Intervenção de Manuel Begonha
Presidente da Associação Conquistas da Revolução
Com este espectáculo
de homenagem a José Carlos Ary dos Santos, a Associação Conquistas
da Revolução concretiza mais uma iniciativa do seu vasto programa
de comemorações do 40º aniversário de Abril.
Estas comemorações
tiveram início em Abril deste ano, com a Homenagem ao Comandante
Ramiro Correia, e prosseguirão durante todo o próximo ano, tendo
como momentos mais destacados a realização do Congresso Conquistas
da Revolução e a Homenagem àquele que é a referência primeira e
maior da nossa Associação - o General Vasco Gonçalves.
Comemorar Abril não
é, na nossa perspectiva, uma manifestação saudosista ou
passadista. Bem pelo contrário: pensamos que Abril está vivo na
memória e no coração do nosso povo e que, por isso, Abril é o
futuro.
Um futuro que tem as suas
raízes essenciais no notável processo revolucionário iniciado com
conquista da liberdade, no próprio dia 25 de Abril de 1974, e com o
histórico conjunto de conquistas sociais, económicas, políticas,
culturais, civilizacionais, nas semanas e meses que se seguiram ao
Dia da Liberdade.
Jamais esqueceremos – ou
deixaremos que se esqueça – que a Revolução de Abril, tendo a
aliança Povo/MFA como força motriz, constituiu o momento mais
avançado e progressista da nossa História colectiva.
Jamais esqueceremos – ou
deixaremos que se esqueça - que as Conquistas da Revolução
constituem guias essenciais para os caminhos do futuro – sempre, e
particularmente neste tempo difícil, em que, ao fim de trinta e
sete anos de devastadoras políticas de direita que conduziram
Portugal à dramática situação em que se encontra, a luta se nos
apresenta como o único caminho a seguir para derrotar essas
políticas e retomar os caminhos de Abril.
Esta homenagem a
José Carlos Ary dos Santos, inserida no nosso programa de
comemorações do 40º aniversário de Abril, quase dispensa
explicações.
Ele foi – ele é – o
Poeta da Revolução.
Na verdade, ninguém como
ele cantou Abril e as suas Conquistas; ninguém como ele acompanhou e
gravou em belíssimos poemas, os dias, as semanas, os meses do
processo revolucionário; ninguém como ele escreveu os versos
necessários em cada momento desse processo: incitando à luta e
semeando confiança quando os inimigos de Abril mostravam as garras;
glorificando os avanços e conquistas quando a força do movimento
operário e dos militares revolucionários se impunha às forças da
reacção e dava mais um passo na construção da democracia de
Abril; ninguém como ele escreveu, com um talento raro, e declamou,
com uma voz inconfundível, a poesia da Revolução.
Por tudo isso – e por
razões semelhantes às que lhe valeram ficar celebrizado como o
Poeta da Cidade de Lisboa – José Carlos Ary dos Santos ficará na
história da literatura, não apenas como um dos grandes poetas
portugueses, mas também como o Poeta da Revolução de Abril.
Registe-se, finalmente,
que a notável obra poética de José Carlos Ary dos Santos, atingiu
a sua expressão mais elevada com o poema As
Portas que Abril Abriu, escrito em 1975, onde
o Poeta nos conta a história da Revolução Portuguesa: as suas
origens, situadas na longa e corajosa resistência ao regime
fascista; o derrubamento, pelo heróico MFA, do governo de Marcelo
Caetano; a libertação dos presos políticos e a festa do povo nas
ruas, vivendo e conquistando a liberdade; o primeiro 1º de Maio, a
abrir o caminho para as Conquistas da Revolução…
É este belíssimo poema
que constitui a base do espectáculo com que hoje homenageamos José
Carlos Ary dos Santos, conscientes de que homenageando o Poeta da
Revolução, é Abril que estamos a homenagear. E é por Abril, pelos
seus ideais e pelos seus valores, que continuaremos a lutar.
A política de direita,
nos seus trinta e sete anos de acção devastadora, destruiu muito do
que Abril construiu, fechou muitas das portas que Abril abriu.
Mas estamos certos de que,
com a luta organizada das massas trabalhadoras e populares,
reabriremos essas portas que foram fechadas e construiremos um Abril
novo.