É PRECISO TRAVAR O NEOFASCISMO - Manuel Begonha | Presidente da Assembleia Geral

É PRECISO TRAVAR O NEOFASCISMO
Manuel Begonha | Presidente da Assembleia Geral


Steve Bannon, ideólogo de Trump e Bolsonaro, entre outros, concretizou bem a tarefa de relançar as raízes do ideário neofascista, não apenas nos EUA e América Latina, mas também na Europa, incluindo Portugal.
Diversos acontecimentos sociais, têm contribuído para a difusão desta ideologia de tão trágica memória.
Escreveu Prabhat Patnaik, " o neofascismo vem para evitar o colapso do neoliberalismo".
Com o capitalismo numa severa crise, vamos analisar os métodos que vêm sendo utilizados para tornar vulnerável a nossa sociedade.
A política neo fascista actual, vive da cultura do medo, ressentimento, fanatismo fundamentalista e de uma postura social, em que a distinção entre a verdade e a mentira, desemboca em realidades alternativas.
A cultura é menorizada e a normalização da ignorância programada, para destruir o espírito cívico, o conceito de cidadania, bem como a omissão ou o desvirtuamento da memória histórica.
O objectivo é mergulhar a nossa sociedade na subjugação, no unanimismo, na negação e no silenciamento dos oprimidos.
Conta com a violência, o ódio racial e de classe, a xenofobia e a progressiva redução da livre expressão de pensamento, isto é das instituições e práticas democráticas.
Neste contexto de mudança é precisa uma nova linguagem, para limitar a concentração das diversas formas de controlo e domínio da sociedade.
É necessário que os jovens se identifiquem com este novo combate e estejam aptos a reconhecer as questões abordadas e saber isolar as ficções que mantêm os sustentáculos da desigualdade.
É interessante ter presente que " a educação sempre foi fundamental para a política, mas raramente é entendida como um local de luta sobre como as identidades são moldadas, os valores são legitimados e o futuro definido " (1).

Assim a juventude deverá recorrer a pedagogias de resistência, políticas e culturais, recusando a apologia da guerra, da militarização e da masculinidade. 
Não deve deixar silenciar os hábitos sociais e criar uma cultura de desinformação e de ausência de crítica. 
Deverá ter bem a noção que o neofascismo hostiliza a cidadania universal e o apelo à igualdade e à dignidade. 
Mas na verdade e acima de tudo, o país necessita urgentemente de mudar, de mentalidade e de visão, de políticas governamentais e empresariais. 
Para não abrir brechas por onde se introduzam os vendedores de ilusões neofascistas, o governo deve preservar os movimentos associativos e populares, defender os direitos e garantias da classe trabalhadora, promover os serviços públicos como o SNS, a Educação e a sustentação do meio ambiente. 
Deverá ser firme no combate à pobreza e precaridade, aumentando os salários, situação que a não se concretizar, irá afectar a qualidade de vida do país, perder para a emigração os mais qualificados, empobrecendo-nos irreversívelmente. 

Compete portanto aos democratas e anti-fascistas e em especial aos mais jovens estar permanentemente atentos a todas as as tentativas de infiltração mais ou menos claras, desta ideologia aberrante e lutar sempre pelos direitos, liberdades e garantias como preconiza a Constituição da República e repudiar todas as formas de opressão e desvirtuamento duma sociedade que se quer mais justa, mais igual e mais fraterna. 

(1) Henry A. Girone - Política fascista na era do capitalismo neoliberal, confrontando a domesticação do inimaginável - Counterpunch, 11 de Abril 2023