No passado dia 14 de Setembro, o nosso presidente da Assembleia Geral, Manuel Begonha foi o convidado de honra e, nessa qualidade proferiu a intervenção que transcrevemos.
Exmos Representantes
- Câmara Municipal de Almada
- União de Freguesias de Laranjeiro/Feijó
e de Almada, Cova da Piedade, Pragal e Cacilhas
- Grupo Parlamentar do PS
- Grupo Parlamentar do PCP
- Chefe do Estado Maior da Armada
- Chefe do Estado Maior do Exército
- Chefe do Estado Maior da Força
Aérea
- e, demais Entidades Convidadas
Quero agradecer à Associação de Praças, na figura do seu
Presidente Luís Reis, o honroso convite que me fez para estar presente, nesta
relevante comemoração.
Estamos a comemorar o 83º Aniversário da Revolta do
Marinheiros de 8 de Setembro de 1936, Dia Nacional da Praça das Forças Armadas,
que foi a primeira levada a cabo por militares, desde que Salazar enveredara
por um regime fascista. Precisamente num período em que o fascismo português
demonstrava força e recolhia apoios a nível internacional.
Também se verificava que o salazarismo já cometia
atrocidades, sem que a nossa sociedade em geral se impressionasse demasiado,
nem lhe manifestasse uma hostilidade evidente.
Na base da revolta, esteve a pretensão de se fazer um
ultimato ao governo de Salazar, para exigir a satisfação de direitos, o fim das
perseguições e a libertação de presos políticos, numa conjuntura de oficiais
prepotentes, má qualidade de rancho, fardamento inadequado para o clima das
colónias e baixos salários.
A revolta fracassou, dela resultando a morte de 14 marinheiros,
centenas de presos e a expulsão da Marinha de elementos ligados às ideias
revolucionárias e democráticas.
Dos detidos, 34 foram dos primeiros presos enviados para o
campo de concentração do Tarrafal, onde muitos foram condenados a penas entre os
16 e os 20 anos de prisão política.
Quando um grupo de jovens toma a decisão de combater por algo
que os avilta, que afronta a sua dignidade e que fere a justiça, está a lutar
por aquilo que é mais belo e transformador, que é o fortalecimento do combate
pela liberdade.
Foram homens que decidiram forjar um destino próprio
diferente, tentando generosa e corrajosamente modificar a sua sorte pessoal,
mas talvez tenham sido, segundo Alberto Camus, daqueles que “sofreram a estranha amargura de ter tido
razão demasiado cedo”.
Contudo, o povo português nunca deixou de combater pela
liberdade, desde os operários, aos camponses, aos estudantes, aos
sindicalistas, aos intelectuais e aos militares.
A luta culminou no dia 25 de Abril de 1974, onde mais uma vez
os militares tiveram um papel determinante.
A divisa colocada nos navios da Marinha «A Pátria Honrai que a Pátria vos Contempla», está cada vez mais na
ordem do dia.
Tenho a certeza que as praças honrarão sempre a Pátria, mas
esta tem-nas por vezes contemplado de uma forma enviesada.
Em tempos recentes, não podemos omitir o tratamento
deplorável dado, em 1976, após o 25 de Novembro, às praças que na CDAP –
Comissão Dinamizadora do Associativismo das Praças, tão determinadamente se
envolveram na Revolução, numa luta por um futuro melhor. Estando, ainda, hoje,
aqui algumas praças que pertenceram à CDAP.
E é também por isso, que se torna preocupante, como parece
difícil aos nossos governantes entender, a complexidade e especificidade da
condição militar.
Este não é um cidadão comum, sendo por juramento um
combatente que está disposto a sacrificar a própria vida pela defesa da Pátria.
Não se entende que não lhe seja assegurado um atempado e
justo reconhecimento remuneratório, o apoio à saúde e segurança na família.
Não se explica a razão que levou os vencimentos dos militares
a sofrerem uma enorme desvalorização comparativamente a outras carreiras
anteriormente equiparadas.
É lamentável a falta de solução e o arrastar de questões como
o descongelamento das progressões no regime remuneratório e o acautelamento do
serviço de saúde militar.
Oxalá não se passe a aceitar como normal o ocorrido em
teatros de guerra fora do território nacional, como na República Centro
Africana.
As Associações representativas de militares, nomeadamente a
AOFA – Associação dos Oficiais das Forças Armadas, a ANS – Associação Nacional
de Sargentos e a AP –Associação de Praças, têm cumprido com dedicação e
competência, a defesa dos interesses dos militares, mas importa que sendo estes
não apolíticos, não deixem de ter em conta que a Constituição da República
Portuguesa, após sete revisões, continua a ser o garante da Democracia e o
baluarte para a defesa das Conquistas da Revolução que ainda restam. É uma Constituição que verte para si os direitos individuais consagrados na
Declaração Universal dos Direitos Humanos, que defende a Independência e a
Soberania nacionais e, que pôs fim ao Colonialismo. Apesar de todos os ataques,
mantém no actual texto direitos fundamentais que nos levam a lutar pela sua
defesa e a exigir o seu cumprimento.
Destes marinheiros, destes filhos do povo que hoje evocamos,
devemos ter presentes as batalhas, os desterros, as doenças e as mortes que
foram tragédias que acompanharam o seu destino.
Mas se os esquecemos, infelizmente um vício corrente na nossa
sociedade, estaremos a confirmar o pensamento do Padre António Vieira quando
dizia “Serviste a Pátria e ela vos foi
ingrata, vós fizestes o que devíeis, ela o que costuma”.
Se os não esquecermos, estaremos a honrar a memória destes
nossos camaradas.
Viva as Forças Armadas Portuguesas!
Viva
Portugal!