185 Aniversário da morte de Simón Bolivar



A convite da Embaixada da República Bolivariana da Venezuela, a ACR participou na cerimónia realizada na Av da Liberdade, em Lisboa, no passado dia 17, assinalando o 185 Aniversário da morte do Libertador Simón Bolivar.

2º Congresso Maria Lamas






Realizou-se no passado fim de semana em Almada, o Congresso Maria Lamas - Vida e Obra de Maria Lamas. Actualizar o pensamento, abalar a indiferença, promovido pela Câmara Municipal de Almada e o Movimento Democrático de Mulheres. A ACR esteve presente tendo apresentado a seguinte saudação:

Saudação ao 2º Congresso Maria Lamas - Vida e Obra de Maria Lamas. Actualizar o pensamento, abalar a indiferença.
A Associação Conquistas da Revolução agradece o convite que nos dirigiram para participarmos no vosso Congresso.
Desejamos os maiores êxitos nesta vossa iniciativa que pensamos será um valioso contributo para a continuação da vossa/nossa luta pelos direitos das mulheres num país mais livre, mais justo e mais fraterno tendo como referência as conquistas da Revolução consagradas na Constituição da República, alcançadas nos governos do único 1º ministro de Portugal identificado com os interesses e direitos do povo português, Vasco Gonçalves, cuja memória é a razão de ser da nossa Associação.

Maria Lamas, a par de algumas outras figuras marcantes da luta antifascista e da Revolução de Abril é sócia de mérito da nossa Associação, consagrada por proposta da Direcção aprovada por unanimidade e aclamação na Assembleia Geral de 3 de Abril de 2014 e divulgada aos nossos associados na Folha Informativa nº5 de que junto um exemplar.

Folha Informativa N.º 12













Portimão acolheu mais uma apresentação dos livros “Conquistas da Revolução” e “Vasco, Nome de Abril”



  “Um impossível adeus”, poema de César Príncipe que integra o conjunto de depoimentos da edição da Associação Conquistas da Revolução, “Vasco, nome de Abril”, foi objecto de leitura por parte de um associado, Daniel Costa Sequeira, na sessão levada a cabo no Café-Concerto do TEMPO, Teatro Experimental de Portimão, no passado sábado, 5 de Dezembro.
   Com o objectivo de dar a conhecer ainda o livro “Conquistas da Revolução”, a iniciativa, dirigida por Pedro Purificação, igualmente sócio, contou com a intervenção de Manuel Carvalho, Militar de Abril e membro da Direcção da ACR.
   A um dia das eleições na Venezuela, não podia deixar de ser evocada a solidariedade internacionalista com a luta de todos os povos em todos os continentes, ou o poema citado não dissesse de Vasco que ele era e ficou como um nome para transformar a História, general, soldado, engenheiro, operário, português, universal.

   Também foi recordada a prisão no Hospital São José da enfermeira Hortência Silva, natural de Portimão, julgada e absolvida a 3 de Fevereiro de 1955 depois de ter passado algum tempo isolada e de janela entaipada, tinha então cerca de 20 anos. Contra ela fora instituído o processo 14811/54 por ter assinado um documento protestando contra a proibição do casamento das enfermeiras e ser suspeitada de simpatia pela Revolução Socialista de Outubro.


