Comandante Ramiro Correia evocado no Museu do Trabalho Michel Giacometti






Com a participação de Manuel Begonha, Presidente da Associação Conquistas da Revolução, e de Fernando Casaca, Director do Teatro do Elefante, Ramiro Correia foi evocado em Setúbal na noite de 17 de Junho, a partir de uma ideia base que foi elemento de divulgação da iniciativa: “pelo papel percursor e destacado que teve nas Campanhas de Dinamização Cultural e de Esclarecimento Cívico durante os Governos do General Vasco Gonçalves, o acervo do Museu do Trabalho muito tem a ver com ele, para sempre”.
    Toda a intervenção de Manuel Begonha, como era natural, assentou no conhecimento e relacionamento directo, no dia-a-dia da Revolução, com aquele Capitão-de-Mar-e-Guerra, membro do Conselho da Revolução e Chefe da 5ª Divisão do EMGFA, tão trágicamente falecido em 1977, em Moçambique.

   O facto de uma das peças do Museu ser curiosamente um búzio oriundo de uma Equipa de quatro jovens estudantes, dois rapazes e duas raparigas, a Equipa E5, que no quadro do Serviço Cívico Estudantil teve como base de trabalho a Aldeia do Meco, e porque a sessão foi ainda local de denúncia e repúdio pela Cimeira da NATO que vai ter lugar a 8 e 9 de Julho próximo, em Varsóvia - e assim à designação “Comandante Ramiro Correia, Militar de Abril”, juntou-se-lhe “Sado, Baía de Paz”, o Director do Teatro do Elefante, a par de ler poemas de Ramiro, elaborou ele próprio um texto de homenagem. A ACR, que igualmente tomou palavra numa Tribuna Pública na Praça do Bocage, na capital sadina, em 20 de Outubro passado, contra os Exercícios NATO Triden Juncture (Portugal, Espanha e Itália), dos quais o porto desta cidade foi importante plataforma logística, volta a ser promotora da manifestação SIM À PAZ, NÃO À NATO, a realizar em Lisboa a 8.








Ramiro Correia ou O búzio da Praia do Meco


Alguma vez encostaram um búzio aos vossos ouvidos?
Sim, talvez seja um gesto que guardamos da infância. Algo que quase esquecemos, porque ficou adormecido na memória dos outros tempos. Sim, talvez o tenhamos repetido com os nossos filhos pequenos. Ou, sim, alguns de vós talvez o tenham experimentado, recentemente, com os vossos netos meninos. É uma forma de revelar mistérios, um ritual de iniciação para muitos que vivem à beira-mar. Que vivem à beira desse imenso ribeiro que separa continentes. Mas que, no entanto, não separa os verdadeiros anseios dos homens e das mulheres. Anseios de alargar o conhecimento. Anseios de transformar a realidade que nos rodeia e oprime.
Mas… alguma vez ouviram os segredos guardados na perenidade, dentro de um búzio do mar? Aqueles segredos que se revelam, apenas, nos espaços dos afetos e das emoções: a imaginação, a vontade e o desejo. Os segredos que são sussurrados pelo som amplificado na matéria natural que constitui a concha de um búzio do mar. Na simplicidade perene dessa natureza material, que nos acolhe neste mundo vivo em que coabitam gentes, plantas e animais. Segredos que nascem e crescem dentro de cada um de nós, e que se dirigem para o mar.
Alguma vez cederam ao apelo do mar, das correntes e das marés, dos ventos e do horizonte? Alguma vez escutaram o mundo das coisas que se encontram guardadas no fundo interior de um búzio do mar? Esse mar de inquietação, corpo em incessante movimento; corpo vivo, em paixão e liberdade. Esse mar que gera vida e com ela a cultura e a arte. Onde navegam navios e marinheiros. Onde se cruzam tantos idiomas e nomes. Onde o passado se faz futuro, em extensas viagens entre ondas e marés. Levando-nos longe, nas paisagens e nos saberes.
Assim é o mar, o lugar onde mais vezes desenhamos a linha do horizonte.
E para que servem o mar e o horizonte? A resposta, a resposta possível encontrei-a em palavras. Nas palavras de Eduardo Galeano: sabem para que serve a utopia? - tal como o horizonte, serve para caminharmos. A utopia e o horizonte servem para nos pormos a caminho. – para nos pormos NO caminho
Nos finais do século XX, um Homem (quero sublinhar a grandeza deste H) juntou-se a outros homens e fez com que o mar galgasse a terra. Ou melhor, com eles o mar galgou montanhas, atingiu gentes e territórios abandonados, do interior desse imenso lugar português, das aldeias e vilas do nosso país. Levou (e lavrou com a sua fúria de vida, com a sua inabalável vontade de liberdade), levou a cultura à descentralização. Chamaram-lhe Dinamização Cultural. Com ele estiveram muitos camaradas; artistas e soldados, civis e militares. Ramiro Correia, o homem do mar e de abril. Ramiro Correia e a 5ª Divisão marcaram a História de Portugal. Desenharam o novo horizonte, polimórfico e apontando ao futuro, entre serras e vales. Quais navegantes da liberdade. Encontrá-lo-emos. Havemos de reencontrá-los, para sempre, no futuro.

De Aço e de Sonho - Espectáculo comemorativo dos 40 anos da CRP

40 ANOS DA CONSTITUIÇÃO PORTUGUESA
1976 – 2016
“DE AÇO E DE SONHO”
- homenagem a Vasco Gonçalves sobe a palco
na Casa do Alentejo, em Lisboa
























  De “Aço e de Sonho”, o espectáculo comemorativo dos 40 anos da Constituição da República Portuguesa, uma organização conjunta das Juntas de Freguesia e Câmara Municipal de Almada e do Teatro Extremo, que neste concelho por três vezes já esteve em representação pública em pleno mês de Abril, vai ocupar a noite de quinta-feira, 16 de Junho próximo, pelas 21h00, a Casa do Alentejo, em Lisboa, desta vez por iniciativa da Associação Conquistas da Revolução.
  Em documento próprio, os promotores deste tributo à nossa Constituição vincam que “não podiam deixar de prestar atenção aos Governos Provisórios que tornaram possíveis as eleições livres que formaram a Assembleia Constituinte e à figura de um dos seus mais carismáticos protagonistas: o General Vasco Gonçalves. É sobre um seu depoimento escrito e enviado ao Festival Mundial de Teatro de Nancy de 1977, onde é explicado os fundamentos da nossa Constituição e o seu papel destacado na primeira linha de uma frente comum de ideias pela defesa do direito dos povos à livre escolha do seu regime politico e cultural, que iremos erguer este espectáculo”, precisam.
  “Ao juntar três criadores, Joana Manuel, Rui Galveias e António Boieiro, de áreas distintas mas que têm no seu percurso artístico cruzamentos e contaminações nos planos musical, de actuação, de declamação”, explicam ainda, “pretendemos construir com algum inevitável didactismo (pois muitos dos vivos ainda não tinham nascido quando foi aprovada a Constituição em 1976) um trabalho poético e festivo que procure chegar ao coração dos que conhecem o processo desde a criação de uma Constituição que rompeu com o regime fascista e outorgou direitos a quem não os tinha, até ao texto que hoje nos baliza e, mesmo com amputações, cortes e desvios feitos ao texto inicial, continua a ser uma ferramenta essencial para o progresso de todo o povo nos domínios sociais, políticos e culturais.