associados,
a proposta de atribuição da qualidade de Sócio de Mérito da Associação
Conquistas da Revolução a José
Saramago.*
“De como a personagem foi mestre e o autor
seu aprendiz”…anunciou José Saramago em Estocolmo no dia 10 de Dezembro
de 1998 ao ser distinguido com o “Prémio Nobel” da literatura.
Esta lucidez e humildade só podem ser a marca de um
grande ser humano. Aquela «personalidade
em que uma cultura se identifica, em que uma literatura se ilustra e em que um
idioma se singulariza, deixando um legado “inestimável e precioso, fruto do
milagre que a literatura e as suas palavras favoreceram, nas Histórias que
contou, nos poemas que escreveu e no teatro que construiu”» (Citámos Carlos
Reis).
A obra de José Saramago contribuiu para restituir a
história àqueles que são ignorados pela prosa oficial e a sua vasta e singular
obra literária, deu à língua portuguesa e a todos os povos que a falam, um
Prémio Nobel, com tudo o que ele significa de reconhecimento internacional,
transformando-o num embaixador da língua e cultura portuguesas. Mas, mais que
isso, uma voz lúcida, inconformada, firme e insubmissa na luta pela liberdade;
a que usava na sua escrita como reflexão sobre as grandes causas da humanidade,
incomodando as consciências e fazendo pensar os destinatários.
Bem verdade, o que muitos afirmam: «Saramago
ocupou um espaço heterodoxo. Fora dele estava a literatura - e de forma por
vezes provocatória, a grande literatura.»
Mas antes de se tornar famoso, José Saramago já se
tinha distinguido pela sua firmeza na luta contra o fascismo e na defesa da
Revolução após o 25 de Abril. Militante do Partido Comunista Português esteve
sempre nas trincheiras das batalhas pela queda da opressão fascista e pela
alvorada da liberdade. E é curiosamente na sua obra «Levantado do Chão» escrita
em 1980,numa povoação rural do Alentejo (Lavre), que Saramago diz ter iniciado
uma outra forma de “lavrar” a escrita, o seu outro jeito de narrar a ficção
novelesca. Mais tarde um governo reaccionário já da “Democracia de Abril”,
presidido pelo actual PR, censura a sua candidatura ao Prémio Literário Europeu
com o livro “O Evangelho segundo Jesus
Cristo”. Por isso decidiu emigrar para Lanzarote/Canárias, onde faleceu,
mantendo sempre estreitas ligações com Portugal,a sua vida política, social e
cultural.
Tal proposta,
visa homenagear uma vida e uma obra de exemplar dedicação à defesa da liberdade,
da cultura e do povo – uma vida e uma obra que integram um combate de décadas
contra a ditadura fascista e uma intervenção marcante na revolução portuguesa; uma
participação intensa e criativa, até aos seus últimos dias de vida.
Pelo que
ainda hoje e sempre significarão, a vida
e a obra de José Saramago, a Direcção da Associação foi unânime em concluir
que, como exemplo e estímulo, as mesmas configuram
relevantes contributos para a realização dos objectivos da nossa Associação.
Compete-nos
ainda informar que se José Saramago fosse vivo seria nosso associado efectivo;
um ano antes de falecer foi dos primeiros aderentes a este nosso projecto
associativo.
Lisboa
3 de Abril de 2014
A
Direcção
*José de Sousa Saramago [1922-2010].
Prémio Nobel em 1998 e Prémio
Camões em 1995,entre outros. Criou a “Fundação José Saramago” em 2007 com a
finalidade da defesa e divulgação da literatura portuguesa, a exigência do
cumprimento da Carta dos Direitos Humanos e a defesa do meio ambiente.
APROVADA POR UNANIMIDADE E ACLAMAÇÃO