A 5ª Divisão do EMGFA na Revolução de Abril | Palavras de abertura do Presidente da Direção da ACR

 

Palavras de abertura do Presidente da Direção da ACR em

18 de Julho

na Iniciativa dedicada a assinalar o papel da

 

A 5ª Divisão do EMGFA na Revolução de Abril

 

            Comemorar os 50 da Revolução de Abril vem acontecendo numa miríade de iniciativas que estão ancoradas numa leitura diferenciada do que foi a Revolução de Abril.

            Às comemorações oficiais juntam-se na sociedade portuguesa um sem número de outras iniciativas tão ou mais importantes que essas, desde logo o pujante desfile realizado a 25 de Abril que inundou a Avenida da Liberdade e foi acompanhado na nossa Pátria por incontáveis expressões de celebração de Abril que se espalharam por todo o mundo.

            Foquemo-nos no falar sobre o "Depois do adeus..." ter aberto a porta ao "Grândola vila morena".

            Há sectores na sociedade portuguesa que, impossibilitados de não falar sobre as comemorações de Abril, fazem-no para subverter o que foi e representa na História contemporânea da nossa Pátria a Revolução de Abril.   Outros querem circunscrever tais comemorações ao mero assinalar do que se passou na noite de 24 para 25 de Abril de 1974 e, outros, a contragosto, a isso pouco mais acrescentam.

            Para nós, Associação Conquistas da Revolução, falar da Revolução da Abril, é isso mesmo, é falar da Revolução que Portugal viveu e, na construção que emergiu do confronto com as forças que a ela se opuseram e a que as massas populares, em estreita aliança com o Movimento das Forças Armadas, tiveram que dar resposta. Resposta que se prolonga para lá de 2 de abril de 1976, data da promulgação da Constituição de Abril e que nos acompanha até aos dias de hoje em consequência dos avanços sociais que Abril nos trouxe e os retrocessos que as forças anti Abril introduziram e pretendem reintroduzir na nossa sociedade.

            Portugal viveu uma Revolução e vive uma Contra revolução que podemos datar a 25 de Novembro de 1975 mas cuja força foi insuficiente para impedir a promulgação da Constituição de Abril 1976, promulgada a 2 de abril desse ano.

            Como Varela Gomes respondeu ao interrogar-se a si próprio sobre quem resta para celebrar sinceramente a Revolução dos Cravos, cito "somos parte dos "culpados do costume": os revolucionários e antifascistas militares e civis , que não renegaram as suas posições" aludindo a uma maioria revolucionária. Escrito há 25 anos atrás, confirmado 25 anos depois no desfile popular das comemorações do 25 de Abril, a Associação Conquistas da Revolução faz parte desses "culpados do costume" e a iniciativa que hoje aqui trazemos assenta em três vetores:

            - O simbolismo da data;

            - O papel da 5ª Divisão na Revolução

            - Homenagear Varela Gomes na oportunidade de passarem 100 anos sobre o seu nascimento em 1924, a 24 de maio.

            A escolha da data de 18 de julho deriva do simbolismo que se lhe reconhece. Em 18 de julho de 1974 tomou posse o II Governo Provisório, o primeiro chefiado por Vasco Gonçalves que nesse dia cessou as funções de Chefe da 5ª Divisão.

            O II Governo Provisório sucede ao que ficou conhecido por golpe Palma Carlos, uma manobra spinolista que visava subverter o cumprimento do Programa do Movimento das Forças Armadas (MFA) ao alterar o curso aí definido de realização de eleições para uma Assembleia Constituinte cujos deputados elaborariam uma Constituição a promulgar pelo Presidente da República.          O golpe Palma Carlos constituiu o desenvolvimento de anteriores iniciativas e ideias de Spínola que já tinham obrigado a ajustes no texto do Programa do MFA, ajustes com os quais Spínola ficara insatisfeito.

            Nesse tempo, Portugal era um caldeirão efervescente de correntes e contra correntes sociais, como se de uma tempestade se tratasse, e onde a 5ª Divisão, pela sua atuação e as forças contrárias que contra ela se revelaram, era alvo a abater pela contra revolução.

            A partir de 25 de Abril de 1974 viveu-se em Portugal o agudizar do confronto  com as forças nessa data derrotadas. Esse confronto desenvolveu-se em crescendo e teve um significativo embate a 28 de setembro de 74. Precedido dos apelos à manifestação da "maioria silenciosa" e do enxovalho público a Vasco Gonçalves, Primeiro Ministro, na Praça de Touros do Campo Pequeno (26 de setembro, onde acompanhou Spínola à tourada promovida pela Liga dos Combatentes) o embate foi ultrapassado com a saída de Spínola da Presidência da República e o confronto atinge um pico de conflitualidade com o golpe spinolista de 11 de março de 1975 e mais tarde com o golpe contra revolucionário de 25 de novembro de 1975.

            Na 5ª Divisão desenvolveu atividade o Cor Varela Gomes onde chefiou o Centro de Sociologia Militar. Nesse contexto, concomitantemente com o reconhecimento da importância da atividade que desenvolveu enquanto esteve colocado na 5ª Divisão e atento o facto de passarem 100 anos sobre o seu nascimento, entende a ACR prestar homenagem à personalidade de Varela Gomes e da sua vida de anti fascista e revolucionário.

 

            O que nos traz aqui ao propor um debate refletido sobre o papel da 5ª Divisão na Revolução tem a dupla finalidade de contribuir para

            - Preservar a memória

            - Desbravar caminho para o futuro - uma verdadeira Democracia, uma Democracia como Abril a potenciou e a sua Constituição acolheu.

            Na qualidade de Presidente da ACR agradeço desde já, a todos, o empenhamento colocado na preparação e mobilização para a Iniciativa. Estou certo que as palestras e debates, pela qualidade dos palestrantes e das audiências, preencherão as nossas mais exigentes expetativas.

 

            Vamos a isso!

 

 

Registo sucinto de como a Iniciativa se desenrolou

 

            Toda a sessão foi gravada e oportunamente será disponibilizada ao público.

            Contámos com um número de presenças que ao longo do dia foi oscilando, sempre bem acima da centena de presenças e momentos houve a meio da manhã e da tarde em que se contariam cerca de 150 pessoas no espaço da Voz do Operário em que a Iniciativa foi decorrendo.

            Ao debate sobre a 5ª Divisão sucedeu-se a homenagem a Varela Gomes com uma excelente comunicação de António Louçã a que se sucedeu o ainda mais excelente documentário de Paulo Guerra e Edgar Feldman "VARELA GOMES - um olhar próprio". Foi um documentário que a todos emocionou e é uma excelente peça sobre Varela Gomes.

            Da parte da tarde a sessão destinada às diferentes áreas de atuação da 5ª Divisão no domínio da Cultura e das Artes manteve o nível de qualidade e interesse e encerrámos o dia com a brilhante, pela performance e reportório executado, atuação do Pires da Rocha e músicos que aqui nos trouxe e do declamador António Levy que nos ofertou com excelentes textos, vários deles recuperados de publicações no Boletim do MFA.

            A todos a assistência manifestou o seu agrado.

 

            Aos que com a ACR colaboraram na realização da iniciativa deixo aqui o agradecimento da ACR e de mim próprio permitindo-me referir especificamente um especial agradecimento à Voz do Operário e aos seus trabalhadores.

 

            Oportunamente publicaremos fotos e outros materiais de registo da iniciativa.

 

                        Saudações de Abril

                              Jorge Aires

                      18 de julho de 2024