O MUNDO TRANSFORMA-SE | Manuel Begonha | Presidente da Assembleia Geral

 

O MUNDO TRANSFORMA-SE
Manuel Begonha | Presidente da Assembleia Geral

 

Enquanto que a nossa comunicação social vai massacrando a opinião pública com a queda do avião em que seguiriam os principais responsáveis do grupo Wagner, acontecimento inequivocamente relevante, convém trazer á colação, o golpe militar recentemente ocorrido no Níger, causador de um muito menor frenesim informativo, que poderá afectar significativamente a exploração colonial de matérias primas pela França e outras empresas multinacionais.
Esta ocorrência, é muito significativa para a luta em curso em África pelo predomínio político, uma vez que o poder revolucionário agora instalado é pro-russo.
Face à ameaça francesa de invasão do país ,secundada pelos EUA, para repor o Presidente deposto, recorrendo a mercenários jiadistas, admitia-se a deslocação para o Níger do grupo Wagner, para ajudar a defender a nascente revolução, motivo pelo qual seria prudente aos nossos comentadores deixar assentar o pó e não enveredar pela via das especulações precipitadas.
Mas outro acontecimento de enorme importância e também silenciado, é a adesão de novos países aos BRICS, anunciada pelo Presidente Cyril Ramaphosa, na sequência da cimeira em Joanesburgo, África do Sul e na qual o Presidente Lula, teve uma intervenção de carácter internacionalista, notável.
São eles a Argentina, Irão, Arábia Saudita, Emiratos Árabes Unidos, Egito e Etiópia.
A entrada simultânea do Irão e da Arábia Saudita que têm sido antagonistas na disputa pela liderança no Médio Oriente é surpreendente.
Este reforço dos BRICS, abre uma nova frente de confronto entre os eixos Eurasia e Atlântico, conduzidos respectivamente pela Rússia e China e pelos EUA..
Entretanto a Argentina amplia a importância da América Latina, no contexto de guerra fria global em vivemos.
A criação de uma moeda comum, com exclusão do dólar, como uma nova forma de pagamento e autonomia, entre os seus integrantes, constitui um objectivo complexo e apenas concretizável a médio prazo.
Segundo o jornal Financial Times, " a Arábia Saudita e os Emiratos Árabes Unidos (EAU), apresentam-se hoje como os dois maiores exportadores de petróleo e dispostos a contribuir para retirar a hegemonia aos EUA".
O Sheik Mohamed bin Bayed Al Nahyan dos EAU, tem garantido que o seu Estado se torne uma potência militar.
Por seu lado, o primeiro ministro Saudita Mohammed bin Salman, tem investido enormes quantias no desenvolvimento do país.
Ambos se mostraram dispostos, a não seguirem as doutrinas norte-americanas e a não dependerem de compromissos com estes.
A nova ordem mundial que se encontra em formação e que apoiam, por verem oportunidade para novas iniciativas, conforme informação de Emile Hokayen, director da segurança nacional no Instituto Internacional para Estudos Estratégicos.
Em Junho, o ministro do investimento da Arábia Saudita, Khalid Al Falih, elogiou a aliança sino - árabe, sugerindo que Riad se tornou "uma ponte que liga o mundo árabe à China, tendo anunciado o lançamento de uma Rota da Seda moderna entre a China e os países árabes."
Outros países aguardam a formalização do pedido do seu ingresso na Organização que se passará a designar por BRICS PLUS.
Se a harmonização dos interesses de um conjunto de países tão importantes for bem sucedida, poderá constituir uma extraordinária alteração no mundo actual.