JANTAR COMEMORATIVO DO 40º ANIVERSÁRIO do 25 de ABRIL



Intervenção de Manuel Bacelar Begonha, Presidente da ACR, no jantar comemorativo do 40ºaniversário do 25 de Abril



Foi neste clima de tragédia que na madrugada de 25 de Abril o MFA e o Povo iniciaram a árdua caminhada para a construção da sociedade Socialista em Portugal.
Assim, escreveu Ramiro Correia no 1º aniversário do 25 de Abril.
Levantou-se então uma força revolucionária imparável que percorreu toda a sociedade portuguesa, conduzida essencialmente pelos trabalhadores e que juntamente com o MFA se propôs dar imediata execução aos “3 D” do programa do MFA, DESCOLONIZAR, DEMOCRATIZAR, DESENVOLVER.
Como em todas as épocas singulares da história dos povos, surgiu um homem o General Vasco Gonçalves que nos quatro governos provisórios a que presidiu e apesar das dificuldades e obstáculos próprios destes processos transformadores, colocados pelos movimentos contra-revolucionários nacionais e internacionais, foi capaz de responder ás necessidades mais prementes da população, combatendo e identificando as injustiças sociais mais flagrantes provenientes do regime fascista e assim lançando os alicerces para a construção de uma sociedade nova.
Tal objectivo foi conseguido mantendo a economia a funcionar, melhorando mesmo os indicadores económicos, como aliás foi reconhecido por uma delegação do FMI que à época esteve em Portugal.
Viveu-se um momento da nossa história, no qual quem mais ordenou foi o Povo, estando o poder também com o Povo.
Foi este o período mais criativo e transformador da nossa revolução. Dele decorrem os avanços nas fábricas, nos campos, nos serviços, os trabalhadores organizam-se tomam o controlo da produção e defendem-se das tentativas de sabotagem dos patrões; avança a gestão democrática nas escolas e nos movimentos de rendeiros e assalariados rurais preparam a Reforma Agrária.
Sucedem-se então as grandes acções revolucionárias que constituiram as Conquistas da Revolução. De entre tantas outras destacam-se:
- o direito à habitação para todos,
- o direito à educação para todos,
- o direito á saúde, universal e gratuita,
- o direito á greve e ao lock-out,
- o direito á licença de 90 dias no período de maternidade,
- o salário minímo e pensão social,
- o subsídio de desmprego,
- o subsídio de férias,
- o subsídio de natal a pensionistas,
- as nacionalizações,
- o controlo da produção pelos trabalhadores,
- a reforma agrária,
- o poder local democrático,
- a Constituição da República – que após 7 revisões continua a ser o garante da democracia e o baluarte para a    defesa das conquistas da revolução que ainda restam.
No entanto, um País nestas condições era inaceitável e perigoso para o capital internacional que de imediato desencandeou uma gigantesca ofensiva contra este Portugal, fortemente apoiada pelas forças reaccionárias internas. Todos se lembram da estratégia do expoente máximo das actividades contra revolucionárias, o embaixador americano Frank Carlucci.
Não seria portanto previsível que após 40 anos sobre o 25 de Abril, estivessemos hoje a comemorar esta data que foi de grande exaltação e alegria, sombreada pela raiva, indignação e amargura.
Porquê? Porque querem pôr atrás das grades o 25 de Abril.
Querem prender o cravo da dignidade e da esperança.
Estamos a criar um País cada vez com mais pobres e com menos jovens quer porque são empurrados para a emigração, quer porque os casais não têm condições materiais nem estabilidade para terem filhos.
Aumenta a desiguldade na distribuição dos rendimentos.
O medo de perder o posto de trabalho, vai inibindo cada vez mais os trabalhadores de se exporem ás mais diversas formas de luta dentro e fora das empresas, acreditando até por vezes, que nada se pode fazer, quando pelo contrário tudo se conquista lutando para consolidar os seus legítimos direitos.
A comunicação social procura muitas vezes estimular a noção de inevitabilidade das medidas em curso pelo governo,alimentando assim o pessimismo e o conformismo.
A mensagem é que não há alternativa para a austeridade e que as lutas populares são inúteis, agravando até a crise.
A verdade é que os mais cruelmente sacrificados pela austeridade e suas principais vítimas são os que não têm emprego, e não se vê um desenvolvimento da economia que possa melhorar esta situação, em virtude da falta de investimento.
Por outro lado, a coligação no poder continua a veicular um cenário optimista, sobre a dimensão da nossa divída pública, que a não ser reestruturada, se vai tentando concretizar à custa de uma insuportável carga sobre o poder de compra dos portugueses, do desemprego, da redução de salários, da destruição da economia, da emigração, do desprezo pela cultura, e da redução da prestação dos serviços de saúde, em claro prejuízo dos mais velhos, que por serem mais frágeis financeiramente, não têm alternativa.
