“Após
48 de fascismo, 14 anos de Guerras Coloniais, 32% de analfabetos, 10% da
população emigrada e milhares de mortos e inválidos de guerra. Após termos
índices sanitários dos mais baixos da Europa, problemas dramáticos na habitação
e conomia desastrosa. Com o prestígio internacional nulo. Repressão. Tortura.
Censura. Corrupção.
Foi
neste clima de tragédia que na madrugada do 25 de Abril o MFA e o povo
iniciaram a árdua caminhada para a construção da sociedade socialista em
Portugal”.
Assim
escreveu Ramiro Correia no 1º aniversário do 25 de Abril.
Levantou-se
então uma força revolucionária imparável que percorreu toda a sociedade
portuguesa, conduzida essencialmente pelos trabalhadores.
Como
em todas as épocas singulares da história dos povos, surgiu um homem, o General
Vasco gonçalves que nos governos provisórios a que presidiu e apesar das
dificuldades e obstáculos próprios destes processos transformadores,
decorrentes dos momentos contrarevolucionários nacionais e internacionais, foi
capaz de responder às necessidades mais prementes da população, combatendo e
identificando as injustiças sociais mais flagrantes provenientes do regime
fascista e assim lançando os alicerces para a construção de uma sociedade rumo
ao socialismo. Tal objectivo foi conseguido
mantendo a economia a funcionar, melhorando mesmo os indicadores
económicos como aliás foi reconhecido por uma delegação do FMI que à época
esteve em Portugal.
Viveu-se
um momento da nossa história no qual quem mais ordenou foi o povo, estando o
poder também com o povo.
No
entanto, um país nestas condições era inaceitável e perigoso para o capital
internacional que de imediato desencadeou uma enorme investida contra este
Portugal, fortemente apoiada pelas forças reaccionárias internas. Foram
adoptadas as orientações estratégicas do expoente máximo das actividades contra
revolucionárias, o embaixador Frank Carlucci.
O socialismo
foi então encaixotado, Cavaco silva e os seus discipulos tentaram enterrá-lo,
para finalmente José Sócrates, o entregar, já descaracterizado, ao presente
governo, que agradeceu, e diligentemente continuou a recuperar os grandes
grupos económicos.
Aumentou
o abismo entre os ricos e os pobres. Prolifera a corrupção, a ganância, o
compadrio e a insensibilidade social.
Uma
fúria destruidora e vingativa apoderou-se destes dirigentes para varrer as
conquistas da revolução, conseguidas com tantas lutas e sacrificios pelo nosso
povo, numa simbiose única entre forças revolucionárias consequentes e a
legislação criada que legitimava as suas acções.
Os
ideais de Abril têm vindo a ser combatidos por uma contrarevolução ultra
liberal de carácter profundamente anti-social. Anti social poruqe pretende
eliminar os mais velhos, expatriar os jovens e empobrecer todos os outros,
tentando até alterar o movimento da história, retirando o poder ao povo para o
entregar fragilizado, como instrumento de domínio do novo poder globalizado,
aqueles que melhor sabem gerir a exploração enfim querem transformar-nos num
povo de dispensáveis, multiplicando acções governativas que procura a
penalização e a agressão do universo do universo do trabalho.
Não
há respeito, nem confiança mútua entre o governo e o cidadão. O governo decide
e xecuta sem se preocupar com os reflexos que políticas não adequadas, irão ter
para o povo e quais os custos associados. Quanto mais lesivas são as medidas
tomadas para a grande maioria da população, maior é a reserva e o secretismo
que as acompanham.
Estes
procedimentos unilaterias, atentam contra o bem estar, cultura e tradições dos
portugueses, provocando angústia, vulnerabilidades e desespero, o que a prazo
trará para todo o povo consequências
imprevisíveis.
Assistimos a permanentes actos de injustiça, como o
apoio do Governo aqueles que no passado foram os responsáveis por esta
situação, a banca e o capital internacional.
Vende-se a retalho o património conquistado com o 25 de
Abril.