Intervenção de Manuel Gonçalves de Carvalho, membro da Direcção da ACR


Caras amigas e amigos,
Antes de mais, o nosso muito obrigado à Câmara municipal de Portimão por nos ceder este belíssimo espaço do café-concerto do ainda mais belo Teatro municipal de Portimão. Lamentamos a impossibilidade da Sra. Vereadora da Cultura e da ciência, Ana Fazenda de estar aqui presente, por ter outro evento inadiável. DE QUALQUER FORMA, PELO EMPENHO, O NOSSO OBRIGADO.
O nosso obrigado, também, pela vossa presença, -- presença que muito nos honra e que saudamos.
Não fora os desígnios da vida, gostaria de ver aqui uma pessoa por quem tive grande estima e que com ele estive embarcado, no já longínquo ano de 1968, na fragata Diogo Cão. Falo do Comandante Nuno Mergulhão, Presidente desta Câmara até 1999, data em que, lastimavelmente, nos deixou tão cedo e de forma trágica. Poder-se-á dizer que o Nuno morreu na defesa dos interesses da sua terra. --- Que descanse em paz.
Posto isto:
Permitam-me que tenha aqui umas breves palavras relativas, à ASSOCIAÇÃO CONQUISTAS DA REVOLUÇÃO: 
Ela é constituída por cidadãs e cidadãos civis e militares amantes da liberdade e da democracia e que pretendem defender e repor toda a verdade sobre as acções concretizadas dentro do programa das forças armadas (MFA) e lembrar e homenagear os seus promotores quer civis ou militares, das conquistas legítima e democraticamente obtidas no período mais fecundo, patriótico e criativo do 25 de abril.
Conquistas do povo trabalhador português entretanto destruídas por quem tem ocupado o poder político contra-revolucionário.
A ACR tem pautado a sua actuação cultivando o espírito revolucionário e a consciência social progressista, pela construção de uma democracia política, económica, social e cultural amplamente participada, que a Constituição da República Portuguesa, aprovada em 2 de Abril de 1976, viria a consagrar. 
Assim tem levado a efeito:
 Palestras e colóquios, por todo país. Produção de documentação e livros de modo que a história recente não seja deturpada, reescrita ou simplesmente esquecida, como é o caso da tentativa de prescrição da memória e o legado do General Vasco Gonçalves.
As ganâncias humanas do poder, quer político quer económico, não deram descanso ao MFA e, rapidamente, ele vê surgir no seu seio, um projecto pessoal à volta de António de Spínola, que tudo faz para subverter o projecto colectivo que estava em marcha.
Foi a tentativa de rasgar o Programa do MFA, logo no dia 25 de Abril; foi o “Golpe Palma Carlos” menos de três meses depois; foi o 28 de Setembro, com a própria auto resignação de Spínola e foi o 11 de Março de 1975.
Mais tarde, também, a muralha de aço construída pelos trabalhadores em volta do companheiro Vasco sofreu um rombo significativo com a contra-revolução a dividir o MFA o que levou à demissão do General após a conturbada Assembleia de Tancos, onde à última hora foram nomeados de forma “hadoque” muitos militares, cujo único objectivo era travar a luta dos trabalhadores, Mas o povo português e os seus trabalhadores saberão, mais dia, menos dia, reparar essa muralha.
Lembro aqui e homenageio o companheiro Vasco que foi o único 1º ministro que diminui, consideravelmente o fosso entre ricos e pobres. 
Cito  Vasco Gonçalves quando disse:
 “Fui simplesmente o que me impunha a minha consciência e a minha formação de militar e de cidadão solidário com o seu povo.
O futuro com que sonhei não é cada vez mais saudade, é sim, cada vez mais, necessidade imperiosa.
ASSIM O POVO O COMPREENDA”
E volto a citar o companheiro VASCO, com uma frase completamente actual:
“Hoje em dia, falar de gonçalvismo é identificar o gonçalvismo com as conquistas da revolução; hoje, em dia, a luta contra o gonçalvismo é, na realidade, uma luta contra a constituição.” FIM DE CITAÇÃO.
Atualmente, no nosso dia-a-dia, vemos um povo que clama por justiça social e que a constituição seja cumprida:
E assim vejo no meu amigo Rafael que trabalhou no duro mais de cinquenta anos e  que para se poder alimentar (mal) corta nos medicamentos e na ida ao médico – É UM GONÇALVISTA;
Vejo, na minha rua, um casal de idosos que depois de tanto esforço para poderem dar um futuro às suas duas filhas, hoje morrem de saudades delas e não vão ver o crescimento dos seus netos, porque as suas filhas tiveram que emigrar – SÃO GONÇALVISTAS;
Vejo uma jovem, minha parente, com uma grande depressão porque depois de tanto esforço a tirar a sua licenciatura e mestrado, não consegue arranjar emprego – diz ela que cumpriu aquilo que o país lhe exigia, ou seja a sua preparação para ser útil à sociedade e esse mesmo país que hoje lhe volta as costas – É UMA GONÇALVISTA; 
