A rapariga do 1 de Janeiro
Valdemar
Santos
Façamos uma retoma (este texto tem anos, em
abono da verdade, hoje com acertos), que do 15 a 19 de Abril a humanidade
progressista comemorou o 59º aniversário da derrota dos mercenários cubanos
que, a soldo dos Estados Unidos, desembarcaram na Playa Girón ou Baía dos
Porcos na primeira tentativa de derrubar o Governo e assassinar Fidel de
Castro. Bastou que na véspera Cuba tivesse declarado o carácter socialista da
sua opção política para que 1.297 exilados em Miami, antes comprometidos com a
ditadura de Fulgêncio Batista mas já há muitos meses treinados para o efeito,
cumprissem as ordens de Kennedy. Em menos de 72 horas foram aniquilados pelas
forças governamentais cubanas, e desde então intensificou-se a mais prolongada
e diversificada tentativa imperialista (incluindo o vergonhoso bloqueio) de
derrotar um povo que lutou pela sua soberania e, uma vez esta conquistada, a
defende com orgulho inquebrável. E festejando o 46º Aniversário da Revolução do
25 de Abril, vinquemos a propósito que os portugueses não esquecem que ela se deveu
antes de tudo à luta anti-fascista travada em Portugal, à luta dos povos das
ex-colónias e de todo o Mundo pela sua libertação e independência e à existência
de uma correlação de forças a nível mundial que permitiu que no mais ocidental
dos países da Europa capitalista caísse um regime ditatorial que a NATO - a
OTAN de Salazar - não se coibiu de acolher entre os seus fundadores, razão pela
qual nos associamos ainda com mais força às Comemorações do 61º aniversário da
Revolução Cubana, neste ano de 2020.
A
sabotagem, o terrorismo e a agressão contra a Ilha de José Marti financiados
pelos Estados Unidos da América conheceram um outro profundo golpe quando, em
1998, cinco patriotas oriundos de Cuba se infiltraram na rede
contra-revolucionária de Miami e recolheram irrecusáveis provas de planos que
atentavam contra o regime de Fidel de Castro e vidas humanas. Ao entregá-las ao
FBI, este instrumento ao serviço do grande capital e do imperialismo prendeu-os
- ou seja: prendeu os inocentes - e deixou à solta os criminosos, plenamente
identificados.
Todos participámos em acções múltiplas de
solidariedade pela sua libertação que foi totalmente, mas quase um a um, alcançada
enfim em 2014.
Por
estarmos no mês que prossegue Abril, contamos que uma jovem jornalista (Ana?) de
uma rádio local setubalense, num primeiro semestre da década de 90, e antes das
nove da manhã, confrontou-nos via telefónica: “Estamos em ligação directa a
Havana e até ouvimos muita agitação, os opositores estão na rua a saudar a
queda do regime de Fidel de Castro. Que tem a dizer?”
- “A confirmar-se, mantemos a nossa
solidariedade com a Revolução, com o povo que luta e com Fidel, que foi o que
deles recebemos durante o fascismo. Cuba vencerá!”.
Foi logo perceptível um riso descomprometido
de desculpa, e de que maneira não deixou de a pedir!: - “Hoje é o dia 1 de
Abril!!”
Para os radiouvintes também não havia
directo, ao contrário do que nos insinuara, mas foi peremptória: - “Eu sou igualmente
pelo 1 de Janeiro, descanse!”
É que os 61 anos acima citados começaram no
primeiro dia de 1959! Quem não acredita que a Ana vai dizer-nos (vamos
desfiá-la para um directo a sério, desta vez): “Eu sou igualmente pelo 1º de Janeiro
Gonçalvista, o do Centenário!?”