Intervenção de Baptista Alves na reunião do Conselho da Presidência do CPPC

 Intervenção proferida por Baptista Alves, Presidente da Mesa da Assembleia da Paz e nosso Presidente da Direcção
na reunião do Conselho da Presidência do CPPC
realizada em 22 de Outubro de 2020


A complexa situação internacional que desde há tempos se vem
agravando, impõe uma profunda reflexão da nossa parte, militantes
da Paz, no sentido de auscultar-lhe as tendências, avaliar os efeitos
e intuir os perigos para a sobrevivência da Humanidade, por um
lado, e, por outro, aferir os resultados da nossa acção cívica e de
todos quantos se revêem e trabalham nesta causa.
É portanto, de certa forma, um balanço da nossa actividade o que
nos propomos fazer hoje e para isso contamos com o apoio da
Direcção, com um objectivo muito preciso de recolha de
ensinamentos outros e outros pontos de vista que porventura mais
avisados estejam.
É este o desafio que quero deixar explícito, na presunção da vossa
adesão e do vosso inestimável contributo.
Assistimos hoje a uma gigantesca campanha do imperialismo norte-
americano, com ressonância numa comunicação social subjugada
pelos “senhores do dinheiro” dos dois lados do Atlântico, a meu ver,
visando preparar a opinião pública para uma II edição da Guerra
Fria, visando dois objectivos principais:
-Apaziguar as apreensões quanto ao futuro do gigantesco aparelho
militar, face ao desmoronamento do almejado Mundo unipolar todo-
poderoso e sem adversário, com que sonharam após o
desmoronamento da União Soviética e, em simultâneo, satisfazer a
gula desmedida da poderosíssima indústria do armamento
americana;
- Travar a ascensão meteórica das potências económicas
emergentes, única forma de garantir a sua supremacia universal.
Este será provavelmente o cenário mais ambicionado, Guerra Fria,
por mais tranquilo e mais fácil de acomodar na opinião pública
ocidental. Mas, mandam as terríveis experiências do século passado
não ignorar que outros cenários estão pré-figurados, nos Estados-
Maiores das grandes potências militares, sendo o mais tenebroso o
conflito nuclear à escala planetária.
Mas a realidade deste século XXI, ainda com todas as incertezas
que um vertiginoso progresso introduziu nas nossas vidas á escala
global, afasta, a meu ver, estes estereótipos.

Creio ser hoje uma evidência que o declínio do império tem mais a
ver com a factura militar do que com qualquer outra razão e não há
conhecimento histórico de antídoto que o cure. O surgimento/
ressurgimento de outras potências com influência crescente, nos
campos económico e também militar, fazendo antever a criação de
vários polos de poder à escala planetária, com os seus interesses
próprios, fará gorar qualquer estratégia de Guerra Fria que
obviamente colidirá com esses interesses, a troco de nada.
As razões ideológicas, religiosas ou mesmo de combate ao
terrorismo, continuarão a ser convincentes para um Mundo tão
causticado pelos efeitos nefastos das ingerências, ocupações
militares e guerras de agressão e pilhagem feitas em seu nome?
Efeitos que são cada vez mais difíceis de esconder nestes tempos
da comunicação global?
O recurso à pressão diplomática sobre os “aliados”, ou mesmo
chantagem diplomática, a que temos assistido, parece indiciarem o
contrário.
Uma outra questão que se coloca agora, é saber-se: o que esperar
deste Mundo multipolar? À partida, parece poder esperar-se que a
probabilidade de ignição de conflitos de interesses aumente, mas,
por outro lado, é de crer que a dominante da resolução pacífica se
reforce perante a evidência de o uso da força já não garantir
vencedores antecipados.
É aqui que reside um imenso campo de acção para as forças da
Paz: reduzir drasticamente os riscos para a Humanidade
resultantes da existência das armas de destruição maciça, lutar
pela dissolução dos blocos político-militares, lutar pelo
desarmamento geral e controlado e impor a solução pacífica dos
conflitos internacionais, nos exactos termos plasmados na CRP,
nascida da Revolução de Abril. É isto que temos feito no CPPC e é
isto que se impõe continuarmos a fazer.
Esta situação de pandemia, que estamos a viver, revelou de forma
bem explícita que o modelo desenvolvimentista que o sistema
dominante impôs ao Mundo, medido em taxas de crescimento
económico, descurou de forma inqualificável, frentes importantes
de combate às ameaças à vida na Terra, a começar pela defesa da
saúde pública, passando pelo combate às alterações climáticas- que
são uma constante mas se agravam, tanto mais quanto a
exploração selvagem dos recursos naturais do planeta, ofende os
seus equilíbrios naturais- para já não falar no agravamento abismal
das desigualdades sociais com condenação á fome duma grande
parte da humanidade.
Este é o Mundo que temos, e que temos que mudar, lutando pela
criação duma consciência cívica universal pela inversão do rumo
suicida que nos tem sido imposto.
A nossa qualidade de coordenadores do Movimento Mundial da Paz
para a Europa impõe-nos responsabilidades acrescidas nesta luta
sem tréguas para evitar que, mais uma vez, a Europa e o Mundo se
tornem num imenso campo de destroços.
Estamos em crer que este objectivo mais e mais se afirmará,
deixando para trás a visão consumista e predadora da natureza que
nos tem guiado e rumando a uma nova ordem internacional mais
equitativa e mais solidária.
Em uníssono com as forças do progresso e da Paz, que por todo o
Mundo se batem sem desfalecimento por uma sociedade mais justa
e mais fraterna, livre de todo o tipo de predadores e seus
servidores, livre da opressão e de todo o tipo de ingerências
externas, livres do golpismo militar interno, saudamos a estrondosa
vitória do povo boliviano e o restabelecimento da legalidade e
legitimidade democrática no país.

Um Mundo melhor, um Mundo de Paz, é possível!