APRESENTAÇÃO DO MONUMENTO DE HOMENAGEM AO GENERAL VASCO GONÇALVES
Manuel Begonha, Presidente da Mesa da Assembleia Geral | 05 de outubro de 2023 na Voz do Operário em Lisboa
Aproxima-se o 50.º aniversário da comemoração do 25 de Abril.
Este dia ficará para a história, devido aos jovens militares que através de um golpe de estado, derrubaram Marcelo Caetano e puseram fim a 48 anos de ditadura.
Ocorreram muitos actos heróicos e podemos considerar como símbolo Salgueiro Maia.
Ao contrário do que muitos querem fazer crer, o 25 de Abril não se esgotou neste glorioso dia, porque as grandes transformações sociais e políticas que a este se sucederam, permitiram concretizar o Programa delineado pelo MFA, a partir da unidade que se verificou entre o povo e o MFA e assim começar a construir a revolução, liderada pelo General Vasco Gonçalves e mãe de uma das mais belas Constituições do mundo.
A nossa.
Foi um período fecundo em que o povo trabalhador demonstrou a sua criatividade e convicção na luta e o movimento operário teve um papel determinante, no controlo público das empresas estratégicas no desenvolvimento da economia.
Estamos aqui hoje porque queremos lembrar que a Revolução ficou em grande parte a dever-se aos 4 governos provisórios presididos pelo General Vasco Gonçalves.
Por vezes acontece ao longo da história que na época certa determinados homens, devido ao seu elevado sentido ético e moral, conseguiram levar consigo os povos a partilharem com eles, o próprio destino.
Vasco Gonçalves, conseguia através da palavra e do gesto, da entoação e da postura, ganhar a confiança do povo e a sua força, encarnando um ideal pelo qual se anseia e que se acredita poder alcançar através dele.
Dentro desta perspectiva, comprometeu-se a libertar-nos dos dolorosos grilhões da pobreza, da privação e de todas as formas de discriminação.
No entanto, teve de conciliar a sua condição de "engenheiro, amante da música, da matemática e da literatura, competente técnico e militar exigente, respeitador da disciplina e da ordem" com vendavais de opiniões, desencontros, traições e tibiezas, próprias de um período revolucionário.
Como sabemos e deu bastas provas disso, era um homem para quem a lealdade e a verdade eram inseparáveis sem que tal implicasse fraqueza ou ingenuidade.
Como afirmou em Almada :" O socialismo que queremos, consiste também na possibilidade de cada cidadão ser um homem de lisura, um homem limpo, um homem íntegro, um homem transparente".
Nós que o conhecemos bem, podemos com segurança afirmar que estas palavras espelham a sua verdadeira personalidade.
Sabia naturalmente liderar sem qualquer tipo de autoritarismo, recorrendo ao exemplo para transmitir as suas directivas, sabendo que estar no topo é também não esquecer as bases.
Também foi obrigado a confrontar-se com a evidência que as más decisões, ou as falsas intenções, têm de ser eliminadas através de acções enérgicas, consequentes e decididas, porque desde cedo se apercebeu que na política a rectidão e a grandeza de carácter, não se impõem por si só ao embuste e à hipocrisia.
Depressa entendeu que a sua luta pelo socialismo estava a ser barrada, especialmente quando a contra - revolução começou a aprender com a revolução.
Vasco Gonçalves era um homem frontal e não era apreciador dos conceitos e estratagemas políticos contidos no Príncipe de Maquiavel e talvez por isso tenha sido acusado de idealismo irreal ou de radicalismo perigoso.
No entanto, no meio deste turbilhão a revolução ia consolidando as suas conquistas, abrindo caminhos que se revelaram de importância não apenas nacional, pois foram um modelo para apontar as vias do futuro.
As permanentes tentativas de desgaste, foram penosas para o General, bem como as ameaças pelas armas, feriam as suas convicções, porque entendia que quem pega em armas, irá perecer perante as armas.
Tornou-se também evidente que o General não ambicionava o poder, mas foi firme na defesa da revolução, dizendo :" Ninguém está agarrado ao poder, mas todos estamos ligados a uma revolução que não queremos ver recuar e muito menos perder" e noutra ocasião :"O MFA só fixa um objectivo : lançar os fundamentos para que o povo português possa escolher livremente as instituições pelas quais se quer reger.
Depois, recolherão aos quartéis para defender as conquistas democráticas."
Passados todos estes anos e face à implacável ofensiva que se tem agravado, para destruir as conquistas da revolução e a democracia de Abril, o pensamento e a obra de Vasco Gonçalves que não se podem aprisionar, continuarão a ser estudados, visto serem um poderoso instrumento de transformação social.
E é por isto que os seus numerosos inimigos tentam a apropriação e o silenciamento das suas ideias, constituindo o respectivo combate, um dos objectivos da nossa associação.
Não tenho dúvidas de que no futuro Portugal chegará à conclusão que este Homem estava certo, sendo aqueles que o derrubaram que a história julgará como verdadeiros criminosos.
Não deveremos na nossa luta esquecer que quem aceita uma decisão injusta sem agir, colabora com ela.
A Pátria deve reconhecer aqueles a quem muito deve.
Assim sendo e para resgatar o apagamento a que pretendem remeter Vasco Gonçalves, se torne imperioso imprimir no imaginário do povo, um símbolo físico, um monumento que será esse veículo, concebido por Siza Vieira porque o passado nem sempre está desperto no coração dos homens.
Portanto, assumimos o compromisso de levar a cabo uma obra prometida inacabada, pois não deixaremos que a frustração seja um modo de encarar a vida e que situações que parecem incontestáveis se transformem em simples quimeras.
Para concretizar a nossa tarefa, devemos ser dignos de Vasco Gonçalves que afirmava :
" Nós temos que ser a geração dos homens que se sacrificam".
E é por isso que aqui estamos firmes, hoje.
Viva Vasco Gonçalves !!
Viva Portugal !!