A IGREJA CATÓLICA E A LUTA ANTI-FASCISTA
Manuel Begonha
Presidente da Assembleia Geral
Presidente da Assembleia Geral
Nas campanhas de dinamização cultural levadas a cabo no norte do país, pela 5ª Divisão do EMGFA, nos anos de 1974 /1975, constatei que alguma Igreja Católica através dos respectivos padres tinha uma atitude fortemente hostil à presença dos militares por os considerarem comunistas, transmitindo aos seus paroquianos que se precavessem contra aqueles que lhes pretendiam roubar as imagens e crucifixos em ouro, as terras , fechar - lhes as igrejas , retirar-lhes os filhos das escolas e outras considerações deste teor.
Na verdade , muitos destes padres já sob a batuta do Cónego Melo e de outros conspiradores contra-revolucionários, não tinham pejo em proferir a partir dos correspondentes púlpitos violentas homilias anti-socialistas.
Por vezes, quando as intervenções dos militares os incomodavam, não hesitavam em tocar a rebate os sinos das suas igrejas.
Admito que em certos casos, tivessem medo que algo de mal lhes acontecesse , devido à sua educação nos seminários, eivada de preconceitos e de se diabolizar o comunismo.
É claro que estes factos, não passaram despercebidos ao embaixador norte-americano Frank Carlucci que a anteceder o golpe de 25 de Novembro por lá andou visitando vários responsáveis da Igreja Católica.
O General Vasco Gonçalves também se preocupou com o tema a "religião sem política" tendo no discurso que proferiu nas Comemorações da Implantação da República, no Porto, em 5-10-1974, ter feito as seguintes considerações :
"O nosso povo é um povo cristão, é um povo católico.
Nós , não queremos lutas anticlericais , embora por vezes assistamos a actos a que não devíamos assistir.
Há um campo para a religião e há um campo para a política.
Nós, não desejamos que estes dois campos sejam misturados. Nós não queremos, nem permitiremos, que alguém tente por este ou outro motivo dividir o nosso povo. Dividir o povo é comprometer o seu futuro."
Mas convém recordar que muitos católicos, alguns deles comunistas, tiveram uma acção relevante na luta anti - fascista.
Em muitos aspectos o seu pensamento não estaria longe daquele que hoje vemos reflectido no Papa Francisco.
Há cerca deste assunto o núcleo do Porto da Associação Conquistas da Revolução (ACR), coordenado por Jorge Sarabando promoveu no passado mês de Fevereiro, um colóquio intitulado "Encontro com Frei Bento Domingues."
Da intervenção de Jorge Sarabando, transcrevo algumas passagens :
"Dizia um certo lavrador de Trás-os-Montes, estava a Revolução de Abril no seu auge, estas sábias palavras : " é a memória que nos constrói". Lembremos, então, neste tempo em que a barbárie tende a vencer a civilização, outro tempo, de bloqueio, de opressão, de violência impune, a que os portugueses pareciam condenados ".
E mais adiante :
" Foi , nesse tempo, há cinquenta anos, que nasceu a Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos...
E lá reconhecemos, entre os fundadores,..
vários religiosos, como o Pastor Dimas de Almeida, Frei Bernardo Domingues, os padres Abílio Tavares Cardoso, Jardim Gonçalves, Pereira Neto , Felicidade Alves, Frei Bento Domingues, que aqui está hoje presente.
Sabemos que o regime procurava na Igreja Católica um pilar de sustentação e um factor de credibilidade. Raras eram, no clero, as vozes insubmissas que se revelavam. Justo é lembrar o Padre Abel Varzim , o Padre Alves Correia, e neste momento e nesta cidade, o Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, que teve de se exilar. Justo é lembrar o nome do Padre José da Felicidade Alves, removido da Paróquia de Belém pelo Cardeal Patriarca, em Nota Oficiosa publicada na imprensa.
A participação de Frei Bento e de sacerdotes católicos na comissão teve um inapagável significado: naquele universo calafetado e opresso, que era então a pátria portuguesa, foi uma janela que se abriu e nenhum poder mais pode fechar. "