Hoje em dia, o governo não tem um compromisso com o povo português, baseado na confiança e na credibilidade; sucedem-se as humilhações ao país com a patética subserviência à Alemanha e os atentados à soberania nacional, com o apoio empenhado do Presidente da República, que não consegue cumprir o papel de defensor da Constituição, prisioneiro que está das suas inseguranças e contradições.
Parecem estar apenas à espera de um novo ciclo histórico que traga outros ventos para a Europa, enquanto o país se vai degradando. São um corpo estranho a Portugal estando ao serviço do capital financeiro global.
Hoje estão-nos a retirar a vida pelas mãos de uma Europa vingativa que nos quer fazer expiar pelo crime de termos um importante legado que são as conquistas da revolução e políticas que foram conseguidas durante a Revolução.     
Para seguir os seus desígnios essa Europa encontrou un governo que se rege pelo total desrespeito pela Constituição da República e pelo povo português. Partidários da austeridade destroem a economia. Coniventes com a corrupção e com o grande capital financeiro, não se regem por uma justiça independente.
Amigos da opacidade escondem os seus objectivos e a forma como os atingim, simulando não ter rumo.
Este governo tenta impôr um clima de medo e de incerteza para mais facilmente impor a violência das suas medidas, prioritariamente sobre os mais desprotegidos, os funcionários publicos, os pensionistas e os reformados. A sua óptica de reforma do Estado, passando por cima dos desempregados e dos jovens, não é mais de que o desmantelar do EstadoSocial. Este deverá então ser substituido pela prática da caridade.
Este é um tempo de SOLIDARIEDADE, a exigência será enorme para ajudar a superar as diferenças que se estão a verificar que têm um enorme potencial destabilizador. Pode atirar pobres contra pobres, velhos contra novos. Estudantes contra trabalhadores, homens contra mulheres. Porquê? Porque haverá os que têm subsídios e outros não; os que têm emprego e outros não; os que têm acesso à saúde e outros não; os que podem estudar e outros não; os que têm casas dignas e outros não. E no entanto poderão ser todos trabalhadores empobrecidos.
Ocorre-me uma citação de John Donne: Aflige-me a morte de qualquer ser humano porque sou parte da humanidade. E por isso nunca perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”
Há que pôr um fim a tamanho conjunto de injustiças. Não queremos que os sinos dobrem sobre as conquistas da Revolução.
Há que preparar um mudança. É preciso construir os alicerces da mudança. Não é aceitável que um conjunto de políticos gananciosos e sem sentido humano, nos pretendam humilhar, transformando o nosso povo numa mera bolsa de desempregados para construir um mercado onde os empresários iriam contratar trabalhadores a baixo custo e em condições de trabalho degradantes, para assim fazerem triunfar os seus desígnios.
Contudo, não devemos procurar rever-nos  excessivamente nas conquistas do passado. Há que proceder a uma reflexão sobre o nosso futuro estudando as transformações que vêm ocorrendo na sociedade e em toda a humanidade. Temos de despertar a consciência para definir e construir o futuro. Os tempos mudam e nós mudamos com eles.
Temos pela frente a luta pela independência nacional que é indissociável da luta contra os privilégios da classe dominante, uma vez que esta para conservar as suas posições está disposta a partilhar a soberania nacional com o capitalismo internacional.
Mesmo que os resultados desta luta pareçam ser insignificantes é no entanto indispensável para a preparação das lutas que se seguirão. É um projecto que exige tempo, mas que não é inalcansável, desde que se tenha bem presente as memórias das lutas passadas.
É certo que as condições actuais são diferentes, mas não seremos os mesmos homens e mulheres, agora reforçados por uma juventude tão maltratada, que se ergueram contra a opressão, numa época da história de um povo então despolitizado, semi-analfabeto, sem a experiência que um combate longo e duro teria fermentado e que nos levou ás Conquistas da Revolução?
Não há alternativa: ou assumimos uma atitude passiva e alienamos o que resta das Conquistas de Abril, ou combatemos por elas.
Se não o fizermos, bastamo-nos a nós mesmos para nos derrotarmos.
Só lutando venceremos honrando o dia que hoje estamos a comemorar.
Vamos continuar a resistir avançando, quando por vezes o desistir parece ser o mais fácil.
Para nós nunca haverá desistência, o conformismo e o abandono dos ideais de Abril, mas haverá sim uma caminhada vitoriosa para um País novo e um mundo melhor. 

VIVA O 25 DE ABRIL!
VIVA PORTUGAL!
25 DE ABRIL SEMPRE!