Realizou-se no sábado, dia 18 de Junho, na Casa do Alentejo, em Lisboa, a Assembleia Constitutiva da Associação Conquistas da Revolução, que contou com a presença de 147 aderentes – militares e civis, para os quais a Revolução de Abril e as suas conquistas constituem referências primordiais. A Assembleia foi presidida pelo Comandante Manuel Begonha.
Após ter sido relembrado todo o processo que culminou com a realização da Assembleia Constitutiva, bem como as razões que estiveram na origem da designação escolhida para a Associação, os participantes discutiram e aprovaram, por unanimidade, os Estatutos – nos quais o General Vasco Gonçalves, cujo pensamento, a obra e o exemplo constituem motivos inspiradores da Associação Conquistas da Revolução, é considerado «sócio de mérito, a título póstumo».
Também por unanimidade, foi eleita a Comissão Instaladora da Associação – tendo ficado marcada para Outubro a Assembleia-Geral que elegerá os Corpos Sociais da Associação Conquistas da Revolução.
Comissão Instaladora da Associação Conquistas da Revolução
António Vieira Nunes António Modesto Fernandes Navarro Henrique Arantes Lopes de Mendonça João Proença Joaquim Varino da Ponte José António Garcia Capucho José Domingos Gomes Coutinho José Élio Sucena José Emílio da Silva José Manuel da Costa Baptista Alves José Nogueira da Silva Casanova Manuel António Duran dos Santos Clemente Manuel Gastão Nunes Bacelar Begonha Maria Beatriz Ladeiras da Silva Nunes Nuno Miguel Batista Lopes Valdemar Lopes dos Santos Vitor Eugénio Rodrigues Lambert Pereira
Em nome da Associação “Conquistas da Revolução” quero saudar-vos e agradecer a vossa presença. Estamos aqui para evocar o General Vasco Gonçalves no 6º aniversário da sua morte. Acontece por vezes na História estarem determinados homens na época certa para com o seu elevado sentido ético e moral, levar consigo os povos a partilharem com ele o próprio destino. Irradiava do General Vasco Gonçalves um dom pouco vulgar que se designa por carisma, que através da palavra e do gesto, da entoação e da postura, actua de tal modo sobre as pessoas que as faz crer, ganhar confiança e força, encarnando algo por que aquelas anseiam e que acreditam poder alcançar através dele. Apenas com a palavra foi capaz de derrubar as cortinas do desespero, fazendo sentir a luz da esperança. A esperança é um dos factores mais mobilizadores numa sociedade desagregada e culturalmente deficiente e que no entanto Vasco Gonçalves interpretando bem o momento em que vivia afirmou: ”sabemos muito bem que os homens são capazes de viver para além do mínimo de subsistência, por ideais”. Dentro desta perspectiva, comprometeu-se a libertar o nosso povo dos persistentes grilhões da pobreza, da privação, da dor e de todas as formas de descriminação. No entanto, terá de conciliar a sua condição de “engenheiro, amante de música, de matemática e da literatura, competente técnico e militar exigente, respeitador da disciplina e da ordem”, com vendavais de opiniões, iniciativas, desencontros e decepções próprias de um período revolucionário. Para ele a política, a moral e a ética eram inseparáveis sem que tal implicasse fraqueza ou ingenuidade. Como afirmou em Almada: “O socialismo que queremos consiste também na possibilidade de cada cidadão ser um homem de lisura, um homem limpo, um homem íntegro, um homem transparente”. Podemos com segurança assegurar que estas palavras espelham a sua própria personalidade. A sua liderança não implicava qualquer tipo de autoritarismo, sendo antes através do exemplo que transmitia as suas directivas, como um líder no topo que nunca esquecia a base. Respeitava as outras pessoas pelas suas opiniões mesmo que não concordasse com elas, ou se quisermos era capaz de discordar respeitando ao mesmo tempo a pessoa. Apreciei muito o seu convívio pois era para os mais novos tolerante e atento. Confrontou-se com a evidência de que poucos reconhecem que a injustiça tem que ser eliminada através de acções enérgicas, consequentes