Verão, fogos, Incendiários e Bombeiros

Verão, Fogos, Incendiários e Bombeiros

 

Marques Pinto

Vogal da Direcção

 

Acabou o mês de Julho e num noticiário resumido duma das nossas estações  televisivas ouvi mais uma vez que mais uns milhares de hectares arderam, umas dezenas de casas foram destruídas, umas dezenas de famílias perderam os seus bens e até o seu tecto de abrigo, algumas dezenas de animais pelo facto de estarem confinados nos seus currais ou abrigos morreram.

Não vou fazer estimativas nem cálculos dos prejuízos de toda a ordem – pois muitas vezes os danos morais são tão ou mais importantes que os prejuízos materiais – também não pretendo vir apelar ou acusar as entidades que pelas suas funções ou responsabilidades poderão estar mais ou menos directamente ligadas aos vários sistemas de prevenção e nestes casos sempre são envolvidas com razão ou sem ela nas falhas ou omissões de meios que poderiam ou deveriam estar em determinado momento.

Há cerca de 50 anos andei durante 2 ou 3 meses a pilotar um avião de monda química transformado para operar em ataques a incêndios florestais com cerca de 900 litros de “calda retardadora”. Actuei no norte do nosso País em mais de uma base criada para esse mesmo efeito e sei bem a carga emotiva que como piloto e sobrevoando varias vezes o mesmo local de incêndio vamos sentindo sempre que aos nossos olhos nos vamos sentindo impotentes para dominar o fogo, bem como a sensação ao verificarmos que passagem após passagem nos apercebemos que estamos todos – bombeiros, população e meios aéreos – a conseguir dominar e reduzir o fogo no terreno.

Mas o principal objectivo desta minha pequena crónica é outro: - chamar a atenção para as origens e causadores e não só os terríveis efeitos que os jornais e televisões nos mostram.

Segundo as entidades policiais  - só este ano de 2020 estarão detidos ou identificados mais de três dezenas de presumíveis incendiários, sendo um deles um jovem que se gabou de ter ateado  - 4 - incêndios numa só região.

Compreendo que omitam nomes até provas concretas, mas quando não é esse o caso e muitos deles confessam quando são detidos, porque não são de imediato fornecidos os nomes como se faz no caso de crimes violentos e são detidos em flagrante?

Será para ocultar os nomes dos que muitas vezes “encomendaram” tais actos?

Todos nós assistimos diariamente à denuncia e apresentação em tribunal dos mais diferentes grandes e pequenos delitos, mas nunca vemos denunciado um incendiário, quando na sua grande maioria até são fogos provocados ou encomendados por interesses que deveriam ser denunciados e revelados os nomes dos seus mandantes.

Quase sempre ou pelo menos na grande totalidade dos casos ficam no segredo da justiça.

Penso que o assunto é tão sério que mereceria que algum grupo parlamentar exigisse que a justiça fosse feita e publicamente conhecida nomeadamente sempre que envolve a morte – eu diria quase assassinato – de pessoas colhidas nos incêndios bem como aquelas que contra ele por oficio e devoção vão enfrentar como é o caso dos nossos Bombeiros em terra e no ar e o pessoal da Protecção Civil