Poderíamos falar de muitos outros injustiçados não importando o partido em que votam ou mesmo se votam, verdade, porém, é que clamam por justiça social e é por todos eles que mulheres e homens democraticamente mais conscientes lutam todos os dias.
  Felizmente muitos e muitos portugueses e portuguesas continuam a lutar, nos seus locais de trabalho, nos seus sindicatos, nas suas organizações de classe e no poder local democrático, por Abril e que saberão responder com dignidade e patriotismo reafirmando os valores de Abril de que são depositários. Mas é responsabilidade de cada um de nós, que está com Abril, mobilizar outros. 
A Revolução de Abril é património do povo e é património do futuro. 
Nunca, como hoje, foi tão importante e decisivo, como dizia o poeta “FAZER FLORIR - ABRIL DE NOVO”
Felizmente, com a recente derrota parlamentar das forças de direita, abre-se uma nova fase da vida política nacional e cresce a esperança dos mais desfavorecidos na diminuição do fosso das vergonhosas desigualdades e penso, também, que muitos portugueses e portuguesas começam a aprender que a força do voto pode alterar as suas vidas.
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PASSO ENTÃO A APRESETAR O PRIMEIRO LIVRO “CONQUISTAS DA REVOLUÇÃO”
É uma edição da ACR, com capa de José Santa-Bárbara (artista plástico) e paginação e ilustração da Ana Neves, uma jovem nossa associada. 
A introdução e o prefácio são da responsabilidade da ACR e dividido em 4 capítulos.
Na introdução descreve-se as medidas constantes do programa do MFA, que ficaram conhecidas pelos 3 D’s (democratizar, desenvolver e descolonizar) 
Algumas dessas medidas mais significativas, como sejam:
Liquidação das estruturas fascistas;
Mais e melhor justiça;
Poder local democrático;
Direito ao trabalho com direitos – salário mínimo e pensão social, subsídio de férias, direito à greve e regulamentação das relações colectivas de trabalho;
Diretos culturais – direito à educação e à cultura;
 couberam aos governos provisórios a sua concretização.
Nos dois capítulos seguintes - LIBERDADES DE ABRIL e PROCESSO REVOLUCIONÁRIO apresenta e compila todas as medidas de forma sustentada, nos diplomas legais publicados, (muitos deles com a assinatura de Vasco Gonçalves) com ordenação cronológica e sempre que é oportuno com recurso a bibliografia específica,
O capítulo III São registados quatro depoimentos de dois militares de Abril e do escritor Modesto Navarro – membro da direcção da ACR.
No capítulo IV – conclusão – podemos ler as notas biográficas de um jornalista escritor, de um cronista e de militares de Abril, membros da direcção da ACR, intervenientes na produção, deste livro de importância histórica.
Se me permitem e sem me alongar de mais, passo a ler alguns pequenos trechos do constante no livro “CONQUISTAS DA REVOLUÇÃO”
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DE SEGUIDA, PASSO A APRESETAR O LIVRO “VASCO NOME DE ABRIL”
É uma edição, também, da ACR inserida nas comemorações do 40º aniversário de Abril, particularmente, a tomada de posse do 2º Governo Provisório, presidido por Vasco Gonçalves.
Pretende homenagear aquele que é referência primeira e a maior desta associação, o General Vasco Gonçalves, assinalando, quando publicado, o 40º aniversário da tomada de posse do 2º Governo Provisório, presidido por Vasco Gonçalves.
O design e paginação é também de Ana Neves
 Vasco nome de Abril inicia-se com uma nota biográfica de Vasco Gonçalves seguida por um prefácio escrito pelo nosso presidente da direcção Manuel Begonha e de 75 testemunhos de militares (muitos deles que conviveram ou trabalharam com Vasco Gonçalves) de escritores, de políticos, de sindicalistas e de artistas. De referir, também, uma carta de Fidel de Castro à Aida Gonçalves (viúva do VASCO) após o seu falecimento. Também, uma carta de saudação de Hugo Chaves após a solidária intervenção de Vasco Gonçalves, no 2º encontro Mundial de Solidariedade com a revolução Boliviana. 
Este livro traça, no essencial, o perfil do cidadão, do homem, do militar e do político que tão bem conseguiu interpretar os anseios do povo português saído duma ditadura obscurantista, sem liberdade, sem direitos e de pobreza. 
Passo a ler-lhos alguns trechos dos vários depoimentos.
 Assim no prefácio, poderemos ler: ------
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POR FIM, RESTA-ME AGRADECER A VOSSA PACIÊNCIA PARA ME OUVIR – OBRIGADO A TODOS.

