TEMPOS SOMBRIOS - UM MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO
Manuel Begonha
Presidente da Assembleia Geral
Estamos a atravessar um período cujo futuro é incerto, devido aos acontecimentos que se precipitam na Rússia, China, nos BRICS e em Taiwan.
1. RUSSIA
Por razões políticas, económicas e estratégicas, que veremos adiante, é prioritário para os EUA, travar o desenvolvimento da Rússia, pelo que logo após o fim da guerra fria, tem vindo a ser planeada a respectiva concretização. Após o que vem sucedendo na Ucrânia, não é de excluir, que um desespero irracional poderá conduzi-los a novas provocações, que tanto poderão ocorrer na Polónia, na Finlândia, ou na Noruega, sempre através da NATO, e que no limite poderia levar a uma confrontação com recurso à arma atómica.
Mas antes de hipoteticamente se atingir esta solução extrema, poderemos antecipar o que se vai seguir, lendo a opinião de vários autores norte-americanos de diferentes quadrantes políticos de Henry Kissinger a Noam Chomsky, Michael Hudson, Mathew Ehret, John Foster, John Mearsheimer, Glenn Greenwald e muitos outros.
Mas será muito relevante consultar os estudos e a doutrina da RAND CORPORATING, enviados para o Pentágono, onde está liminarmente descrita a estratégia delineada a prazo para tentar enfraquecer e neutralizar a Rússia. (1).
Na impossibilidade de reproduzir este documento devido à correspondente dimensão que se desenvolve num Prefácio, num Sumário, e nove Capítulos com Recomendações e Conclusões, ao longo de 279 páginas,
pela sua importância, transcrevo os títulos de alguns capítulos.
Nota: A tradução do inglês foi de minha autoria.
Capítulo três
Medidas económicas
1. Impedir as exportações de petróleo
2. Reduzir as exportações de gás natural e impedir a expansão de gasodutos
3. Impor sanções
4. Aumentar a fuga de cérebros russos
Capítulo quatro
Medidas geopolíticas
1. Providenciar ajuda letal à Ucrânia
2. Aumentar o apoio aos rebeldes sírios
3. Promover a mudança de regime na Bielorrússia
4. Explorar tensões no Sul do Cáucaso
5. Reduzir a influência russa na Ásia Central
6. Contestar a presença russa na Moldávia
Capítulo cinco
Medidas ideológicas e de informação
Situação actual da legitimidade do regime russo
Ambiente interno russo
Acções políticas para diminuir o apoio interno ao regime russo
Capítulo oito
Medidas multimédia e terrestres
1. Aumentar as forças terrestres dos EUA e da NATO na Europa
2. Aumentar os exercícios da NATO na Europa
3. Retirar do tratado INF ( Forças Nucleares de Alcance Intermédio).
4. Investir em novas capacidades para manipular a Percepção de Risco pela Rússia
2. CHINA
O grande medo dos EUA é que a China, com algumas ajudas tecnológicas da Rússia, atinja no prazo de cinco anos a sua paridade económica, científica e militar, não ainda na capacidade de projecção de força mas na de defesa e retaliação, de acordo com a respectiva estratégia continental.
Para tanto Biden, lançou o " Marco Económico Indo-Pacifico" (MEIP), para isolar a China e lançar para a sua esfera de influência, outros países da Região Ásia Pacífico, como o Japão, a Austrália e a Índia, uma das mais poderosas economias do mundo.
A estratégia Indo-Pacifico, foca-se na segurança, defesa e cooperação militar e pretende retirar o protagonismo aos problemas económicos da ASEAN ( Associação de Nações do Sudeste Asiático), politizando e militarizando as disputas.
Desta forma, entra em conflito com a filosofia desta que aponta à cooperação.
Os responsáveis chineses entendem que o MEIP, não poderá deter a ascensão continua da China, uma vez que os EUA deram uma ajuda limitada à ASEAN, enquanto que aquela conseguiu um apoio tangível ao respectivo processo de integração e centralidade, através da cooperação prática.
3. BRICS
Por outro lado os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), procuram expandir - se na América Latina com a aproximação à Argentina e México, coordenando um processo de contornar o dólar, como moeda de troca internacional e de reserva de valor.
Outro dos objectivos é conter o expansionismo da NATO.
4. TAIWAN
Constitui o calcanhar de Aquiles da política externa chinesa, república onde os EUA se esforçam por criar uma situação semelhante ao da Ucrânia e levar a uma crise cuja ultima consequência seja o desenvolvimento de uma guerra com a China. (2)
Twain para além da sua importância política e geoestrategica, não é industrial nem economicame despicienda. Grande parte do seu comércio externo é feito com a China.
Mas por exemplo, é o único produtor mundial de semi-condutores da ultima geração.
A TSNC é a primeira fábrica a produzir chips de sete e cinco nanometros, posteriormente aplicados no micro processador Apple A 14, e que tomou a dianteira na comercialização da tecnologia da litografia Extreme Ultra - Violet (EUV), em grandes volumes.
Para finalizar, façamos votos para que os EUA não iniciem uma guerra com a China, para resolver as consequências da última que provocou.
Porque como disse o Secretário de Estado John Foster Dulles, " Os EUA não têm amigos, têm interesses."
(1) RAND - Extending Rússia- Competing from Advantageous Ground - RR 3O63 de 2019
(2) RAND - Implications of a Coersive Quarantine of Taiwan by the People Republic of China - RRA 1279-1de 2022