Sob o domínio da insensatez, da arrogância, da indiferença, e
da prepotência, perpetrado por este governo, ocorre perguntar quanto vale a
vida de um povo.
Quando a crise se agudiza e o sentimento de injustiça se
torna um garrote sobre a nossa consciência colectiva, aumenta uma insatisfação
corrosiva, misto de impotência e de revolta. O povo vai-se tornando triste sob
uma canga que embora insuportável não parece inevitável, embora possa conduzir
ao conformismo. Entramos num cenário em que percebemos que nos querem roubar o
futuro. Quando se anseia pelo futuro cria-se mais passado. Contudo, pode chegar
o dia em para nós apenas existirão os bons tempos do passado, não havendo mais
nada do que o passado.
A nossa luta terá de ser dirigida contra essa atitude. Temos
de reivindicar o futuro, confirmado num momento supremo, quando surgir a
oportunidade de nos descobrirmos, lançando uma espécie de luz sobre tudo o que
nos rodeia.
Vem isto a propósito de duas questões que vêm ensombrando o
actual processo político e contribuindo para o estado depressivo a que nos
querem remeter:
A manipulação e a corrupção com os infiltrados.
A manipulação é uma arma utilizada com despudor pelo governo.
Desde os sucessivos erros que se verificam na execução dos orçamentos, que mais
não são que pretextos para levar o nosso povo a um dos regimes salariais
mais baixos da Europa, com a correspondente destruição do tecido económico e
descontrolo do desemprego; às cargas policiais orquestradas e destinadas a
distrair a opinião pública de outros importantes acontecimentos; à questão da
RTP com as suas intrigas palacianas para corromper a respectiva privatização; à
entrega do nosso património mais valioso a preço de conveniência que vai
transformando cada vez mais Portugal num protectorado; à insustentabilidade da Segurança Social que mais não
é que um artifício para empobrecer ainda mais os pensionistas e os reformados,
mesmo os que menos recebem e ainda às manobras de diversão destinadas a
descarregar um golpe fatal sobre a Constituição da República, retirando-lhe
todos os resquícios dos ideais de Abril e isto sob o beneplácito dos membros do
Governo que juraram pela sua honra defendê-la.
O mais trágico desta situação, é estar-se a permitir que
Portugal constituía um laboratório de experiências sobre as teorias
económico-financeiras para limitar crises.
A corrupção e os infiltrados é a segunda questão que vem
inquinando a nossa concepção de ética e patriotismo.
Os primeiros infiltrados são alguns membros do governo tendo
como expoente máximo o Primeiro-Ministro e o Ministro das Finanças, que não
estão de facto ao serviço do povo português, nem preocupados com o seu destino.
O primeiro está condicionado pelo ultra liberalismo. Esse é o seu horizonte
contra tudo e contra todos.
Ao segundo, apenas interessa mostrar serviço à Troika para
garantir um lugar num dos integrantes dessa tríade; É portanto com razão que
lhe chamam “o cavalo da Troika”.
Outro infiltrado essencial desta trama, é o Ministro Relvas,
cuja principal preocupação é servir-se, através do seu relacionamento com o
grande capital, nomeadamente com o de Angola e do Brasil.
Não devemos ainda esquecer a extraordinária relevância que
têm nesta matéria, outros infiltrados como os escritórios de advogados que
jogando em dois tabuleiros, colocam alguns dos seus quadros no governo ou no
parlamento, enquanto negoceiam e aconselham o estado nas decisões financeiras
mais significativas, como os das Parcerias Público-Privadas.
Outro tipo de infiltrados são os tribunais e alguns
procuradores que pelos favorecimentos que vão permitindo, tanto mal têm causado
ao prestígio da nossa Justiça.
Poderemos então concluir que por estarem tão deliberadamente
a destruir a economia de Portugal e a empobrecer e a desencantar os
portugueses, Passos Coelho e Vitor Gaspar não serão absolvidos pela História.
Manuel Begonha
Presidente da Associação Conquistas da Revolução