e decididas. Vasco Gonçalves viu-se enredado numa teia de contradições próprias dos processos revolucionários, desde cedo se apercebendo que na política a rectidão e lisura de carácter não se impõem ao embuste, à hipocrisia e à traição. Conhecendo a frase de Proudhom: “Quem faz meia revolução cava a própria sepultura”, de imediato verificou que a sua luta pelo socialismo estava a ser barrada, obviamente quando a contra-revolução começou a aprender com a revolução, mas o seu carácter levava-o a proceder contra a repressão e a violência sem se socorrer da violência e da repressão. Não deixou, no entanto de ser acusado de idealismo irreal ou de radicalismo perigoso, sendo um homem que não apreciava os conceitos e os estratagemas políticos contidos no Príncipe de Maquiavel. No meio deste turbilhão a revolução ia consolidando as suas conquistas, criando novos rumos que Vasco Gonçalves impulsionou e que se revelaram de importância nacional e internacional pois apontavam os caminhos do futuro. Estas conquistas e a sua e a sua consequente diluição muito custaram ao General, pois foram muitas vezes ameaçadas pelas armas, quando ele pensava “que as armas que protegiam a revolução não a tornavam invencível, porque quem pegar em armas irá perecer perante as armas”. Devo também recordar que o General não tinha ambição de poder; foi firme na defesa da revolução ao dizer: “Ninguém está agarrado ao poder, mas todos estamos ligados a uma revolução que não queremos ver recuar e muito menos perder” e noutra ocasião: “O MFA só fixa um objectivo: lançar os fundamentos para que o povo português possa escolher livremente as instituições por que se quer reger. Depois recolherão aos quartéis para defender as conquistas democráticas”. Para além das preocupações com as conquistas sociais, uma vez que era prioritário caminhar para o socialismo com os trabalhadores integrados na vanguarda do processo, apoiou com entusiasmo a cultura nas suas múltiplas facetas, sendo de notar o interesse com que acompanhou as Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica, idealizadas por Ramiro Correia cujo funeral também neste cemitério, constituiu um acontecimento muito emotivo. Passados todos estes anos e face à implacável ofensiva, que se tem agravado, para destruir as conquistas da revolução e a democracia de Abril, o pensamento e a obra do General que não se podem aprisionar, continuarão a ser estudados, visto serem um poderoso instrumento de transformação social. Os seus numerosos inimigos tentam a apropriação e o silenciamento das suas ideias, constituindo o respectivo combate um dos objectivos da nossa Associação. Não tenho dúvidas de que Portugal no futuro chegará à conclusão de que este Homem estava certo, sendo aqueles que o derrubaram que deveriam ter sido julgados como verdadeiros criminosos. Não deveremos na nossa luta esquecer que quem aceita um sistema injusto sem agir, colabora com ele. Devemos ser dignos de Vasco Gonçalves que perseguiu sempre o ideal de uma sociedade democrática e livre na qual todas as pessoas vivam em comunidade, pacificamente e com igualdade de oportunidades. “Nós temos que ser a geração dos homens que se sacrificam”, declarou. Gostaria agora de pôr as seguintes questões, acera do sucedido nos 14 meses de Governo de Vasco Gonçalves: • Em que outra época em Portugal se viveu com a Poesia na rua? • Em volta deste impulso transformador, quem ergueu com as mãos abertas as aspirações e esperanças de um Povo? • Quem fixou para a História momentos que se tornaram irrepetíveis? Não devemos ter dúvidas que estando a memória viva é tempo de encontrar e firmar a verdade, é tempo de escrever páginas da nossa História contemporânea sem omissões e distorções, com registos, factos e palavras certas. Termino dizendo como Brecht em nome do General Vasco Gonçalves Não preciso de pedra tumular, porem Se vós precisais de uma para mim Desejaria que se lesse nela: Este fez propostas. Nós Aceitámo-las Com tal inscrição ficaríamos Todos nós honrados