AS CONVULSÕES DO NOVO MUNDO
Manuel Begonha | Presidente da Assembleia Geral
As ondas de choque resultantes da aproximação da Rússia à China, têm provocado grandes movimentações dos dois blocos em confronto.
O dos EUA e seus aliados e o emergente que combate por um mundo multipolar.
No entanto, no tabuleiro da grande política internacional, nem tudo o que vai parecendo é.
Comecemos pelas recentes visitas à China do chanceler Scholz, do espanhol Sanchez, de Ursula Van Leyden e de Macron.
Com o seu habitual pragmatismo, Xi deu preferência aos que se deslocam, tendo na agenda as trocas comerciais. Van Leyden foi a excepção porque levou os estafados recados políticos de Biden, o que fez com que fosse recebida como uma política menor.
Macron teve uma recepção ao mais alto nível,
também porque se fez acompanhar por uma delegação de 60 grandes empresários, tendo assinado numerosos acordos.
No entanto Biden, deve ter ficado bastante agastado, com as declarações que têm vindo a ser proferidas por Macron que referiu o despontar de um novo mundo multipolar, do qual a China é um elemento indispensável à UE, tendo dito inclusive em 9 de Abril passado que esta não deverá ser seguidista relativamente aos EUA, no que concerne a Taiwan.
É claro que perante todos estes sinais, os EUA vão marcando a sua posição por todo o mundo, de uma forma mais ou menos velada, isto é, recorrendo ou á NATO ou á CIA.
Assim, as boas recordações de tranquilidade trazido pela doutrina Monroe e a segurança decorrente das ditaduras resultantes da Operação Condor, impelem os EUA a desestabilizar os países progressistas da América Latina e Caraíbas.
Destacou-se o ataque a Boric no Chile e a sua perseguição permanente, os golpes contra o governo no Peru e a promoção do Fórum de Madrid, realizado em Lima, com movimentos globais de extrema direita organizado pelo Vox.
É ainda de notar, o violento ataque contra a ex Presidente Cristina Kirchner que se estende à sua filha Florence, uma vez que segundo uma recente declaração do senador Ted Cruz, o peronismo ameaça a segurança estadounidense.
Não deverá ainda ser esquecido o boicote a Cuba, à Venezuela e à Nicarágua.
Apesar da pressão sobre Lula para que condene a Rússia e o apoio ao bolsonarismo, este não deixou de visitar a China, trazendo importantes acordos para o Brasil.
Em África a vice presidente Kamala Harris, encerrou uma visita a três nações, Gana, Tanzânia e Zâmbia, onde posicionou os EUA como um parceiro económico e de segurança confiável.
Está ainda na agenda, a interferência nos 40 países africanos que se irão deslocar à reunião preparatória em S. Petersburgo que antecede a grande cimeira na África do Sul, da qual temem uma maior influência da China.
Mas as maiores preocupações da diplomacia norte-americana, centram-se na região Eurasia, Ásia e Índico.
Os acontecimentos não cessam.
O Irão move-se e envia uma delegação à Venezuela.
Os EUA retaliam e através de Israel, atacam a sua Guarda Nacional na Síria e acendem conflitos no Cáucaso, na fronteira Irão Arzerbeijão.
A Arábia Saudita integra-se neste jogo.
O Irão é um dos principais fornecedores de gás à China e a Arábia Saudita de petróleo.
Entretanto, a China e os Emiratos Árabes Unidos, selaram um acordo de pagamento do gás em yuan, abrindo o caminho ao Petroyuan, reforçado também pelo pagamento nesta moeda do gás russo, procurando assim privilegiar acordos em moedas regionais o que irá contornar o dólar.
A Índia que joga com um pau de dois bicos está a preparar eleições.
O objectivo é enfraquecer Modi que não é um presidente da confiança dos EUA que recorrem a Soros que em colaboração com a oligarquia norte-americana, Deep State e Wall Street, tenta uma mudança de regime para o desenvolvimento de interesses comerciais e se apresenta como investidor e orientador de fundos especulativos.
Para as próximas eleições presidenciais em Taiwan, a decorrer a 13 de Janeiro de 2024, existe um partido o Kuomintang (Partido Nacionalista Chinês, PN ch) que as poderá vencer.
Multiplicam-se as ajudas ao partido concorrente (Partido Progressista Democrático PPD), da actual presidente, Tsai Yng- Wen que acabou de regressar de uma visita aos EUA e que não se pretende integrar na China.
Tais perturbações, levam a NATO a ponderar uma forma de se deslocar para o Oriente e assim, estender o cerco à China e ao reforço dos QUAD e do UKUS o que implica a militarização da Índia, Austrália e Japão, seus integrantes.
E apesar deste cenário, prossegue a guerra na Ucrânia.