A ENCRUZILHADA DA RÚSSIA
Manuel Begonha, sócio da ACR
Até finais de 1990, a economia da URSS foi confrontada com um grande desenvolvimento dos meios militares e tecnológicos dos EUA.
Enquanto que numa sociedade capitalista como a norte-americana, a produção de armamento e a respectiva venda é essencial para o crescimento da máquina militar industrial, para uma sociedade socialista manter-se em paridade com esta escalada é inviável..
As verbas desviadas para a indústria militar, impedem a obtenção de recursos essenciais para o povo, como a saúde, a educação, a habitação, os salários e outros.
Tal sucedeu na URSS, aumentando progressivamente o descontentamento, ajudando e muito, para além de outros desvios, os que conspiravam para a correspondente implosão o que veio a acontecer em 26 de Dezembro de 1991.
Presentemente, agora a Rússia, está envolvida numa nova guerra.
Desta vez os EUA, através da NATO, tentam assegurar a correspondente duração, julgo que com dois objetivos :
1. A curto prazo
Aproveitar o sacrifício subserviente da UE, proporcionando à Ucrânia armas capazes de atingir infraestruturas críticas de segurança, com o fim de provocar uma resposta russa - para não mostrar fraqueza -, recorrendo a bombas nucleares tácticas.
Poderia assim ser aberto o caminho para que a NATO invocasse o artigo 5, envolvendo-se numa guerra quente.
Julgam também que tal atitude não se enquadra nos objetivos da política externa da China, contribuindo assim para minar a unidade entre os dois países.
2. A médio e longo prazo
Utilizar o método de desgaste semelhante ao atrás descrito que levou à queda da URSS.
Analisemos alguns factores em presença
De acordo com algumas fontes, as sanções internacionais parece não terem afectado a economia russa que até se fortaleceu com o PMI- que representa as compras em empresas dos sectores industrial e de serviços - subiu para 54.4 pontos, segundo inquérito da "S&P Global".
A componente produção subiu para 56.2, o melhor resultado desde 2008. Esperam assim um crescimento de 4% do PIB em 2024.
Os economistas do "JP Morgan", referem :
"O crescimento económico tem sido largamente impulsionado pelas despesas relacionadas com a guerra. Quase um terço do orçamento russo vai para a Defesa Nacional, representando cerca de 6% do PIB, o que excede as despesas sociais.
Apesar das sanções impostas á indústria de armas russa , a produção manufactureira disparou em sectores relacionados à guerra, como computação, electrónica e óptica, produtos metálicos acabados e veículos."(1)
Contudo, outros analistas realçam que apesar da resiliência face às sanções a Rússia está a viver numa economia de guerra.
O problema é por quanto tempo, se poderá aguentar este dispêndio.
Por enquanto, o défice orçamental consegue ser equilibrado pelas receitas provenientes da exportação de petróleo e gás natural para novos mercados.
Mas esta situação pressupõe um aumento dos preços globais do petróleo e a invulnerabilidade ao alargamento das sanções. Mas a Rússia não deixa de estar sujeita à diminuição da procura e á queda de preços.
A verificarem-se estes factores negativos e face aos mortos que a Rússia também sofre, ao cansaço da guerra e à estagnação da economia, poderiam estar criadas as condições para levar à queda de Putin e conseguir assim uma liderança mais do agrado do Ocidente.
Mas é claro que todos estes cenários não passam disso mesmo e poderão ser modificados por acontecimentos imprevisíveis como por exemplo a eleição para Presidente dos EUA de um qualquer Trump.
(1) Ver "Dados económicos indicam uma realidade dura para o Ocidente : fábrica de guerra da Rússia está em pleno funcionamento". - Francisco Laranjeira