Portimão, 05 de Dezembro de 2015

Michel Giacometti evocado em Setúbal


Michel Giacometti evocado em Setúbal como precursor 
do Estatuto de Património Cultural Imaterial da Humanidade
 atribuído pela UNESCO ao Cante Alentejano

   Mais de 150 pessoas deram corpo à evocação de Michel Giacometti no Museu do Trabalho que porta o seu nome, em Setúbal, na passada sexta-feira, 27 de Novembro, iniciativa promovida pela Associação Conquistas da Revolução em que actuaram o Coro Lopes Graça da Academia de Amadores de Música e os Grupos Corais Alentejanos “Os Amigos do Independente” e “Os Amigos dos Sadinos”, e tomaram a palavra Manuel Begonha, Militar de Abril e Presidente da ACR, Modesto Navarro, escritor e membro de Direcção da mesma, e Carlos Rabaçal, vereador da Câmara Municipal.
   Na mensagem de congratulação com que a Casa do Alentejo de Lisboa quis marcar presença, o etnólogo e musicólogo francês corso falecido há 25 anos e sepultado a seu pedido em Peroguarda, no Concelho de Ferreira do Alentejo, é justamente considerado como precursor da atribuição pela UNESCO ao Cante Alentejano do Estatuto de Património Cultural Imaterial da Humanidade, havia exactamente um ano naquele dia. O texto lido sublinhava a frase de Giacometti: “Povo que canta não morrerá".
   No tempo da história falou-se ainda de duas datas.
   A de há 40 anos atrás, quando os jovens do Serviço Cívico Estudantil, nos chamados tanques da Paz do MFA e sob a égide dos Governos de Vasco Gonçalves, 1º Ministro dos Trabalhadores e do Povo, como era tratado, se deslocaram aos campos para dele trazeram as mãos cheias de ferramentas cujo acervo no Museu do Trabalho sadino é riqueza de Portugal.

   A do falecimento, num outro 27 de Novembro, o de 1994, de Lopes Graça, o grande compositor português que conjuntamente com Michel Giacometti, a PIDE na peúgada, gravou o incomensurável Cancioneiro de vozes sempre ao alto.




Saudação de Manuel Begonha, Presidente da ACR

Em nome da Direcção da ACR desejo-vos a todos uma boa noite.
Para a concretização desta iniciativa quero agradecer à Presidente da Câmara Municipal de Setúbal aqui representada pelo Vereador Carlos Rabaçal, pelo apoio prestado e nomeadamente pela cedência das magnificas instalações do Museu do Trabalho Michel Giacometti, à Câmara Municipal de Almada pelo apoio disponibilizado, ao Coro Lopes Graça da Academia de Amadores de Musica, aos Grupos Corais “Os Amigos dos Sadinos” e “Os Amigos do Independente”, e finalmente à vossa presença que muito nos satisfaz e honra.
A ACR foi criada pela razão fundamental de preservar o pensamento e a obra do General Vasco Gonçalves, que liderou os quatro Governos Provisórios aos quais se ficaram a dever a maioria das Conquistas da Revolução responsáveis pelas enormes transformações sociais, políticas e económicas e a democratização do nosso país após o 25 de Abril. Apesar de todos os ataques entretanto ocorridos, algumas ainda perduram, com especial destaque para a Constituição da Republica, onde se encontram consignadas. A ACR vem-se dedicando à defesa destas conquistas, percorrendo o país. Promovendo várias sessões para a divulgação dos livros que entretanto publicou, “Vasco, Nome de Abril” que inclui depoimentos de 75 personalidades que tiveram oportunidade de descrever várias facetas do nosso General  e “Conquistas da Revolução” que a partir dos preâmbulos dos decretos-lei dos vários Diários da Republica, regista e comenta as mais significativas dessas conquistas.
Ainda no âmbito da defesa da memória dos que se distinguiram na consolidação da revolução em diversas actividades públicas, políticas, sociais e culturais estamos aqui a evocar Michel Giacometti, notável etnólogo, natural da Córsega, vindo de Paris, que desde o final da década de 50, calcorreou o país, recolhendo a voz do povo, sem olhar a sacrifícios, apenas pelo grande amor que dedicava a Portugal.
Resta-me desejar-vos uma sessão inspiradora.