O medo de perder o posto de trabalho vai inibindo cada
vez mais os trabalhadores de se exporem às mais diversas formas de luta dentro
e fora das empresas, acredirabdo até por vezes, que nada se pode fazer, quando
pelo contrário tudo se conquista lutando para consolidar os seus legítimos
ideais.
A comunicação social procura muitas vezes estimular a
noção da inevitabilidade das medidas em curso, alimentando assim o pessimismo e
o conformismo.
A mensagem é que não há alternativa para a austeridade e
que as lutas populares são inúteis agravando até a crise.
Por outro lado a Coligação no poder continua a veicular
um cenário optimista ocultando pateticamente a dimensão da nossa dívida pública
que, a não ser reestruturada, mantendo-se as actuais condições do prazo de
pagamento e dos juros, as actuais medidas são insuficientes para o crescimento
da economia o que nos irá levar seguramente a pedir novos empréstimos e
consequentemente novos sacrifícios àqueles que já se encontram no limite da
sobrevivência e de uma forma de vida digna.
Temos a responsabilidade inalienável de ir ao encontro
daqueles que aspiram a ser felizes e livres deste sofrimento.
Devemos entender como é que passados 38 anos sobre a
Revolução do 25 de Abril, nos encontramos de novo oprimidos pela mesma classe
que aquela revolução parecia ter afastado. No acto comemorativo do 5 de Outubro
ouvimos do Presidente da República que é preciso “reinventar a República”…!
Nestes tempos de contra revolução é necessário agir.
Hoje a tarefa revolucionária é desenvolver o espírito da
luta. Não podemos baixar os braços, mas sim criar a confiança que nos empurrará
para os grandes combates.
Sozinhos, temos de reaprender o que em conjunto devemos
pôr em prática.
De nada servirão os nossos pensamentos íntimos, se não
forem utilizados pela força de um colectivo. Não haverá local onde os possamos
esconder.
Nada se pode fazer contra o espírito de liberdade que
resiste a todo o tipo de injustiças.
Contudo não devemos procurar rever-nos excessivamente
nas conquistas do passado. Há que dinamizar uma reflexão sobre o nosso futuro
estudando as transformações que vêm ocorrendo na sociedade e em toda a
humanidade. Temos de despertar a consciência para definir e construir o futuro.
Os tempos mudam e nós mudamos com eles? Nada de essencial muda verdadeiramente.
Relembremos José Saramago, quando da inauguração da
exposição “Portugal um ano de Revolução” – “Vejamos os soldados, os operários,
os camponeses, as gentes das cidades e dos campos, ouçamos nas gargantas
abertas os gritos da Revolução. Vejamos o trabalho e a construção de tudo.
Vejamos o ondular das bandeiras, os braços erguidos no ar, a força dos punhos,
o cântico das imagens sobre a memória dos sons gigantescos das grandes
caminhadas. É este o povo Português enfim recolhendo e frutificando a herança
de oito séculos. Agora são as nossas verdadeiras Descobertas: este ser enfim o
que tanto esperávamos – Portugal”.
Então qual a mudança? A vontade de um mundo diferente
permanece, os conceitos que norteiam o desejo humano que vai da solidariedade à
justiça prevalecem.
Olhemos Vasco Gonçalves empunhando agora cravos brancos
que reflectem a pureza dos seus ideais que não morreram mas se desvaneceram
numa neblina que não ofuscaram as planícies e montanhas vestidas de vermelho,
neblina essa que será dissipada pelo vento forte da determinação do povo
português.
Aquilo que se está a perder será recuperado noutros
moldes, porque justos e em novos tempos.
Vamos continuar a resistir, avançando, quando por vezes
o desistir parece fácil.
Para nós nunca haverá a desistência, o conformismo e o
abandono dos ideais progressistas, mas sim uma caminhada para um País Novo e um
mundo melhor.
VIVA O 25 DE ABRIL!
VIVA PORTUGAL!
21 Abril 2012