A “colónia” do Afeganistão e a sua “guerra de libertação”

 

Marques Pinto
Vogal da Direcção

 

Muito se tem escrito sobre a guerra de agressão dos EUA ao povo do Afeganistão -realmente deve-se chamar de Republica Islâmica do Afeganistão -  na sua longa duração de quase 20 anos o que a torna na mais duradoura de todas as guerras e/ou conflitos armados iniciadas pelos Estados Unidos desde a sua criação ou mesmo quaisquer dos conflitos internos como a sua luta contra a Inglaterra para obtenção da Independência ou a guerra civil entre os esclavagistas e os abolicionistas.

Se considerarmos que até a sua longa intervenção no Vietname após a pseudo-ajuda aos Franceses até 1954 e ao seu fim em 1975 com a sua precipitada -para não dizer vergonhosa -  fuga e abandono dos muitos “colaboradores” a quem a saída dos “protectores” criou alguns anos de tensões entre a população do Sul  - Antiga Saigão e hoje denominada Cidade de Ho-Chi-Min – e os elementos do Exercito do Vietname cuja capital era (e se mantem) em Hanói, verificamos que esse prolongado e terrível episódio de ingerência armada foi menos duradoura que a intervenção no Afeganistão

Não podemos esquecer que desde a entrada das tropas soviéticas em 1979, embora a pedido dum governo que já pouco mais controlava que um terço do território do Afeganistão, a “ajuda militar” dos EUA se manifestou com o apoio em armamento e equipamento militar desde as comunicações mais sofisticadas ao fornecimento de misseis ligeiros terra-terra e terra-ar, que os talibans tão bem souberam usar que interditavam grande parte do seu território á entrada das tropas governamentais e dos seus aliados soviéticos que tiveram de abandonar o país e saíram em 1992.

Muita gente continua a ignorar os fortes motivos que levaram os decisores políticos e militares Americanos a apoiar uma “guerrilha” num tão distante país como o Afeganistão a lutar contra o seu governo só porque este era de índole socialista e pró-comunista. Na realidade esses guerrilheiros eram há muito tempo em grande parte os habitantes do Norte e das chamadas terras altas do Afeganistão onde se produzia a melhor e mais pura heroína e que depois do abandono do Vietname e subsequente perda do controle sobre os “produtores” e fornecedores do Laos, se tornaram nos principais fornecedores do mundo Ocidental -EUA incluídos - e dos grupos de traficantes que alimentam há muitos anos os “cofres secretos” da CIA. (1)

Dizem alguns estudiosos das actividades secretas da CIA que esses valores obtidos pelo controlo e ajuda dos traficantes de droga superam o próprio orçamento oficial da Agência Governamental Americana, (2) mas que é absolutamente necessário e imprescindível para “suportar” as redes de apoio que a Agência possui em todo mundo -quer sejam países “amigos” ou não.

Na realidade o presidente Trump que pretendia mostrar em 2016 que seria um pacifista, quando prometeu a retirada das tropas Americanas  de alguns “atoleiros” viu muito maior oposição na retirada de tropas do Afeganistão do que em fazer sair uns poucos milhares do Iraque e para cumulo quando já em meados de 2020 e em pré-campanha deu ordem para a saída de algumas tropas do Afeganistão viu-se confrontado com uma votação no Senado que primeiro suspendeu e depois anulou a própria ordem de redução e saída de tropas Americanas do Afeganistão emitida pelo Presidente – The President Bill – o que revela o real poder do complexo financeiro e militar nos Estados Unidos da América.

Claro que poderemos estar certos de que com Biden a situação se manterá de acordo com os altos interesses que nos EUA controlaram, controlam e controlarão o “grupo de interesses” que gere a Casa Branca e a sua política e não podemos esquecer que Biden foi durante o governo de Obama um sempre fiel e obediente agente  desses grupos, sempre e quando necessitavam de travar Obama, ou quando pretendiam que ele apoiasse ou ordenasse intervenções agressivas como na Líbia.

São os mesmos que agora tanto o ajudaram política e financeiramente na batalha anti-Trump (e não anti Partido Republicano) para quem Biden será sempre um fiel amigo ás ordens.

 Por outro lado dada a sua situação física e mental - tanto quanto vão surgindo em algumas notícias - é bem possível que a médio prazo os EUA venham a ter uma figura feminina na Presidência.

 

Nota (1) – Para quem tenha algum interesse neste assunto sobre o qual há diversas publicações eu particularmente recomendaria de Alfred Mc Coy, o livro “The politics of Heroin in Southeast Asia”

 

Nota (2) – Sendo quase impossível confirmar os valores orçamentados realmente para este tipo de Agencias e Departamentos de Informação e Segurança  - que só nos Estados Unidos dizem ultrapassar as 23 organizações oficialmente reconhecidas e mais de 100.000 funcionários, aponto um valor lido num documento departamental dos EUA que indica 28 mil milhões de USD para os cerca de 22.000 “funcionários”  oficialmente registados como “trabalhadores” na CIA.