Intervenção de António Modesto Navarro, membro da Direcção da ACR

Michel-Marie Giacometti, nascido na ilha mediterrânica da Córsega (França), veio para Portugal e, entre 1959 e 1990, recolheu, estudou e divulgou a música tradicional portuguesa. Em 1960, fundou os “Arquivos Sonoros Portugueses” e editou, com Fernando Lopes Graça, uma discografia fundamental para o conhecimento do património musical do país. Foi um investigador decisivo da nossa etnologia e a sua obra cinematográfica e televisiva constitui também uma referência incontornável para conhecer o Portugal do século XX e reflectir sobre os percursos da nossa identidade nos dias de hoje. A filmografia completa, editada há poucos anos, em 12 volumes, inclui não só a série televisiva “Povo que Canta”, produzida pela RTP e com realização de Alfredo Tropa, entre 1970 e 1974, dedicada à música e cultura de raiz tradicional portuguesa, como também outros dois filmes realizados por Michel Giacometti entre 1962 e 1963.

Michel Giacometti conheceu em França uma mulher portuguesa com quem iria casar e com quem veio para Portugal. Ele tinha encontrado, no Museu do Homem, em Paris, um livro decisivo para a sua vida pessoal e intelectual, “Folk Music and Poetry of Spain and Portugal”, de Kurt Schindler, alemão radicado nos Estados Unidos da América, que, em 1929, visitara Espanha e em 1931 estivera no norte de Portugal, em Trás-os-Montes. Foi na região transmontana que Michel iniciou a sua longa e extraordinária missão de etnólogo, de estudioso, de investigador e recolector das raízes culturais populares, dos cantos, das músicas, dos instrumentos musicais e de trabalho, da medicina popular, de tudo o que trouxesse ao de cima o que identificava e identifica um povo a perder-se na emigração e na guerra colonial do fascismo e, mais tarde, nessa desastrosa integração europeia que destruiu o trabalho, a nossa vida no interior e nas áreas metropolitanas, nas regiões desapossadas do essencial na agricultura, na indústria e nas pescas, dessa reforma agrária nos campos do Alentejo e do Ribatejo, a mais bela conquista da Revolução, destruída por mentecaptos e servidores do capitalismo. 

Como Associação Conquistas da Revolução, tudo fizemos e faremos para prestar homenagem e não deixar esquecer quem lutou por nós, pela nossa cultura, presente e futuro, Michel Giacometti, que veio de longe para se aliar ao maestro Lopes Graça, que era o criador e erudito no apoio e trabalho conjunto, a João Honrado, também comunista, saído das cadeias do fascismo em 1972, que foi seu apoio companheiro em Lisboa e no Alentejo, antes e depois de Abril, a Manuel Jorge Veloso, intelectual comunista decisivo na RTP, em 1970, para que Filipe de Sousa, então responsável por uma área de programas, desse luz verde para a realização da série “Povo que Canta”.

Alfredo Tropa, o realizador, Manuel Jorge Veloso, o responsável pela organização e trabalho no terreno, Francisco d’Orey e outros trabalhadores da cultura deram asas ao sonho para que, entre 1970 e 1974, essa série magnífica e verdadeira passasse na televisão, mostrando o essencial da nossa vida e identidade. Tudo isto aconteceu face à mistificação e à destruição operadas por um programa reaccionário apresentado por Pedro Homem de Mello, com ranchos folclóricos negativamente influenciados pelo fascismo, nas vestes, nas cantigas e nas músicas, desde logo pela introdução do acordeão, instrumento que nada tinha a ver com a tradição dos cantos e das músicas criadas pelo povo de cada aldeia, vila e lugares por onde Michel Giacometti andou e recolheu o essencial que nos dava força e gosto de sermos portugueses, apesar da fome e da miséria que encontrou por todo o lado. Foram 37 filmes a preto e branco que realizaram e exibiram com o título “Povo que Canta”, título que faz parte de um verso de um poeta e filósofo revolucionário, Jesús Lópes Pacheco, “Pueblo que canta no morirá”.

Com os jovens das campanhas de alfabetização, depois de Abril, criou o Plano Trabalho e Cultura, na recolha e estudo da nossa vida e cultura, no sentido de terem memória e experiência para construírem uma consciência política.

Trabalhou no INATEL, na sua reestruturação, dirigindo o Gabinete de Etnografia e Folclore, de onde saiu em 1978, doente com o que lhe fizeram.

Escreveu, em parceria com Fernando Lopes Graça, o “Cancioneiro Popular Português”, editado em 1981 pelo Círculo de Leitores.

