Textos periódicos IV - Amargo a 19 de Dezembro, Bom Ano Novo a 1 de Janeiro



VALDEMAR SANTOS
(vogal da direcção)

   O Museu do Trabalho Michel Giacometti, em Setúbal, foi ponte de encontro para o desdobramento de uma iniciativa de evocação de Vasco Gonçalves e Rosa Coutinho na quinta-feira, 14 de Dezembro, ao fim da tarde, porquanto ali recolheu o testemunho dos Comandantes Manuel Begonha, Presidente da Associação Conquistas da Revolução, Henrique Mendonça e Manuel Marques Pinto, e do Coronel Nuno Pinto Soares, numa sessão que teve de seguida o encaminhamento - como que uma marcha, - para, a poucos metros, no Quebedo, o Restaurante “Egas”, segundo local de encontro-convívio fortemente marcado por uma rica componente cultural.
   Efectivamente, o “Egas” há décadas era conhecido como “Academia Sapec”, pois o seu proprietário, Jerónimo Bárbara, assumiu tal sobrenome nos tempos em que era barbeiro tanto quanto patrono de encontros de tertúlia, nos quais trabalhadores e intelectuais entrelaçavam a defesa do 25 de Abril na herança de ajuntamentos conspirativos e de resistência antifascista, sendo aquele espaço uma taberna ela própria herdeira de uma antiga adega.
   As canções, entre muitas outras, de José Afonso e de Adriano Correia de Oliveira - a tão poucos dias do 19 de Dezembro, data do assassinato de José Dias Coelho, em Alcântara, Lisboa, no ano de 1961, fazendo irromper “A morte saiu à rua” - tiverem os acordes de David Carlos, o velho bate-chapa setubalense, e do advogado Manuel Guerra Henriques, este também excelente cantador do fado de Coimbra, a que se juntaram Octaviano Sales e, vindo do Barreiro, Armindo Fernandes, enquanto Fernando Casaca, actor e Director do Teatro do Elefante, puxou pelo “Força, força, Companheiro Vasco” e escolheu para leitura o trecho de Bertolt Brech fazendo justiça aos “imprescindíveis”.
   Vítor Zacarias, Presidente a um momento da Comissão Administrativa após a Revolução, foi portador da saudação de Francisco Lobo, igualmente membro da mesma e mais tarde Presidente do município sadino, anfitrião não poucas vezes do General. E para que nada faltasse (julgávamos nós), talvez um só dos cerca de 50 participantes soubesse que o “Sapec” assim era chamado porque fazia esperar os clientes a monte enquanto lhes dizia: “Se eu quiser trabalhar vou para a Sapec!”
   Já não estamos no tempo do sussurro, mas houve explicação entre mesas: era assim que ele promovia um certo tipo de concentração.
   Mas o balanço à posteriori anotou uma falta, sim.
   Marcaram presença os filhos de Vasco Gonçalves, Maria João e Vítor. Ora algo pudera ter ser dito sobre uma foto (quanto ao recheio nas paredes de símbolos da pesca, da Baía ou desportivos vitorianos, instrumentos de música e canção, outras fotos dos que fazem som, de figuras ilustres, quer políticas, quer religiosas, de reproduções fidedignas do papelinho-bíblia de antes do 25 de Abril - nada de misturas, do tal jornal para distribuir e engolir nos apertos, - de casalinhos… ide lá, com recomendação)… sobre uma foto de dois Comandantes a jogarem golf, o mais certo nas Caraíbas: Fidel de Castro e Che Guevara.
   É o Che que vai sticar. Fidel observa-o, e vá lá agora jurar que fora assim mesmo que prevenia o compañero: “Não desacertes!...”, como insinuam.
   Sim, é verdade que não podemos esquecer a carta de condolências a Aida Gonçalves daquele que a 1 de Janeiro de 1959, não tarda há 60 anos, comandou a derrocada do ditador Fulgêncio Baptista, logo que faleceu “el amigo inolvidable de nuestra Revolución” (“Vasco, nome de Abril”, edição da ACR de Julho de 2014).   
   Revolución, Vasco nome de Abri, Valores: duram.