Para onde caminha a Europa

 

PARA ONDE CAMINHA A UE

 Manuel Begonha
Presidente da Assembleia Geral
 
 
O colapso da URSS a partir de 1989, ficou a dever-se a diversos factores, desde o desvio da prática socialista, à corrupção de alguns dirigentes, mas sobretudo ao desgaste das funções do Estado, ocorrido durante a guerra fria, devido ao aumento dos custos com a Defesa.
Sentiu a necessidade de acompanhar o aumento e modernização do arsenal militar dos EUA, tendo-se deixado arrastar para a guerra no Afeganistão.
Pareceu ignorar que enquanto num país capitalista como os EUA, a produção de armamento enriquece os respectivos fabricantes e indústrias associadas, num país de modelo socialista, as despesas crescentes e sucessivas do orçamento militar irão defraudar outras funções essenciais do Estado, como o apoio social, a saúde, a educação, a habitação e os rendimentos familiares.
É assim, de crise em crise, chegaram ao consulado de Gorbachov.
Presentemente, assistimos a uma tentativa da NATO para repetir a receita.
A Rússia, com a invasão da Ucrânia vê -se confrontada com o aumento da despesa militar, aplicação de sanções, mobilização de cada vez mais pessoal e as consequências sociais da diminuição do PIB.
As dificuldades criadas pelas sanções, parecem estar a ser compensadas pelas exportações de gás natural e outros produtos para os países da Grande Eurasia, outros para a África e para a América Latina, mas principalmente para os BRICS, a que se juntou o Irão.
Tal não evita algum descontentamento do povo russo com a guerra, especialmente os familiares dos combatentes e correspondentes vítimas.
Os EUA definem como objectivo estratégico, o enfraquecimento da Rússia uma vez que são um importante parceiro económico da UE, são a porta para a Eurasia, são um poderoso aliado da China - o verdadeiro alvo a abater - e tem um papel decisivo na construção de um novo mundo multipolar.
Nenhuma destas circunstâncias, diz respeito à UE, o que torna algo surpreendente o respectivo envolvimento tão profundo e militante na guerra da Ucrânia.
Se ainda é, pelo tão apregoado receio de uma expansão da Rússia para os países vizinhos, a actual guerra quebrou claramente esse mito, face à evidente incapacidade demonstrada em derrotar a NATO numa guerra convencional.
Serão ainda sequelas do passado comunista da Rússia, que hoje como é sabido é governada por uma política neoliberal?
Estaremos a ser manipulados por um irracional anti - comunismo?
Seja como for, a subordinação da UE aos ditames dos EUA, apenas lhe está a trazer um incalculável prejuízo.
E assim, vão prolongando esta guerra, assinando o fantasmagórico tratado de Kiev, permitindo a alegada utilização de militares da NATO, fardados de ucranianos e contribuindo para uma situação que poderá levar a Rússia a sentir-se encurralada e acabe por recorrer a uma saída nuclear da qual a UE seria a primeira vítima.
Espera-se que com o aproximar do Inverno, o aumento do custo de vida e os problemas sociais decorrentes das sanções, conduza os povos da Europa a manifestarem-se, tornando os respectivos governos menos beligerantes, criando assim condições para que se consiga alcançar a tão desejada paz.

 

"Me engana que eu gosto"

 

“Me engana que eu gosto”

 

Marques Pinto
Vogal da direcção

 

 

Há alguns dias em conversa num grupo de amigos ouvi uma conhecida frase normalmente atribuída e usada na nossa língua irmã, o “Português do Brasil”.

A frase “me engana que eu gosto” poderá ser usada em múltiplas e diversas ocasiões e circunstancias, contudo no caso presente e a que me refiro aplica-se á sistemática deturpação da verdade, encobrimento e até por vezes a negação de factos e acontecimentos que foram relatados na imprensa e até noticiários televisivos de outros países europeus pertencentes á mesma manada europeia liderada pela capataz designada e escolhida ---  não foi sequer eleita – pelo patrão residente no outro lado do Atlântico.

 

Refiro-me ao quase total alheamento dos nossos “media” em relação á crise e contestação frequente e com grande adesão de elevada percentagem da população rural da Holanda contra a politica que o seu governo a mando da dirigente nazi está a prejudicar toda a agricultura na Holanda, e que tem levado a acções e manifestações frequentes e de grande impacto local como cortes de estradas, e até o deposito de umas centenas de kilos de excrementos frente a residências de políticos seguidistas das acções contra os interesses da população rural.

 

Lembro também a quase total inexistência de imagens e noticias sobre as manifestações anti-crise económica e preços de produtos essenciais que levou muitas dezenas de milhares de Checos a manifestarem-se nas ruas.