Ao longo da sua vida em Portugal esteve 95 meses na investigação no terreno, na recolha de mais de 4 000 repertórios musicais, de para cima de 50 000 fichas com informações e 6 000 fotografias, para além de outros dados da vida social, económica, espiritual e política do povo português.

Michel Giacometti, que em jovem passou por aventuras na Argélia, que viveu revoluções e conheceu Albert Camus, foi operário fabril no norte da Europa, intelectual, poeta, aluno na Sorbonne, e veio para Portugal por motivos familiares e de doença.

Todo o nosso país foi seu território de pesquisa. Sabendo da importância da edição e da divulgação e entendendo o papel do cinema e da televisão, actuou como profissional e investigador e esteve ligado aos cineclubes.

Ainda em Paris, em 1959, um médico aconselhou-o a procurar um clima mais propício à cura da tuberculose que acabara de contrair. Deixa Paris e vem para Lisboa, sem ideias de se fixar por cá, apesar de ter casado com uma portuguesa. Tem 30 anos e na memória traz esse livro encontrado no Museu do Homem, no qual o musicólogo alemão mas radicado nos EUA, Kurt Schindler, descrevia, entusiasmado, uma passagem por aldeias de Trás-os-Montes. Ainda em convalescença, em Lisboa, decide ir conhecer aquela província.

Nunca mais parou, este andarilho nascido na Córsega, em 1929, criado por um tio funcionário na Rota do Império Francês, desde os confins argelinos, à porta do deserto, até às margens do Mediterrâneo. Raptado por uma tribo aos três anos, salvo por uma criada negra, Herratin (descendente de antigos escravos negros de árabes), vê os tios dormirem com uma espingarda à cabeceira, “à espera dos maus”, na queda lenta do império. Os jogos de criança disputa-os em espanhol e árabe; chora ao ver um amigo árabe das brincadeiras de rua a cantar, de punho erguido, “A Internacional”. A Frente Popular ganhara as eleições em França e o amigo (tinham ambos sete anos) explica-lhe: “Agora somos todos iguais”.

Naqueles anos das suas viagens de Lisboa para todo o Portugal, em condições difíceis, com ou sem dinheiro, com um primeiro gravador e depois com um segundo gravador Nagra, que custou 40 contos e foi comprado pelo arquitecto e arqueólogo Gustavo Marques e emprestado para fazer melhor o seu trabalho, ele tinha mágoa de ver a maioria da intelectualidade portuguesa divorciada da realidade dos trabalhadores e do povo. Não era o caso de Fernando Lopes Graça, que o trouxe pela primeira vez a Peroguarda e o levou a outros encontros e culturas, ou de Alves Redol, que escrevera já “Glória, uma aldeia do Ribatejo”, “Fanga, Marés e Avieiros” e livros como os do ciclo do Vinho do Porto, de Soeiro Pereira Gomes, com “Engrenagem”, “Esteiros” e “Contos Vermelhos”, de Manuel da Fonseca com “Aldeia Nova”, “Seara de Vento”, Cerromaior” e outros livros que são honra e orgulho de todos nós.

Mas muitos intelectuais seguiam a postura dominante do fascismo e do abandono do país real, o que Michel Giacometti criticava e enfrentava, partindo para as terras onde havia amigos que o acarinhavam e apoiavam, nas suas pesquisas e recolha da cultura popular, como aconteceu sempre no Alentejo e também em Peroguarda, terra da sua afeição e amizade.

Conta ele, a certa altura das suas entrevistas e depoimentos, o que aconteceu um dia, em terras entre Miranda do Douro e Bragança, e diz, amargamente, que chegou a fazer prospecção sem nada na algibeira. Então, tinha de fazer uma deslocação de 10 Km, por caminhos cheios de neve, para ouvir uma pessoa, e que havia um casal que tinha uma mula velha. “Emprestaram-ma”, contava ele, “mas a mula parava no caminho, coitada. Desci dela, comecei a empurrá-la. A certa altura, a mula caiu na neve. Gosto muito de animais, pus a cabeça dela no meu colo, para lhe dar calor, ela estava a ficar fria. Fiquei sem transporte, no meio do caminho, frio e vento, com uma fome desgraçada, e eu sem saber o que haveria de dizer aos donos. “Vou fugir”, pensava. Voltei. “Olhem, aconteceu uma desgraça, a mula morreu”. Estavam a fazer uma sopa de couves com batatas. “Deus leva o que lhe pertence”, disseram. Comi em silêncio; era terrível para eles a falta da mula e propus-lhes: “Agora não tenho dinheiro, mas, quando chegar a Lisboa, arranjo duzentos escudos. Quero compensar-vos”. Não aceitaram. “Deus leva o que lhe pertence…”

