Faleceu
no passado dia 16 de Abril, o Capitão-de-Mar-e-Guerra, Armando Martins Nabais.
Nasceu
em 1925, frequentou o Instituto dos Pupilos do Exército e teve uma carreira
naval variada. Desempenhou Comissões de Serviço em diversos navios e Unidades
Navais, destacando-se as Fragatas Diogo Gomes e Nuno Tristão e o Patrulha S.
Nicolau. Em terra passou pela Base Naval de Lisboa, Comando da Flotilha de Navios
Patrulhas, Escola Náutica, onde foi professor, Comando da Defesa Marítima de
Stº António do Zaire, Direcção das Construções Navais e Superintendência dos
Serviços do Material.
Revelou-se
sempre um oficial competente e distinto a que corresponderam diversas
condecorações.
O Engº
Nabais foi um homem com quem mantive uma relação especial de amizade e para
quem tenho uma dívida de gratidão.
Teve
uma importância decisiva na minha formação política. Nos finais dos anos
sessenta, em muitas conversas de almoço em diversos navios da flotilha de
patrulhas, com inteligência e método, transformou a minha forma de ver o mundo,
dissecando os fundamentos da ditadura, demonstrando o erro da guerra colonial e
descrevendo a tragédia da servidão humana.
Conseguiu
assim, para um jovem 2ºTenente que era eu, marcar o início de uma vontade de
transformar o panorama social e político em que se vivia.
Tive o
prazer de lho dizer numa sessão pública e hoje sinto-me orgulhoso de o ter
feito.
Era um
homem sóbrio, tímido em quem se podia confiar; um ser humano límpido e ao mesmo
tempo luminoso.
Deixava-nos
sempre com a sensação de tempo ganho quando falávamos com ele, apreciando os
ensinamentos que sempre transmitia. Lutou em muitas frentes. Abraçou com
entusiasmo a Revolução. Nesta época, voltamos a encontrar-nos, agora numa
situação diferente, a partilhar os ideais, os projectos, a amizade e admiração
pelo General Vasco Gonçalves.
Foi
desinteressadamente valioso para todos nós.
Demonstrou
muitas vezes a sua firmeza e coerência ideológica em situações como as que
viveu, como delegado do MFA, nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo.
E
também não era homem para falar da prática sem bases teóricas, que as tinha
sólidas, seja na área cultural, humanística ou política.
Viveu o
suficiente para que o tempo não fosse para ele um inimigo cruel, porque teve
oportunidade de nos transmitir o muito que experimentou.
Ver um
querido amigo terminar o conteúdo do seu tempo é como se o nosso crepúsculo
tivesse perdido a luz.
Saberemos
honrá-lo.
Manuel
Begonha
(Presidente da Mesa da Assembleia Geral)