Em toda a Europa uma população minimamente esclarecida já está a entender e a fazer entender aos seus representantes nos respectivos governos que é absolutamente necessário e urgente pôr fim a uma situação que encoberta e camuflada por uma guerra está a permitir com a total anuência e permissividade dos seus governantes que os EUA/Nato levem a cabo rapidamente a destruição económica da Europa e a tornem num pequeno grupo de países totalmente domados e subservientes a interesses financeiros e económicos sem capacidade industrial nem energética própria o que no seculo 21 equivale a tornar-se num grupo de países párias e obedientes e quase servos de patrões e interesses estranhos.

 

Penso que será altura de cada um fazer uma análise calma e fria sobre a situação que vivemos e o que realmente pretende deixar aos seus filhos e netos e mesmo que tenha um espirito servilista e acomodatício deve por imperativo de consciência pensar se os seus netos não o poderão julgar no futuro e que juízo farão.

Tópicos para debate na reunião da presidência do CPPC apresentados por Baptista Alves

 

 

 

Reunião da Presidência do CPPC

(13 de Setembro de 2022)

Tópicos para o debate

 

Baptista Alves

(Presidente da Mesa da Assembleia da Paz e Presidente da Direcção da ACR)

 

A situação internacional é hoje caracterizada por uma mudança acelerada na geoestratégia planetária consequente do ressurgimento de outros polos de poder disputando a hegemonia dos EUA nos campos económico e militar.

Com o desmantelamento da União Soviética e o fim da Guerra Fria, os EUA levando a reboque os países europeus engajados na OTAN, então já sem adversário, lançaram-se numa desenfreada corrida expansionista no Leste Europeu, no Médio Oriente e em África, derrubando governos insubmissos, através de ingerências de todo o tipo ou mesmo de intervenções militares sangrentas (Na Jugoslávia, na Sérvia, na Líbia, no Iraque, no Afeganistão e na Síria). Fizeram-no com a complacência da grande maioria dos Estados membros da ONU, com ou sem mandato desta, apenas ancorados na sua supremacia militar incontestada. E mantêm hoje, na lista dos Estados alvos selecionados, a Rússia, a China e o Irão, identificados como não democráticos, desrespeitadores dos direitos humanos, com líderes perigosos autocratas (Cuba e Venezuela, também lá estão) e todos são portanto alvos privilegiados de sanções económicas.

A guerra psicológica desencadeada através dos meios de comunicação social, dominados, na quase totalidade, pelos grandes grupos económicos do planeta que suportam esta estratégia do império global, não tem paralelo na história da humanidade.

O Mundo de hoje, do século XXI da nossa Era, com todos os poderosos meios de informação que um alucinante progresso nos faculta, ficou completamente, ou quase, às escuras: dormiu tranquilo debaixo do ribombar dos  ataques  que  os media amestrados silenciavam afanosamente: cavando  autênticas valas comuns dos direitos humanos.

Como tudo nesta vida não dura sempre, assim aconteceu … e na Síria tudo começou a mudar.

A Síria não estava só! A Federação Ruça e a Síria tinham um tratado de defesa mútua e accionaram-no. E, o que parecia ser, à partida, uma passeata para os bombardeiros, tornou-se num arriscado jogo de medição de forças.

O Irão pôde respirar um pouco, o Afeganistão destroçado, viu fugir os ocupantes e caiu outra vez nas mãos dos talibans… e por aí adiante.

E, chegamos à Europa novamente em guerra, agora na Ucrânia.

Uma guerra que não começou agora, já vinha acontecendo desde 2014. Nós, os ditos ocidentais, é que só agora a vimos. Acordámos tarde… e estremunhados deixámo-nos engajar na ratoeira que o império arquitectou para o ataque final e submissão da Federação Russa e,… por tabela, chegar e submeter a China.

E, o que parece ser mais interessante, é que todos sabem que isto não vai ser possível, … dum lado e do outro do tabuleiro. Todos, a meu ver, estão a jogar na 2ª hipótese: Uma 2ª Guerra Fria. A corrida aos armamentos satisfaz a gula dos complexos industriais-militares e não só (Ou será que os investimentos americanos, na compra de terras na Ucrânia -um terço da área arável) não têm importância? E todos os outros já consolidados nos territórios dos países do leste europeu garantindo o controlo sobre matérias-primas essenciais?

Então, e a China? A China não aparenta estar interessada em nada disto, muito pelo contrário, afigura-se-me que os interesses chineses não o aconselham, mas que estão a ser empurrados para isto, parece ser um facto.

