Tópicos para debate na reunião da presidência do CPPC apresentados por Baptista Alves

 

 

 

Reunião da Presidência do CPPC

(13 de Setembro de 2022)

Tópicos para o debate

 

Baptista Alves

(Presidente da Mesa da Assembleia da Paz e Presidente da Direcção da ACR)

 

A situação internacional é hoje caracterizada por uma mudança acelerada na geoestratégia planetária consequente do ressurgimento de outros polos de poder disputando a hegemonia dos EUA nos campos económico e militar.

Com o desmantelamento da União Soviética e o fim da Guerra Fria, os EUA levando a reboque os países europeus engajados na OTAN, então já sem adversário, lançaram-se numa desenfreada corrida expansionista no Leste Europeu, no Médio Oriente e em África, derrubando governos insubmissos, através de ingerências de todo o tipo ou mesmo de intervenções militares sangrentas (Na Jugoslávia, na Sérvia, na Líbia, no Iraque, no Afeganistão e na Síria). Fizeram-no com a complacência da grande maioria dos Estados membros da ONU, com ou sem mandato desta, apenas ancorados na sua supremacia militar incontestada. E mantêm hoje, na lista dos Estados alvos selecionados, a Rússia, a China e o Irão, identificados como não democráticos, desrespeitadores dos direitos humanos, com líderes perigosos autocratas (Cuba e Venezuela, também lá estão) e todos são portanto alvos privilegiados de sanções económicas.

A guerra psicológica desencadeada através dos meios de comunicação social, dominados, na quase totalidade, pelos grandes grupos económicos do planeta que suportam esta estratégia do império global, não tem paralelo na história da humanidade.

O Mundo de hoje, do século XXI da nossa Era, com todos os poderosos meios de informação que um alucinante progresso nos faculta, ficou completamente, ou quase, às escuras: dormiu tranquilo debaixo do ribombar dos  ataques  que  os media amestrados silenciavam afanosamente: cavando  autênticas valas comuns dos direitos humanos.

Como tudo nesta vida não dura sempre, assim aconteceu … e na Síria tudo começou a mudar.

A Síria não estava só! A Federação Ruça e a Síria tinham um tratado de defesa mútua e accionaram-no. E, o que parecia ser, à partida, uma passeata para os bombardeiros, tornou-se num arriscado jogo de medição de forças.

O Irão pôde respirar um pouco, o Afeganistão destroçado, viu fugir os ocupantes e caiu outra vez nas mãos dos talibans… e por aí adiante.

E, chegamos à Europa novamente em guerra, agora na Ucrânia.

Uma guerra que não começou agora, já vinha acontecendo desde 2014. Nós, os ditos ocidentais, é que só agora a vimos. Acordámos tarde… e estremunhados deixámo-nos engajar na ratoeira que o império arquitectou para o ataque final e submissão da Federação Russa e,… por tabela, chegar e submeter a China.

E, o que parece ser mais interessante, é que todos sabem que isto não vai ser possível, … dum lado e do outro do tabuleiro. Todos, a meu ver, estão a jogar na 2ª hipótese: Uma 2ª Guerra Fria. A corrida aos armamentos satisfaz a gula dos complexos industriais-militares e não só (Ou será que os investimentos americanos, na compra de terras na Ucrânia -um terço da área arável) não têm importância? E todos os outros já consolidados nos territórios dos países do leste europeu garantindo o controlo sobre matérias-primas essenciais?

Então, e a China? A China não aparenta estar interessada em nada disto, muito pelo contrário, afigura-se-me que os interesses chineses não o aconselham, mas que estão a ser empurrados para isto, parece ser um facto.

Não creio que esta 2ª hipótese tenha “pernas para andar”. Mais cedo do que se pensa, os interesses divergentes dos diferentes protagonistas de todos estes eventos irão ser postos no tabuleiro, sem rodeios, e são eles que vão decidir o caminho. E, os aparentes consensos actuais vão inexoravelmente desfazer-se. E, a vítima será, muito provavelmente, a União Europeia. E, eu interrogo-me se premeditadamente, ou não?

Da terceira hipótese, ninguém no seu perfeito juízo quer admitir sequer que possa vir a acontecer, mas é disso que a nós, lutadores pela Paz se nos impõe, em primeiro lugar, falar e alertar todo o Mundo para que jamais se volte a falar disso: um conflito generalizado com utilização de armas de destruição massiva (nucleares, biológicas ou químicas e outras com efeitos de destruição semelhantes).

Deixando de parte a aberrante situação para que nos deixamos arrastar - nós os portugueses que até temos bem claramente inscrito na CRP a nossa determinação em preconizar o desarmamento geral e simultâneo e o desmantelamento dos blocos político-militares – podemos intuir que o resultado deste conflito, já com características de pré-III Grande Guerra, não passará disso mesmo e poderá terminar a curto prazo com uma Conferência de Paz - aberta a todos os Estados do Mundo - donde saia uma nova ordem Mundial, baseada no respeito pela soberania dos Estados, ou melhor, suportada nos princípios  estabelecidos no Artigo 7º da nossa CRP de Abril.

É evidente para todos nós, que sou um optimista. Mas acreditem que desde há muito, tento acompanhar a evolução desta magna questão da Paz, e também desde há muito que suspeito que haverá mais hipóteses de chegar a esse objectivo, num Mundo multipolar (Este mesmo Mundo que já temos e que a cegueira congénita de alguns não os deixa ver).

Seremos, ou não, capazes de construir um novo Mundo, com regras assumidas por todos, onde nenhum Estado possa pensar que pode subjugar outro sem consequências, onde os blocos militares sejam desnecessários, onde o desarmamento geral universal e controlado seja um facto, onde seja finalmente possível viver em Paz e construir um Mundo melhor, mais fraterno e mais feliz?

Um Mundo que respeite os direitos dos povos, os direitos do Homem, os diretos das crianças e toda a panóplia de conquistas civilizacionais já consagradas na Carta das Nações Unidas e onde toda a imensa capacidade científica e técnica criada ao longo de séculos e toda a que havemos ainda de criar, seja colocada exclusiva e definitivamente ao serviço da vida.