Em memória de José Casanova





Em memória de José Casanova

Conheci o Zé há muitos anos, mas o Homem em toda a sua dimensão, foi-me apenas revelado nos trabalhos que tivemos na Comissão Instaladora da nossa Associação.
Tal como o seu grande amigo Vasco Gonçalves – que tanto desejou no âmbito dos objectivos da ACR sujeitar ao luminoso escrutínio da verdade – era um anti-herói. Mas um anti-herói combatente e uma muralha intransponível na defesa da materialização dos seus ideais e princípios. Tais eram, fazer com que o povo tomasse as rédeas do seu próprio destino. Era pois um homem de elevados critérios éticos e morais.
Deveria ter sido Presidente da Associação mas recusou, entendendo que seria um erro e os argumentos denunciaram uma tão clara sensatez e prudência que a todos convenceu. Ficou então com a Vice-Presidência, mas julgo também que, modesto como era temia que o seu nome fosse maior do que o da própria Associação.
Discutia-se a justeza de montar um espectáculo de homenagem a Ary dos Santos. Na reunião seguinte apresentava o respectivo Guião. Pretendemos fazer um Congresso, integrado nas comemorações do 40º aniversário do 25 de Abril. Passado pouco tempo aparecia com a correspondente organização, metodologia e temas a discutir, envolvendo ainda uma homenagem ao companheiro Vasco. Pois é, as coisas nascem assim, mas deviam-se a trabalho militante, dedicação a causas e um enorme talento para a escrita, alicerçado numa profunda cultura e intuição política. E apesar disto, continuava humilde e árbitro natural de algumas divergências próprias da nossa actividade, sem nunca levantar a voz ou ter perdido um amigo. E isto é ser inteligente.
Lembro-me de lhe ter dito numa reunião de direcção que o considerava um dos homens mais importantes que tinha conhecido. Estou satisfeito por lhe ter transmitido esta apreciação em vida, que é quando os actos justos devem ser concretizados.
Diz-se que não há homens insubstituíveis. Será mesmo assim? Sem a presença física do Zé, oxalá que nos possamos inspirar nele para prosseguir com as nossas tarefas, e dizer como A. Lincoln, “cabe-nos a nós, os vivos, comprometermo-nos a levar a cabo a obra inacabada de quem lutou e que com tanta nobreza a fez avançar”.

Até sempre José Casanova

Manuel Begonha – Presidente da Associação Conquistas da Revolução