ISRAEL | Pedro Pezarat Correia

 

 



 

 

ISRAEL

Israel é uma fortaleza militar, pilar do poderio dos Estados Unidos da América (EUA) numa das áreas geoestratégicas mais sensíveis da Terra, a bacia do Mediterrâneo euro-afro-asiático.

Acresce que Israel é produto do processo de descolonização do Império Otomano, na sequência da Guerra Mundial 1914-1918 (IGM) que, maquiavelicamente, como sempre foi marca da política imperial britânica, Londres procurou gerir por forma a preservar os seus interesses. Por mandato da Sociedade das Nações (SDN) ao Reino Unido (RU) coubera, entre outros territórios, a administração da Palestina, onde coabitavam, pacificamente, comunidades cristã, judaica e muçulmana. Esta era largamente maioritária enquanto a judaica era apenas de cerca de 50.000 pessoas, distribuídas por vários colonatos, pela cidade portuária de Telavive e com significativa presença em Jerusalém, partilhada com cristãos e muçulmanos. Em 1919, o secretário de estado dos Negócios Estrangeiros britânico Arthur Balfour, pressionado pela influente comunidade judaica do RU, difunde a célebre Declaração Balfour prometendo aos judeus o “lar judaico na Palestina”. À maioria árabe, que não foi ouvida nem achada nesta decisão arbitrária da potência para-colonial, limitou-se a dizer “cheguem-se para lá que isto agora passa a ser terra judaica”. Foi neste contexto que, em 1948, depois da Segunda Guerra Mundial (IIGM), nasceu o estado de Israel.

Com ele nascia também o conflito na Palestina, com a sistemática perseguição e expulsão da comunidade árabe e atração de judeus para alterar a correlação demográfica das várias comunidades, com a progressiva e violenta expansão territorial de Israel à custa dos Estados vizinhos, com a transformação de Israel num Estado de regime de apartheid onde a maioria árabe foi forçada à emigração ou à sujeição a um estatuto discriminatório na sua própria terra. À Palestina, com um território privado de continuidade, com acesso aos recursos aquíferos vitais para uma comunidade maioritariamente camponesa controlado por Israel, com circulação nas estradas condicionada, com acessos ao exterior limitados, é negada a possibilidade de constituir um Estado. Entretanto Israel, a seu bel-prazer e com proteção armada face a uma autoridade palestiniana desarmada, vai construindo colonatos nas terras da Palestina potencialmente mais produtivas.

Toda esta política de Israel tem sido objeto de reiterada condenação da Organização das Nações Unidas (ONU). Israel é o Estado membro com maior número de resoluções da ONU por cumprir. Beneficiando de um estatuto de exceção e impunidade, não respeita nenhum acordo, mesmo aqueles que assinou. O Acordo de Oslo, concluído em 1993 que, apesar de leoninamente favorável a Israel, consagrava a solução dos dois Estados, selou-se pelo assassinato do primeiro-ministro Yitzhak Rabin por um israelita a mando nunca se apurou de quem. É hoje letra morta para os atuais dirigentes sionistas. Com a complacência dos dirigentes políticos ocidentais que patrocinaram aquele acordo.

Quando, depois da vitória na IIGM, os EUA se substituíram ao RU como potência marítima global, assumiram por inteiro o patronato de Israel como a fortaleza garante do seu domínio imperial no Médio Oriente. Pelo valor posicional geoestratégico no cruzamento dos eixos norte-sul e leste oeste, pelo controlo regional dos recursos energéticos, como agente perturbador numa zona civilizacionalmente muito instável, Israel é uma praça fundamental de Washington na sua ambição de preservar um estatuto que, na realidade, já não detém, o de líder de um sistema mundial unipolar.

Por isso chegou ao ponto de, violando todos os acordos, nomeadamente o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, dotar Israel de armas nucleares. Mas clandestina, porque não se assume como tal. Daqui a inqualificável hipocrisia com que vemos Israel, com o apoio do ocidente alargado, proclamar que o Irão nunca poderá dotar-se de armas nucleares. Israel é o último Estado com legitimidade para esta exigência. O certo é que, fazendo-o, está à beira de lançar o mundo numa terceira guerra mundial que, a acontecer, atingirá o paroxismo de um conflito com armas nucleares. Ninguém quer ver o óbvio: a desnuclearização do Médio Oriente não passa pelo impedimento do Irão à arma nuclear, passa, isso sim, pelo desarmamento nuclear de Israel. Então, sim, será legítimo impedir que o Irão atinja esse patamar.

Como a hipocrisia não tem limites, Israel, o Estado mais agressivo e desestabilizador em todo o Médio Oriente tem, no dizer das cabeças iluminadas que nos governam, o direito a defender-se. Direito que é negado aos palestinianos, há décadas sujeitos à permanente pressão agressiva de Israel, que atualmente se traduz no genocídio cruel, racional, a frio, de um povo, ao qual o mundo assiste passivamente.

Deixo aqui uma profecia para o futuro, a que já não assistirei: a paz na Palestina já não passa pelos dois Estados. Israel tornou essa solução uma miragem. A solução passará por um só Estado, a Palestina, laico, onde conviverão todos, cristãos, judeus, muçulmanos, ao qual regressarão os milhões de palestinianos que a perseguição sionista obrigou ao exílio

Nós, europeus, todos, temos pesos nas consciências pelas perseguições a que, durante séculos, condenámos os judeus. Que atingiu as raias do inimaginável na Alemanha nazi e nos países por ela ocupados. Agora estamos a procurar sanar as nossas culpas e aliviar as nossas consciências, solidarizando-nos com os judeus à custa dos palestinianos. Só que não foram os palestinianos os agentes das perseguições seculares aos judeus. FOMOS NÓS.

16 de junho de 2025