Podemos assim imaginar o que foram anos e anos de trabalho, por entre situações de grande pobreza, que as pessoas a viverem nessas condições denunciavam para as gravações e filmagens, mas que eram cortadas pela censura e os censores da televisão e da rádio. No início dos anos 1960/1970, saiu uma famosa colecção de discos com capas de serapilheira, a Antologia da Música Regional Portuguesa, discos que muito nos surpreenderam e deram consciência da ausência de apoios para conhecermos as canções e as músicas essenciais do cancioneiro das regiões e do país. As pessoas conscientes e interventivas quotizavam-se, formaram quase uma cooperativa e os discos foram editados, foram perseguidos e apreendidos pela Pide em muitas casas e marcaram profundamente a nossa evolução musical e política. Evolução que iria afirmar-se na luta contra a guerra colonial que destruía milhares de jovens, nos combates contra a exploração, o custo de vida e a miséria, pela cultura integral do indivíduo que Bento de Jesus Caraça, Álvaro Cunhal, Soeiro Pereira Gomes, Fernando Lopes Graça, Maria Lamas, Virgínia de Moura, Irene Lisboa, Matilde Rosa Araújo e tantos outros intelectuais defendiam e impulsionavam.

O trabalho pioneiro de Michel Giacometti, um português estrangeiro dos mais portugueses que conhecemos, ali estava, naquela casa da Rua dos Navegantes, em Cascais, em milhares de fichas, gravações, fotografias e outros materiais que ele organizava meticulosamente e com rigor, num exemplo que não era bem português, de exigência, dedicação e sacrifício.

Michel foi um construtor da democracia e da Revolução de Abril, desde logo estabelecendo contactos com intelectuais e trabalhadores empenhados nas lutas de libertação e afirmação da cultura e dos saberes populares. Pertenceu à Base socioprofissional da CDE – Comissões Democráticas Eleitorais, desde 1969, com Manuel Jorge Veloso, Celeste Amorim, que gravou a locução de “Povo que canta”, que o visitavam e com ele reuniam, entre outros militantes e cantores do Coro Lopes Graça, da Academia de Amadores de Música. Foi militante comunista, com cartão que teve de ser publicado no Avante!, quando quiseram pôr em causa as suas opções pela revolução e pelo futuro do nosso povo.

Disse ele: “O PCP pertence ao património do povo português. É indispensável que haja em Portugal um partido que critique a corrupção, as injustiças e os gangsterismos políticos e se possa manter como consciência crítica da sociedade”.

Michel deveu ao investigador e grande estudioso da nossa vida e cultura Ernesto Veiga de Oliveira o acesso a uma lista de tamborileiros do Baixo Alentejo ou o conhecimento de Catarina Sargento, a voz impressionante dos cantares de Penha Garcia e da Beira Baixa, no caminho da construção de um arquivo primacial sonoro que fundou em 1960, responsável pela recolha, tratamento, depósito e edição de sons e da música regional portuguesa até à sua morte, em 1990.

Do seu saber e acerca do Maestro Lopes Graça disse: Eu não sou um musicólogo, mas apenas um etnólogo. Por isso, às vezes preciso de ouvir meia centena de canções para descobrir uma que seja inteiramente original. A primeira selecção é feita por mim; a segunda é feita pelo maestro Lopes Graça.

Fernando Lopes Graça organizou cerca de 200 canções, com arranjos à mão, para o Coro da Academia de Amadores de Música e para fruição de todos nós. Com Jorge Dias e Artur Santos, integrou a Comissão de Etnomusicologia da Fundação Calouste Gulbenkian.

Quando Michel Giacometti faleceu, no Hospital de Faro, pediu para avisarem quem ele queria que avisassem, para avisarem Octávio Pato, dirigente do PCP, dizendo que queria ficar sepultado no Alentejo, entre este povo que amava e de quem se tornara irmão de sangue, de luta e de cultura.