Não creio que esta 2ª hipótese tenha “pernas para andar”. Mais cedo do que se pensa, os interesses divergentes dos diferentes protagonistas de todos estes eventos irão ser postos no tabuleiro, sem rodeios, e são eles que vão decidir o caminho. E, os aparentes consensos actuais vão inexoravelmente desfazer-se. E, a vítima será, muito provavelmente, a União Europeia. E, eu interrogo-me se premeditadamente, ou não?

Da terceira hipótese, ninguém no seu perfeito juízo quer admitir sequer que possa vir a acontecer, mas é disso que a nós, lutadores pela Paz se nos impõe, em primeiro lugar, falar e alertar todo o Mundo para que jamais se volte a falar disso: um conflito generalizado com utilização de armas de destruição massiva (nucleares, biológicas ou químicas e outras com efeitos de destruição semelhantes).

Deixando de parte a aberrante situação para que nos deixamos arrastar - nós os portugueses que até temos bem claramente inscrito na CRP a nossa determinação em preconizar o desarmamento geral e simultâneo e o desmantelamento dos blocos político-militares – podemos intuir que o resultado deste conflito, já com características de pré-III Grande Guerra, não passará disso mesmo e poderá terminar a curto prazo com uma Conferência de Paz - aberta a todos os Estados do Mundo - donde saia uma nova ordem Mundial, baseada no respeito pela soberania dos Estados, ou melhor, suportada nos princípios  estabelecidos no Artigo 7º da nossa CRP de Abril.

É evidente para todos nós, que sou um optimista. Mas acreditem que desde há muito, tento acompanhar a evolução desta magna questão da Paz, e também desde há muito que suspeito que haverá mais hipóteses de chegar a esse objectivo, num Mundo multipolar (Este mesmo Mundo que já temos e que a cegueira congénita de alguns não os deixa ver).

Seremos, ou não, capazes de construir um novo Mundo, com regras assumidas por todos, onde nenhum Estado possa pensar que pode subjugar outro sem consequências, onde os blocos militares sejam desnecessários, onde o desarmamento geral universal e controlado seja um facto, onde seja finalmente possível viver em Paz e construir um Mundo melhor, mais fraterno e mais feliz?

Um Mundo que respeite os direitos dos povos, os direitos do Homem, os diretos das crianças e toda a panóplia de conquistas civilizacionais já consagradas na Carta das Nações Unidas e onde toda a imensa capacidade científica e técnica criada ao longo de séculos e toda a que havemos ainda de criar, seja colocada exclusiva e definitivamente ao serviço da vida.

A GUERRA DAS NAÇÕES - Manuel Begonha

 

A GUERRA DAS SANÇÕES

Manuel Begonha
Presidente da Assembleia Geral

 

O Primeiro Ministro, António Costa, referiu na sua mais recente entrevista que a crise que se avizinha, é resultado da guerra na Ucrânia.
Ninguém duvida de que a Rússia, por razões que não estão no âmbito deste texto aprofundar, invadiu a Ucrânia.
As respectivas trágicas sequelas estão bem à vista.
Mas é conveniente não esquecer que na prática, a dita crise teve origem nas sanções aplicadas à Rússia, cujas repercussões foram mal avaliadas pela UE no seu afã de obedecer às ordens do amigo norte-americano.
Mais uma vez, afinal os EUA são até agora, o único vendedor desta guerra e sem ter sacrificado qualquer militar, excepto mercenários e agentes encobertos.
Passou a ser um importante fornecedor de gás e petróleo à UE, enriqueceu a máquina militar industrial, com a produção de armamento e outros serviços, para além de ter feito ajoelhar a indústria europeia e em especial a Alemanha, logro este que a sra Merkel pressentiu, manifestando-se contra a estratégia de expansão da NATO e as provocações á Rússia.
Mas como as lições do passado são rapidamente esquecidas, resta-nos aguardar que piores consequências não venham a caminho, actuando-se em conformidade com as disposições para a paz da ONU e se removam os obstáculos, para que se chegue a um acordo negociado que é do interesse de todos.


 

Apresentação do livro "OMundo velho está a morrer. O novo ainda não nasceu" de Avelãs Nunes sábado dia 10 de Setembro na Feira do Livro em Lisboa

 

 É já no próximo sábado, dia 10 de Setembro, pelas 14:30, no Palco da Praça Azul da Feira do Livro em Lisboa que será apresentado o livro 

"O mundo velho está a morrer. O novo ainda não nasceu". 

Este é o tempo dos monstros – Apontamentos para tentar compreender a guerra na Ucrânia em conversa com o autor António Avelãs Nunes.