Manuel Begonha
Presidente da Assembleia Geral
Vários militares que se distinguiram de variadas formas na concretização da Revolução de 25 de Abril de 1974, quando da sua morte e respectivo funeral, foram ignorados pelos poderes políticos.
No entanto, foram combatentes pela libertação do país, revolucionários que lutaram contra o estado fascista, ou tiveram um papel determinante nesse dia luminoso, ou continuaram a sua actividade transformadora para além dessa data.
E nada lhes foi concedido. O que conseguiram teve que ser imaginado e conquistado.
Como foram muitos, a quem não conseguiram deturpar o pensamento, fazendo-os tolerar o autoritarismo, e para não cometer nenhuma injustiça irreparável por omissão, limitar-me-ei a destacar adiante aqueles que conheci bem e de quem fui amigo.
E contudo, a estes nenhuns erros foram perdoados.
Por outro lado, outros que estiveram com a ditadura salazarista em funções governativas, e ainda que após o 25 de Abril, tivessem feito obras meritórias, quando do seu funeral tiveram honras de Estado.
Rapidamente o seu passado foi esquecido e nada pesou na avaliação do respectivo percurso de vida.
Valeram por aquilo que quiseram apreciar neles.
Parece então que lutar pela liberdade, penaliza e desvirtua os que nesta tarefa se envolveram, também porque não quiseram ficar presos ao acaso. Escolheram um caminho para o futuro.
Para estes, não houve no seu funeral a presença do Presidente da República ou do primeiro-ministro, nem votos de pesar no parlamento, passagens pelo Mosteiro dos Jerónimos, ou decretados dias de luto.
São figuras de todos conhecidas.
É preciso então nomeá-los, como quem nomeia o tempo, para que apesar de tudo não se afastem da nossa memória.
Vasco Gonçalves e Rosa Coutinho, Dinis de Almeida e Costa Martins, Varela Gomes e Ramiro Correia, Costa Santos e Eurico Corvacho.
Lembro aos mais jovens que procurem conhecer melhor quem foram estes militares que cumprindo ao longo da sua vida os seus ideais sem tergiversações, garantiram que vivam hoje num Portugal mais moderno, livre e democrático, com uma Constituição da República avançada , embora ainda com uma gritante desigualdade social.
Aos mais velhos, apelo a que não se esqueçam da obrigação de reparar as injustiças, a que estes homens foram sujeitos.
Mas, o seu passado não está morto. Nada está quieto. Não há ninguém que consiga calcar aquela terra.
Dizia Marguerite Yourcenar "que a vida para cada homem é uma derrota assumida".
Para estes não foi.
No fim, para tais patriotas haverá sempre uma luz do outro lado do silenciamento.