Aqui, em Peroguarda, em 1917, o visconde de Villa Moura ouviu cantos acompanhados à viola de arames, e, mais tarde, Michel veio pela mão de Lopes Graça e também por influência de António Reis, cineasta que realizou “Trás-os-Montes”, filme incómodo para o fascismo, e que era amigo entranhado desta terra. Foi aqui que Michel e Lopes Graça gravaram “Menino”, um canto de Natal, em 1965, pelas vozes de Ilda e Palmira, irmãs de Virgínia Dias, que também gostava de cantar mas o pai achava que ela ainda tinha muito que aprender. Mais tarde ela fez poemas sobre Michel Giacometti e foi o seu marido, Agostinho Pereira, então presidente da Junta de Freguesia de Peroguarda, que disse que sim, que Michel podia ficar para sempre nesta aldeia que ele tanto amava.

E, por isso, também por isso, estamos hoje a recordar e a conviver com Michel Giacometti, com a sua memória e sorriso de amigo, aqui, nesta sala, ao nosso lado, para dizer que as conquistas da Revolução de Abril foram e são nossas, se quisermos ser cultos e inteligentes, na denúncia e no combate ao novo fascismo que sub-repticiamente se instala, nesse ódio à cultura dos Passos Coelhos e dos Portas, de tantos outros que pelos poderes passaram, tão pequeninos e insidiosos como perigosos para a nossa vida e para o nosso futuro.

Michel diria e diz, na sua obra e no seu exemplo, “precisamos de mudar de vez esta vida”. Sim, precisamos de mudança a sério e nova, como também diria Manuel da Fonseca, esse alentejano tão amigo e criador do mundo do trabalho e da liberdade humana.

Hoje, ficamos mais livres e operativos neste encontro, como quis e quer Michel Giacometti, como quis e quer Fernando Lopes Graça, como quiseram e querem os que lutaram e lutam pela nossa identidade, soberania e independência.

Levamos a música e o Cante Alentejano connosco, esse património imaterial da humanidade que José Gomes Ferreira sintetizou naquele verso famoso, “Nunca vi um alentejano cantar sozinho”, dando assim o sinal mais forte da nossa união na defesa e impulsionamento das Conquistas da Revolução de Abril e do futuro que temos de construir.

Viva o 25 de Abril
Vivam a obra e o exemplo de Michel Giacometti.

Conquistas da Revolução e Vasco Gonçalves evocados em Montemor-o-Novo








    Evocando em particular uma das Conquistas da Revolução que não foi liquidada de imediato pelo golpe reacionário do 25 de Novembro de 1975, a Reforma Agrária, a Associação Conquistas da Revolução levou a cabo, no passado sábado, no Auditório da Junta da União de Freguesias da Vila, Vila do Bispo e Silveiras, em Montemor-o-Novo, uma sessão de apresentação dos livros por si editados, “Conquistas da Revolução” e “Vasco, nome de Abril”.
   Dirigida por António Danado, Presidente da Junta, e perante quase meia centena de presenças, a sessão contou com intervenções de Manuel Begonha e José Baptista Alves, Militares de Abril e respectivamente Presidente e Vice-Presidente da ACR, Hortência Menino, Presidente da Câmara Municipal, e, naturalmente, António Gervásio, resistente anti-fascista, preso político nas masmorras da ditadura e obreiro daquela que foi chamada a mais bela das Conquistas de Abril.
   António Gervásio não podia deixar de recordar a presença de Vasco Gonçalves quer na I Conferência dos Trabalhadores Agrícolas do Sul, a 9 de Fevereiro de 1975, quer na XI Conferência da Reforma Agrária, a 24 e 25 de Outubro de l987, ambas realizadas em Évora, esta sob o lema “Portugal precisa da Reforma Agrária”: “A Reforma Agrária foi destruída, tal como outras Conquistas da Revolução. Mas a bandeira da Reforma Agrária mantem-se viva e actual, como valor de Abril a apontar para o futuro de Portugal… A Reforma Agrária é uma exigência incontornável para um governo patriótico e de esquerda” - enfatizou.
    

   

Recordando a Reforma Agrária

Considerando, que a Reforma Agrária é uma das mais significativas Conquistas da Revolução,  a Associação Conquistas da Revolução convida os seus associados a estarem presentes no lançamento do livro "As 12 Conferências da Reforma Agrária".